segunda-feira, 4 de julho de 2016

SALVE OS NOSSOS IMIGRANTES!!!








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SALVE OS NOSSOS IMIGRANTES!!!

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com


Dia 25 de junho é dia do Imigrante. Para o pedaço de terra onde nasceu, cresceu e amadureceu nossa cidade veio muita gente, de etnia diversas. Mas o número maior de imigrantes que aqui chegou teve procedência dos Açores, arquipélago transcontinental e território autônomo da República Portuguesa. Dos Açores fazem parte as seguintes ilhas: Corvo, Flores, Faial, Graciosa, Pico, São Jorge, Terceira, Santa Maria e São Miguel. O arquipélago foi povoado por descendentes de portugueses, espanhois e flamengos (Flandres e Bélgica).

De acordo com estudos feitos por um genealogista, não foi encontrada nenhuma cidade que tenha tantas raízes açorianas como Conselheiro Lafaiete. É bom conhecermos um pouco sobre esse nosso berço territorial que nos trouxe muita gente no século XVIII. Os açorianos saíram de sua ilha, vieram para o Rio de Janeiro, sendo de lá enviados várias casais deles para a Colônia de Sacramento, às margens do Rio da Prata. Quando tiveram que abandonar a Colônia, foram para o Rio Grande do Sul. Durante o rush do ouro migraram para o Campo Alegre dos Carijós e estabeleceram as primeiras fazendas de nossa terra. E parece que essa imigração trouxe um traço muito forte para nossa identidade como povo. Vejam só qual é o lema da Região Autônoma dos Açores: “Antes morrer livres que em paz sujeitos”. Não parece o espírito da Inconfidência Mineira e dos Liberais do Movimento de 1842?

Dentre os açorianos que aqui aportaram, parece que o número maior veio da ilha de Faial, um lugar lindo, também chamada de Ilha Azul. E grande parte dos habitantes dessa ilha antepassados dos lafaietenses veio de Cedros, assim chamada pela enorme quantidade de cedros-do-mato, de odor característico e ricos de óleos essenciais. Muitos olhos azuis de gente daqui vêm dos descendentes dos flamengos holandeses que, quando estavam voltando das Cruzadas, atenderam ao convite de Dom Afonso Henrique, fundador de Portugal, para povoar aquele lugar. Dão-lhe um encanto especial as hortênsias, as camélias e as azáleas, flores tão queridas pelo nosso povo, e que lá são usadas para cercar os caminhos (lindos bordados, de um lado e do outro, por hortênsias azuis) e dividir propriedades.

Alguns dos sobrenomes que nos vieram da Ilha do Faial: Garcia, Cardoso, Gomes, Nunes, Goulart (são os descentes dos flamengos), Duarte, Alves. Gonçalves, Correia, Furtado, Pereira, Rodrigues, Fernandes, Freitas, Mendonça, Medeiros, Esteves e Costas. É claro que, com esses sobrenomes, pode haver portugueses vindos de outros lugares, mas um grande número veio de Cedros.

Salve os nossos Imigrantes Açorianos!!!

Como eles, também amamos a Liberdade e, se for necessário, lutamos por ela, assim como expressa a frase latina:
“Ense petit placidam sub libertate quietem”. (Pela espada buscamos paz, mas paz apenas sob liberdade)

Publicado no "Correio da Cidade" no final de junho de 2015.


REVERENCIANDO O PASSADO








Acervo Pessoal


REVERENCIANDO O PASSADO

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com



No último dia 25 de junho houve uma Sessão Solene na Câmara Municipal de Conselheiro Lafaiete a qual, juntamente com o Projeto Memória Viva de Queluz, com o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e com o Arquivo do Conhecimento Cláudio Manuel da Costa, comemorou o ato de adesão e reconhecimento da Câmara de Queluz, no dia 14 de junho de 1842, ao Movimento Liberal de 1842.

Assinaram essa adesão os seguintes vereadores da época: Joaquim Rodrigues Pereira, Joaquim Ferreira da Silva, Gonçalo Ferreira da Fonseca, Joaquim Albino de Almeida e Felisberto Nemésio Nery de Pádua.

Foi focalizado especialmente, nesse evento, o estrategista Marciano Pereira Brandão por sua brilhante atuação no desenrolar da situação bélica.

Conta o livro do CÕNEGO MARINHO, que participara do conflito, que o capitão MARCIANO BRANDÃO “aderiu cordialmente ao Movimento e que, com lealdade e zelo, serviu até o último instante”. Estando Queluz sob o domínio dos Legalistas, e parecendo a situação impossível de reverter para um resultado positivo que premiasse os liberais, o CAPITÃO MARCIANO deu o seu parecer sobre a situação dizendo que poderia tomar a vila de Queluz. Assim relata o Cônego Marinho:

“Propôs ele, então, que se lhe confiassem duzentos homens (talvez tenham tido dúvida sobre a eficiência do plano porque lhe confiaram apenas 150), com os quais iria, naquela mesma noite, sem que o pressentissem os Legalistas, ocupar as estradas de Ouro Preto, Congonhas e Suaçuí; que no dia seguinte (25 [de julho]) fosse uma das colunas acampar defronte a Vila, na Estrada do Rio de Janeiro, e outra na de Itaverava, as quais deviam ir sucessivamente apertando o cerco até que os Legalistas se concentrassem todos na povoação, caso em que lhes seriam tomadas as fontes e eles, obrigados pela sede, entregar-se-iam à discrição).”

Assim foi feito. Marciano Pereira Brandão, excelente estrategista, com sua proposta, levou os liberais à vitória. Aliás, Queluz foi o único lugar em que as tropas Legalistas foram vencidas, para se ver a importância do fato. Ao amanhecer do dia 26 de julho (data que deve ser sempre comemorada em nossa cidade), a tropa legalista, com lenços brancos na ponta das baionetas, entregou-se.

Foi assim que Marciano Pereira Brandão inscreveu seu nome nas páginas da História de Minas Gerais. Duvidaram do sucesso de seu plano porque a cidade de Queluz dominada pelos legalistas parecia impossível de se tomar. Porém o queluziano da localidade de São Gonçalo foi valente, teve confiança em sua estratégia e ousou. Alcançou a vitória pois uma deliberação arriscada, porém firme, bem refletida e executada, tem grande probabilidade de ter êxito.

Como disse Virgílio, poeta da antiga Roma (Eneida, X, 284):
Audentes fortuna iuvat. (Aos ousados sorri a fortuna)


Publicado no "Correio da Cidade" em princípio de julho de 2015.

UM GRANDE CIENTISTA LAFAIETENSE







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UM GRANDE CIENTISTA LAFAIETENSE

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

A mídia tem chamado muito a atenção sobre o Dia Mundial da Tireóide,  comemorado no dia 25 de maio, desenvolvendo-se, na semana em que ocorre a data, ações de sensibilização e esclarecimentos sobre os problemas de saúde decorrentes de mau funcionamento desse órgão, os meios de prevenção e o tratamento das moléstias em que ele se envolve. Cerca de trezentos milhões de indivíduos em todo o mundo têm disfunções tireoidiana.

Há um provérbio chinês que diz: “Mais vale salvar uma vida humana do que construir um pagode de sete andares”. É o que fazem os médicos procurando a cura das doenças. Um médico lafaietense dedicou-se, de maneira especial, ao problema da disfunção da tireoide: Dr. Álvaro Lobo Leite Pereira, que desenvolveu importante trabalho científico sobre o bócio endêmico.

Nos primeiros anos da década de 40, quando eu cursava o primário no Colégio Nazaré, tive contato com o grande cientista. Duas vezes por semana, a garotada ficava ansiosa pela hora do recreio. É que ali aparecia um médico que nos dava duas balas, quadradas, avermelhadas: balas de iodo. Uma delícia!...

Fabricadas na Fábrica de Balas do Barão, como era chamado o Henrique Nogueira de Faria, o médico ficava presente para verificar a dosagem e vigiar que nenhuma criança aproveitasse as rapas, como acontecia sempre.

Com o trabalho do cientista, a minha geração crescia ficando cada vez mais vacinada contra o bócio, grave problema muito comum nestas paragens distantes dos ares marítimos.

Dr. Álvaro era filho do engenheiro Francisco Lobo, que dá nome a uma das ruas de nossa cidade. Já havia feito parte da equipe do Dr. Carlos Chagas, que, em Lassance, descobriu o Trypanossoma e seu veículo, o barbeiro, realizando excelentes trabalhos em Bambuí sobre o assunto.

No período de 1942, foi designado para realizar estudos sobre a etiopatia e a profilaxia do bócio endêmico em Minas Gerais, especialmente no município de Conselheiro Lafaiete, realizando inquéritos sobre a doença e organizando um eficiente plano de profilaxia. Aqui ele criou o primeiro Centro de Pesquisa do Bócio Endêmico, no Brasil. Seu trabalho foi reconhecido em sua pátria e na França. Naquela época, residia à rua Tavares de Melo.

Dr. Álvaro defendeu ardorosamente o emprego do iodo no sal como a solução mais eficiente e econômica de profilaxia e erradicação do bócio endêmico nas regiões interioranas.

Quando faleceu, no Rio de Janeiro, em 20 de julho de 1950, estava ajudando a implantar o sal iodado no Estado do Rio de Janeiro.

Pouco depois, os meios científicos e a administração pública promoveram a introdução do sal iodado na cozinha do brasileiro, passando a ser obrigatória por imposição legal, inicialmente com a Lei nº 1944, de 14/08/1953, obrigando a iodetação nas regiões bociógenas. A Lei nº 6150, de 03/12/74 preceitua o uso em todo o território nacional.

Esse notável lafaietense se tornou digno de nossa admiração porque, como diz o provérbio latino:
"Laborum aedificat." (O trabalho edifica)

Publicado no "Correio da Cidade".


MARCAS QUE FICARAM





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MARCAS QUE FICARAM
Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com


Duas estrelas do firmamento de nossa comunidade se apagaram para nós e foram levar seu brilho a outro firmamento. Porém as marcas que ficaram de sua passagem são muito fortes e belas.

A primeira a se apagar foi Helena Augusta Batista, que era viúva do expedicionário João Baptista Perdigão. Formada em Magistério, exerceu pouco tempo a profissão, preferindo ficar cuidando de seu lar e confeccionando lindos trabalhos de linha ou bordados diversos com suas exímias mãos e seu refinado gosto. Suas obras, de fino lavor, levaram beleza e classe a muitos lares lafaietenses. De missa diária, cantava os hinos na igreja com uma bela voz. Enfrentou o sofrimento de ter o esposo sido enviado para a Segunda Guerra Mundial deixando-a com filhos pequenos e grávida de uma menina, mas tudo enfrentou com muita coragem. Nos pós-guerra os lafaietenses que lutaram na Itália fundaram uma Associação dos Ex-Combatentes, que também reuniu suas famílias. Helena foi presidente da associação das famílias. Cuidava pessoalmente e com muito carinho da sede e mantinha forte os laços que ligavam os familiares à associação. Enquanto teve forças, mesmo já em idade avançada, foi presente e atuante na preservação da memória dos heróicos acontecimentos históricos.

Poucos dias depois, apagou-se outra estrela: Marília Batista Albuquerque, viúva do médico Nilson Albuquerque. Foi uma linda menina prodígio, inscrevendo com brilho seu nome, na história do Rádio Lafaietense, com sua voz maravilhosa. Posteriormente dedicou-se às artes plásticas, com pinturas impressionistas, tendo feito estudos com o famoso pintor Carlos Bracher, que muito elogiava o talento da aluna. Marília participou, com suas pinturas, de várias exposições coletivas e individuais em Conselheiro Lafaiete e em diversas partes do Brasil. Entre suas telas ressalto o Ìndio Carijó, que pintou por encomenda do Clube Carijós. É de grande beleza! A Galeria de Artes Plástica – JBC, a primeira galeria de artes da cidade, foi sua criação, inaugurada com grande festividade e era um espaço aberto aos artistas da cidade. Poetisa de grande sensibilidade, com um estilo doce e delicado, foi um dos membros fundadores da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette e teve poemas publicados nas antologias “Poetas Queluzianos e Lafaietenses”, de 1991, e “Agenda Santo Antônio de Queluz”, de 1992, tendo fotos de telas suas nessa última antologia.

Foram, Helena e Marília, duas personalidades que marcaram sua presença na vida, deixando, pelos seus talentos e personalidade, um legado importante que merece a admiração de todos os seus conterrâneos.

Pelas abençoadas vidas de Helena e Marília...
..."Laudate Dominum!"(Louvemos ao Senhor!)


Publicado no "Correio da Cidade" em julho de 2015.



domingo, 3 de julho de 2016

DINHEIRO, O ASSUNTO DO MOMENTO










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DINHEIRO, O ASSUNTO DO MOMENTO

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com



O dinheiro, no Brasil, tem uma história. Na época colonial, poucas moedas havia circulando e elas eram cunhadas em Portugal. A economia consistia principalmente em trocas de produtos variados como açúcar, algodão, fumo, entre outros.

As moedas que circularam desde o início da colonização até os dias de hoje foram: o Real, de 1500 até 1942; o Cruzeiro até 1967; o Cruzeiro Novo até 1970; voltou o Cruzeiro até 1986; entrou o Cruzado até 1989, quando surgiu o Cruzado Novo até 1990; novamente o Cruzeiro até 1993; chegou a vez do Cruzeiro Real, em preparação para o Plano Real, até 1994; finalmente, chegou o Real, que dura até hoje. Será que isso é coisa séria?... Parece brincadeira, não parece? Que ciranda!...

Como diz o título do artigo, o dinheiro, ou o que ele representa, é o assunto do momento. Aliás, isto já vem acontecendo há muito tempo... Infelizmente, quase sempre de forma triste. Não se fala de dinheiros pendurados nas árvores como apetitosas maçãs. Nem espalhados generosamente pelos caminhos para colhermos como crianças se divertindo. Mas está sendo assuntado de formas bem tristes e não é só de sua falta no bolso do pobre e mesmo do remediado e do sofrimento que essa falta traz.

Porém vou deixar os fatos tristes pra lá e falar de um fato muito bonito relacionado com finanças públicas. No meu tempo de Primário e de Ginásio, os livros de Português traziam textos em que a tônica eram lições de Moral ou de Cidadania. Alguns ficaram gravados por toda a vida em minha mente. Vou colocar aqui um deles. Só peço desculpas se alguma coisa sair diferente do original, porque a imaginação, “a doida da casa”, como a qualificava Santa Teresa, costuma acrescentar algumas coisas às lembranças, e a senectude pode apagar outras...

José Bonifácio de Andrada e Silva, “O Patriarca da Independência”, juntamente com seu irmão Martim Francisco, eram ministros de D. Pedro I. Um dia, após receberem os seus salários, deixaram o palácio e foram para casa. No caminho, Martim Francisco percebeu que perdera o dinheiro recebido. Arrepiaram caminho em direção ao palácio. Poderia ter caído lá. Estavam procurando na sala onde estavam antes de sair quando D. Pedro os viu e perguntou-lhes o que faziam. Informado da perda, o Imperador deu ordem ao tesoureiro que fizesse um segundo pagamento ao Martim Francisco. José Bonifácio imediatamente protestou, recusando a ajuda imperial:

– De jeito nenhum, Sr. Imperador. Vou repartir o meu ordenado com Martim Francisco.

Belo gesto, concordam os leitores?
Agora, para pensar: dinheiro não é só moeda, nota ou papeis financeiros. Outras coisas valem dinheiro, como diziam os latinos:

Honesta fama est alterum patrimonium. (Boa fama vale dinheiro)



Publicado em princípio de agosto no "Correio da Cidade".




AVE O GRANDE PINTOR SCHUMAKER!






Foto de Mauro Dutra de Faria


AVE O GRANDE PINTOR SCHUMAKER!

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com


Dia 24 de agosto é o Dia do Artista. Seria esperado, como faço sempre, que homenageasse algum dos nossos maravilhosos artistas lafaietenses, que são tantos!

Mas vou homenagear um ruivo alemão, Guilherme Schumaker... Pintor e decorador de profissão, estudou na Escola de Belas Artes de Munique e Düsseldorf, na Alemanha, e em Bolonha, na Itália. Deixou sua terra natal e veio se estabelecer no Brasil como colono. Posteriormente trouxe a família da Alemanha e fixou-se definitivamente no Brasil. Foi professor de desenho e pintura em Belo Horizonte.

A primeira obra do pintor alemão de que se tem notícia no Brasil foi sua participação na pintura dos painéis da Via-Sacra, das paredes e do teto da Matriz da cidade de São Gabriel, no Rio Grande do Sul, em 1906.

De 1911 a 1912 realizou, em Belo Horizonte, a decoração interna da Igreja de São José, em estilo neogótico, recriando as existentes em igrejas da Europa, com profusão de criativos símbolos, cobrindo paredes, colunas e tetos. É uma decoração inusitada, pois, além dos motivos religiosos, há a pintura dos símbolos do Zodíaco, pintados em dourado sobre um fundo azul, significando a passagem do tempo e a imutabilidade divina. O Centenário da entrega de suas pinturas foi festivamente comemorado na capital mineira, tendo o SENAC realizado uma bela exposição de suas obras.

Em 1917, elaborou a Via-Sacra na capela do Colégio Arnaldo. Mais tarde, pintou, no Rio de Janeiro o “Santuário da Terra Santa”, dos padres franciscanos, em Cascadura, recebendo muitos elogios por sua beleza. Em 1918, em Pará de Minas, pintou nove belas telas com cenas da tradição católica.

Como se pode ver, um artista primoroso e profícuo, o que já justificaria homenageá-lo. Porém o mais importante é ser um artista que trouxe a beleza de sua arte para a Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Conselheiro Lafaiete, naquele tempo Queluz. E, neste ano de 2015, é o Centenário da entrega de suas belas obras, em maio de 1915, quando era vigário o redentorista Padre Américo Adolpho Taitson.

Embora três telas tenham se estragado e também se perdido no tempo a belíssima decoração do transepto, que representava Nossa Senhora Auxiliadora rodeada por seus quatorze santos auxiliares, pintura que foi erradamente atribuída, por muitos, ao Mestre Athayde, podem ser vistas e admiradas várias obras de Schumaker: Nas paredes laterais do altar-mor três dos quadros da Vida da Sagrada Família (nascimento do Menino Jesus, Menino Jesus trabalhando com São José e a morte de São José); sobre essas pinturas, quatro telas (duas de cada lado) representando os Doutores da Igreja (São Gregório Magno, São Jerônimo, Santo Ambrósio e Santo Agostinho); nas paredes laterais da nave, os quadros da Via-Sacra; nos dois altares laterais dois velários representando Cristo no Horto das Oliveiras e Nossa Senhora aos Pés da Cruz; na frente do coro, Santa Cecília de um lado e anjos cantando. Tudo é muito lindo!

Cem anos se passaram... O artista passou, mas sua obra permanece porque...
... Vita brevis, ars longa. (A vida é breve, a arte é eterna)

Publicado no "Correio da Cidade" de agosto de 2015.

ATÉ A VENTANIA!...






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ATÉ A VENTANIA!...

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

A cada dia mais mudanças ocorrem no mundo. Quem começou sua vida na primeira metade do século XX, então, fica atordoado com tantas coisas que eram estabelecidas e sofreram variações incríveis. Hoje estamos em um século de indefinições. Quantas vezes deparamos com situações que perturbam e nos perguntamos. Onde está a verdade? Mudam constantemente ideologias, políticas, costumes, tecnologias, estéticas... e muito mais! É incrível!

Até a ventania mudou! Quando eu era pequena, ficava curiosa esperando agosto, dia 24, dia de São Bartolomeu, para ver a força do vento, que eu julgava ser especial naquela data. E pelo que lembro, naquele mês ventava muito mesmo. Nunca soube porque a correlação entre o santo e o fenômeno da natureza. Neste ano, não percebi fortes correntes de ar que configurassem uma diferença em relação aos outros meses. Será mais uma mudança na natureza?

No Brasil, não há grandes manifestações no Dia da Ventania, apenas alguma coisa no Nordeste. Em Minas Gerais era costume falar antigamente: “Hoje é dia de São Bartolomeu / Quem teu roupa vai à Missa / Quem não tem faz como eu”, mas em Portugal, na data em que é festejado o apóstolo de Jesus, São Bartolomeu, há muitas manifestações folclóricas como, por ser 24 de agosto considerado o dia em que o diabo anda à solta, para se defenderem da maldade dele são usadas várias estratégias, entre elas orações e simpatias no mar.

Em Ponte da Barca, por exemplo, existe a crença de que o diabo não gosta de sítios onde há música. Assim, acordeonistas e grupos musicais, que vêm dos arredores, invadem essa vila portuguesa e há procissões, concertos, exposições, feirinhas, apresentação de comidas típicas e outros festejos. Na noite do dia 23, as concertinas não podem parar de tocar para que seja afastado o diabo. O povo dança a noite inteira acompanhando os tocadores por todos os largos da vila. Para não se cansarem, vão se revezando na dança e na música até que amanheça o dia.

Essa tradição de Portugal, onde até hoje a tradição se manifesta com grande beleza, apresenta a música como protetora.

Na realidade, em qualquer época e lugar, a música exerce um poder benéfico acalmando a mente e o coração, afinando o espírito e agregando as pessoas num clima de harmonia. Felizmente, nossa cidade tem cada vez mais demonstrado amor à Música. É o que se comprovou na apresentação do projeto Concertos na Matriz, em 30 de agosto, na segunda etapa do Encanta Lafaiete, foi mais um grande passo no engrandecimento da história musical em nossa querida cidade. Parabéns ao maestro Geraldo Vasconcelos, aos seus músicos maravilhosos e ao excelente duo de violões Araújo – Reis!

Voltando ao assunto inicial, em tudo o mundo está mudando e, mais do que nos fenômenos da natureza, no modo de viver do ser humano:
“Tempora mutantur et nos in illis.” Os tempos estão mudando e nós com eles.

Publicado no "Correio da Cidade" de princípios de setembro de 2015.


OURO! OURO! OURO!





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OURO! OURO! OURO!

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinanoronhalmeida@gmail.com


Nossa cidade nasceu sob o signo do ouro. Ouro cintilando nos veios dos leitos dos rios, de fácil extração; ouro pouco profundo nos tabuleiros da margem – os ouros de aluvião; e mesmo farto nas grupiaras, mais profundo, nas encostas do morro, nas proximidades da serra de Ouro Branco. Ali chegaram os bandeirantes que se transformaram em mineradores e, juntamente com os pacíficos Carijós, na Passagem, em terras próximas a Gagé, começaram um aldeamento.

Em busca da riqueza em outros lugares, aqui sempre passavam bandeiras. Para alimentar esse povo, começaram as plantações nos vales que se estendiam em volta do planalto onde se desenvolveu o arraial e acabou que o lugar se tornou um dos celeiros de Vila Rica, tanto era o produto da terra fértil. Dessa maneira, veio outro ouro, o ouro das trocas, e o lugar se tornou um empório comercial. As preciosas barras douradas garantiam conforto, prestígio e poderio. Até os altares eram embelezados com o metal nobre.

Mas, com o tempo, o ouro veio a pesar nas costas da gente do Campo Alegre dos Carijós, nas costas e na alma daquele povo sobrecarregado pelo Quinto do Ouro. Diziam: “O Rei está tirando o ouro da nossa boca”. E, aí, surgiu um ouro de maior quilate. Um ouro legítimo no espírito de uma raça nova e forte, formada pelo amor à liberdade dos índios, pelos braços rijos dos escravos, pelos arroubos de civilização dos brancos. Era o ouro da Cidadania, que cintilava nos movimentos reivindicatórios, principalmente no desejo forte de liberdade. Foi assim que, em 19 de setembro de 1790, há 225 anos, o pedido de gente tão forte alcançou a independência e o arraial se fez Real Villa de Queluz.

Porém não ficou apenas nisso...

Veio outro ouro, igualmente puro, extremamente valioso, que brotou na mente e no coração dos nossos conterrâneos desde séculos passados e se manifesta até hoje em atuações políticas, em obras literárias e artísticas. São tantos os nomes que iluminaram e continuam a iluminar com essa nova riqueza que brota a cada dia mais! Como exemplo, o ilustre Conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira, um luminar na Política, no Direito e nas Letras.

Aquele primeiro ouro ainda existe, creio que em grande quantidade e valor, escondido nas profundezas de nosso chão. O ouro das trocas comerciais, mesmo em época de crise, ainda constitui um galardão em nossa economia. O ouro das mentes, dos corações e das mãos resplandecem maravilhosamente em nossa Cultura.

Mas não acaba aí a existência do ouro em nossa querida Conselheiro Lafaiete.

Neste setembro em que se comemora a nossa Data Magna com a assinatura do documento por D. Maria I nos presenteando tão regiamente, descobri mais um singular tesouro dourado em Conselheiro Lafaiete, como se a natureza escrevesse uma metáfora também homenageando a nossa cidade na tradição de sua origem.

Observem ao derredor, ao circularem na cidade, ou passando em estradas próximas daqui, neste mês tão significativo para nós, queluzianos e lafaietenses, veremos que o ouro está pendurado nos ipês amarelos e se derrama em plantas floridas baloiçando ao vento, ou rasteiras formando tapetes nas margens dos caminhos lindamente coloridos de vivo amarelo.

Por tudo isso, nossa terra é sempre ouro, de várias espécies e belezas, mas sempre OURO, OURO, OURO!

Publicado em fins de setembro de 2015.







VAMOS RECORDAR O PASSADO?







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VAMOS RECORDAR O PASSADO?
Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

Década de quarenta. Foi quando fiz o Cursos Primário e Ginasial no Colégio Nossa Senhora de Nazaré. Belos tempos! São decorridos 70 anos desde a minha formatura de Primário.

Primeiro ano: “Olhem para mim! / Eu me chamo Lili.” Oh! que encantamento as aulas da doce Mariinha Biagioni. Passados 74 anos que foi minha professora, é, ainda hoje, uma fada carinhosa em minha vida e continua linda, meiga, atuante e sempre ajudando aos que a rodeiam.

Segundo, terceiro, quarto anos, análises léxicas, problemas, anotações... Quantos conhecimentos nos transmitiram respectivamente, Diná Alves de Oliveira, Elza de Oliveira Figueiredo, Zulmirinha Tavares! Aulas de ciências dissecando galinhas, auditórios mensais, recitar, cantar, representar. Leitura alta, composição e ditado... todo dia. Fixação boa da matéria antes de passar para a outra. Cadernos de pontos ilustrados. Era um ensino responsável e metódico, mas atraente porque nos sentíamos subindo os degraus da aprendizagem com passos firmes, seguros.

Depois veio o Ginásio. Estudo levado a sério. Análises sintáticas, redações, profundos estudos gramaticais. Rosa / Rosae / Rosae / Rosam / Rosa/ Rosa... declinações, traduções, versões... Ave Maria / Gratia plena... Allons enfant de la Patrie... Je vous salue, Marie, pleine de grace... Au revoir!... Do you speak Inglish? God bless America / Land that I Love... Good bye! Que maravilha! Era o Mundo visitado em vozes...

Festas. O grande salão, os coloridos cenários. Irmã Consolata no piano tocando Le Lac de Come. Dispostas nos degraus que levavam ao palco cantando: Oh! manhã de sol... Anhangá fugiu! Anhangá, ê, ê... Um dia fui cantar A Pitangueira. No meio da canção esqueci a letra, fiquei parada uns minutos numa agonia... até sair do palco envergonhada... Mas também brilhei como São João Bosco e, no ano seguinte – imaginem! – fui aquele que tentava o santo e pulei no fogo, em um galpão que havia no meio do palco. Os jogos no recreio, o jacaré na frente da gruta... Conquistas, fracassos, alegrias, inquietações, tudo vem de roldão na mente quando chega o Dia do EX-ALUNO no Colégio Nossa Senhora de Nazaré.

Dia 04 de outubro, domingo, acontecerá a anual COMEMORAÇÃO DO DIA DO EX-ALUNO DO COLÉGIO NOSSA SENHORA DE NAZARÉ.

Se você, leitor ou leitura, sentaram-se nos bancos escolares do tradicional estabelecimento, não percam a felicidade dessas horas de encontro onde se recordarão tantos momentos felizes do passado.

À 13 horas é a abertura. São os abraços. As conversas. As lembranças... até que, às 14 horas, vem o reencontro com a suave e linda capela onde será celebrada a Santa Missa. Enfim, depois das orações compartilhadas, a alegre confraternização.

Não faltem! O Colégio espera vocês para recordarem os tempos que se foram. Recordar vem do latim: “re-cordis”, voltar a passar pelo coração. Pois, para terminar, vou voltar e passar pelo coração, na mágica do pensamento, diante do grande quadro de formatura de minha turma, com nossos retratos e uma frase latina que era como um estímulo para enfrentarmos qualquer obstáculo que encontrássemos pela vida no caminho de nossos sonhos...

...“Per áspera ad Astra.” (Por caminhos ásperos até os astros)

Publicado no "Correio da Cidade" em princípio de outubro de 2015.


SABEDORIA E PAZ






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SABEDORIA E PAZ

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com


Como acontece anualmente tivemos, há dias houve a comunicação dos nomes a quem foi concedido o Prêmio Nobel, criado para contemplar cientistas, pesquisadores, escritores e filantropos de todo o Mundo que contribuem para o Bem da Humanidade.

Aproveito para fazer uma observação: está muito difundida uma pronúncia errada da palavra Nobel, usando-a como paroxítona. Mas acontece que ela é uma palavra oxítona, assim a sílaba tônica é a última: bel, como em papel e pincel. Não custa pronunciá-la corretamente.

Esse prêmio é concedido a pessoas que tiveram destaque em diversas áreas e ostenta o nome de seu criador, um químico e inventor sueco chamado Alfred Bernhard Nobel.

A criação dessa láurea tem uma história marcante. O cientista Alfred já vinha desgostoso quando viu que sua invenção, a dinamite, e outros explosivos que havia criado estavam sendo usados militarmente. Mais ainda aumentou sua angústia quando um jornal francês noticiou, por engano, um obituário de sua morte. Na verdade, quem havia morrido era seu irmão Ludvig, vitimado por um dos experimentos com nitroglicerina na fábrica de explosivos da família. O título do noticiário era: “O mercador da morte está morto”, aludindo a ele, Alfred.

Horrorizou-se com a qualificação recebida em seu obituário antecipado, não querendo que esse fosse apenas o seu legado para a Humanidade, uma tarja marcando a lembrança de sua passagem pela vida. A partir daí, quis transformar a sua imagem planejando a criação de uma associação humanitária perpétua que premiasse benfeitores da Humanidade, para, com isso, reverter os danos provocados por sua invenção.

Nobel faleceu no dia 10 de dezembro de 1896, deixando toda a sua fortuna para a fundação do Prêmio Nobel, sendo as premiações entregues em cerimônias especiais no aniversário de sua morte.

Ele, o inventor da dinamite, tão usada nas guerras, estabeleceu entre os prêmios um que homenageasse a busca da paz. Está em seu testamento, em relação a essa categoria, que fosse esse prêmio entregue “para a pessoa que fez o melhor trabalho em prol da fraternidade entre as nações, em prol da abolição ou redução dos exércitos permanentes e em prol da realização de congressos de paz”.

A fragilidade humana é uma realidade a que todos nós estamos sujeitos. Há os que não sabem lidar com as conseqüências de suas ações, bem intencionadas ou não.
O cientista Alfred soube conduzir, com sabedoria, seu sofrimento, transformando uma situação conturbada em uma atitude de grande sabedoria.

Duas palavras que dizem o que é preciso urgentemente no mundo de hoje:
“Pace et Sapere”. ( Paz e Sabedoria)



Publicado no "Correio da Cidade" em princípio de outubro de 2015.<

VOLTAR A PASSAR PELO CORAÇÃO







Pintura de Lygia Seabra
Antologia "Garimpando no Arquivo Jair Noronha"




VOLTAR A PASSAR PELO CORAÇÃO

Avelina Maria Noronha de Almeida avelinaconselheirolafaiete@gmail.com



Novembro tem em seu calendário, logo no início, uma data muito marcante: Dia de Finados, dia de recordar os que nos antecederam na última partida. Então, vamos às lembranças...

Era uma vez uma pintora chamada Lygia Seabra. Não! Não! Está errado. O verbo não poderia estar no passado, porque uma grande pintora não deixa de ser, é imortal em suas obras.

Lygia, uma pintora talentosa, sensível, pode ser lembrada por muitas pinturas de grande beleza. Muitos a recordam também como pessoa muito culta, ilustrada e viajada pelo mundo afora. Embora a conhecesse de nome, de vê-la na rua e pelas suas obras, nunca havia estado com ela até há uns poucos anos atrás.

O primeiro contato foi pelo telefone. Tinha ficado sabendo que era minha prima. A minha bisavó Isabel, casada com José Albino de Almeida Cyrino, era irmã de sua bisavó, Maria José, casada com Homero Seabra. Estava precisando de informações a respeito de nossa genealogia e me disseram que Lygia sabia muita coisa. Realmente, passou-me várias informações preciosas. Voltamos a trocar informações mais uma vez, também pelo Graham Bell.

Se estamos em tempo de recordações, vou usar uma introdução usual nas histórias antigamente: Um belo dia (e realmente foi um belo dia!), a prima apareceu em minha casa, e foi a primeira vez em que conversamos pessoalmente. Tinha ido me levar uma meia tricotada com lã, azul celeste, muito bonita. Contou-me que, quando terminava seus afazeres domésticos (era uma dona de casa muito prendada), já à noite, ia descansar usando suas agulhas de tricô, sendo o presente que me dava uma obra sua.

Ficamos conversando sobre genealogia e, em seguida, discorreu sobre suas viagens. Nesse dia me contou que já visitara 43 países (eu soube que depois ainda fez mais viagens). Fiquei encantada com seus relatos, nos quais transparecia vasta cultura geográfica e histórica. Eu, que não passei, na vida real, do Rio de Janeiro ou de Aparecida do Norte, senti-me, tal a riqueza de detalhes e a sugestividade da narrativa, como se fosse, também, uma pessoa viajadíssima.

Ao se despedir, depois de horas fascinantes de conversa, falou que ia até ao Asilo Ana Romero para entregar cinquenta meias, iguais à que me dera, para aquecer os pés das senhoras idosas lá abrigadas.

Lembrando, neste momento, a personalidade maravilhosa desta prima, as imagens que me vêm da dona de casa prendada e laboriosa, da pintora famosa colocando sua arte numa tela, da turista entrando numa das pirâmides do Egito, da pessoa discorrendo, com muita cultura, sobre seus conhecimentos... todas essas lembranças são suplantadas por uma imagem mais forte em seu profundo significado: Lygia Seabra, à noite, sentada, tendo às mãos suas agulhas de tricô, tecendo meias para aquecer os pés das idosas do asilo Ana Romero...

Muito lindo o significado da palavra recordar, que vem do latim:
Re-cordis (Voltar a passar pelo coração).

Publicado no "Correio da Cidade" em outubro de 2015.




O VALOR DAS TRADIÇÕES










Acervo de Ronei Fabiano Alves



O VALOR DAS TRADIÇÕES

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com


“Além das aptidões e das qualidades herdadas, é a tradição que faz de nós aquilo que somos.” Quem disse isso foi o grande Albert Einstein. E o Folclore é um dos guardiões das tradições de um povo, passando, através dos caminhos do tempo, de geração a geração, uma preciosa bagagem de usos e costumes. A palavra tradição vem do latim, "traditio", do verbo "tradere", cujo significado é entregar. Assim, recebemos das mãos de nossos antepassados um tesouro. É verdade que muitas das tradições herdadas vão se tornando retrógradas e colocadas nas prateleiras do que já passou. Outras, porém, ainda são válidas para a nossa existência. E ainda existem aquelas cuja utilidade não é prática, porém encantam e enfeitam os tempos atuais quando são pitorescas, relembrando cerimônias e crenças do passado. Principalmente, servem de elo entre as pessoas e valorizam as raízes de um povo, dando-lhe uma identidade própria.

Daí a importância de se comemorar o Dia do Folclore, termo criado pelo inglês William John Toms, e que significa “sabedoria de um povo”. Esse homem era um pesquisador das tradições e lendas de seu país e, no dia 22 de agosto de 1846, a revista “The Atheneum”, de Londres, publicou um artigo sobre as intenções de Wiliam, ficando aquela data como comemorativa do Folklore. No Brasil foi oficializada em 1965 por um decreto do Governo Federal.

Como somos presos a muitas tradições! Na alimentação, nos modos de falar, na citação de frases que ouvimos dos mais velhos, nas brincadeiras, nos cantos, enfim, em muitas peculiaridades que manifestamos em nosso comportamento.

Quantos costumes e usos do passado estão presentes em nossas vidas, vindos desde Carijós até os dias de hoje! As raízes humanas desta cidade se misturaram numa rica miscigenação entre índios, negros e brancos e daí nasceu uma tradição folclórica rica e colorida, parte importante de nossa identidade cultural. Felizmente a preservação e o resgate de muita coisa está crescendo dia a dia. São cerimônias religiosas, danças como o congado e outras manifestações artísticas, com destaque para as Violas de Queluz, que é um lindo diferencial de nossa terra. Como seria bom se voltassem a ser produzidas as colchas de São Gonçalo, semelhantes as de Castelo Branco, da região da Beira Baixa, em Portugal, e que, no século XIX, eram compradas a alto preço e até usadas para presentear as princesas europeias, conforme nos narra Francisco de Paula Ferreira de Rezende em seu livro “Minhas Recordações”!

E como é bom preservar o passado! Diz o ditado latino:

“Bane legacies antiquitates does non guarantee posterus.” (Quem não guarda o passado não garante o futuro)

Publicado no "Correio da Cidade"


GENEROSOS SÃO MEUS ARES E MINHA TERRA!








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GENEROSOS SÃO MEUS ARES E MINHA TERRA!

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com




Terríveis coisas têm acontecido: terremotos, furacões, tsunamis, destruições em massa, guerras, quedas e desaparecimentos de aviões, naufrágio de balsas, explosão de minas, desabamento de viadutos, deslizamentos de terras, derrames tóxicos, milhares de animais mortos por causa de óleo nos mares, enchentes, cursos d’água que secam... e tantas outras coisas.

Mas nunca fomos atingidos tão proximamente como nestes últimos dias, quando a vilazinha de Bento Rodrigues sumiu do mapa, uma comunidade enterrada sob a lama, com pessoas, animais domésticos plantas, casas...

Não conseguimos conter a emoção ao ver na televisão o pranto das pessoas, os depoimentos tristes de quem perdeu um familiar, de quem ficou sem sua casa e tudo o que nela se continha. Como impressionam as fotos daquela lama de rejeitos deslizando como as lavas de um vulcão, daqueles peixes mortos às margens do Rio Doce, levando a insalubridade em suas turvas águas.

A única coisa que ameniza um pouco a situação é a generosidade das pessoas de todas as partes, e a nossa cidade tem participado muito na meritória tarefa de socorrer as vítimas em suas necessidades.

Porém me veio um pensamento: será que, no dia a dia, as pessoas estão sendo generosas como nesses momentos de tragédia? No cotidiano: em casa, nas ruas, nas escolas, nos serviços... Infelizmente presenciamos, às vezes, muita ausência dessa virtude essencial para a felicidade humana. Nem sempre acontece a gratuidade de ajuda. A verdadeira generosidade só pensa em fazer o próximo feliz, apaziguado, consolado, esperançoso. É necessário ter também generosidade nos pequenos e nos grandes gestos da vida.

Vejam o que aconteceu comigo outro dia e que ilustra minhas palavras. Estava em frente à minha casa, do outro lado da rua. Em minha cadeira de rodas, esperava que acabasse a fila de carros que passavam para atravessar em segurança. Já haviam passados muitos veículos, parecia que não iam acabar. Foi então que falei “Depois daquele último que vem lá, vamos passar depressa.” Mas o referido carro parou e a pessoa sinalizou que atravessássemos. Quando passamos em frente ao carro, movimentei a mão em agradecimento e minha filha, que empurrava a cadeira, falou alto: “Muito obrigada!” Nós já estávamos seguras no passeio quando o carro se movimentou e, ao passar por nós, falou também alto: “Para a minha professora, até carrego água na peneira.” Tentei virar-me para ver o dono da voz, mas não consegui fazê-lo a tempo. Mas esse ato e essa frase generosa têm vindo sempre, desde aquele dia, em minha mente e como me faz feliz! E penso: como vale a pena ter sido professora! Se, por um acaso quem fez esse ato generoso ler este artigo, receba o meu “Muito agradecida, bondoso e querido aluno! Deus o abençoe!”

De tudo o que se está vendo, uma coisa é certa: o futuro do Mundo é preocupante. Que se aproveite o tempo praticando em todos os momentos a virtude da generosidade para amenizar os problemas e os sofrimentos do próximo. E que possamos também dizer como o romano Júlio César:

Aura terraque generosa. (Generosos sãos meus ares e minha terra)

Publicado no "Correio da Cidade" em novembro de 2015


sábado, 2 de julho de 2016

O IMPÉRIO DO MEDO






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O IMPÉRIO DO MEDO
Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com


No ano de 1976 eu estudava, com minhas alunas de Psicologia Educacional, as neuroses. Coincidiu que, naquela época, os jornais estavam focalizando, quase todos os dias, as reações obsessivas de Howard Robard Hughes Jr. que, naquela época, tinham atingido um clímax tal que levava a imprensa a focalizá-lo, pois era um dos homens mais ricos do mundo, inteligentíssimo, aviador, engenheiro aeronáutico autor de várias invenções na área, ator, produtor e diretor cinematográfico de grande sucesso, recorde mundial de velocidade em um avião, empresário poderosíssimo e muita coisa mais.

Essa pessoa tão fabulosa, porém, nas últimas décadas de sua vida, passou a ter um comportamento descontrolado e a sofrer de misofobia, fobia aos germes. Foi-se afastando das pessoas, e as que entrassem em contato com as mesmas coisas que ele tocava tinham de usar luvas brancas e seus criados tinham de tratar de tudo usando lenços de papel. A cada dia seu comportamento se tornava mais irracional, comunicando-se com as pessoas através de vidros e só quando estritamente necessário, com medo de micróbios nas roupas, nos alimentos, somente usando enlatados. Mas até esses foram abandonados, porque foi encontrado dentro de seu quarto em desnutrição extrema, rodeado de enlatados sem abrir. Levado de avião para o hospital, no meio do caminho teve uma parada cardíaca. Assim, faleceu um dos homens mais ricos do mundo, de fome e apenas coberto com um lençol, aquele que viveu os últimos tempos da vida sob o império do medo. Sempre que o jornal publicava alguma notícia dos últimos meses de sua vida, eu recortava e levava para a sala de aula, até a publicação da notícia final.

Nós, também, como Hughes, estamos vivendo sob o império do medo e com um agravante. No caso dele, os fantasmas eram os micróbios, e a gama de ameaças que nos atemorizam é muito, muito maior!!! Cada vez mais nos dias de hoje, principalmente nesta crise geral dos últimos tempos, somos perturbados por essa sensação de medo, que é um doloroso sofrimento psicológico e compromete tanto as relações sociais.

Por causa do medo estamos sempre desconfiados com as pessoas; são construídos muros altíssimos de proteção em frente às casas, privando o passante da contemplação de sua beleza arquitetônica. E o medo de sairmos à rua e sermos assaltados? De viajar com esse trânsito enlouquecido; de perder o emprego; de, já o tendo perdido, não arranjar outro; de não ter como pagar as dívidas; de comer alimentos contaminados; de beber água com micróbios; das reações adversas de remédio; das doenças que estão se alastrando; do crime organizado; da escalada da violência; dos efeitos da corrupção e do destino futuro do País; enfim, de tudo que pode trazer conseqüências maléficas para o nós?

Vamos ficar alertas. Não deixemos que o medo nos destrua, como fez com o pobre megamilionário. Duas atitudes podem nos ajudar: fazer a nossa parte, no que for necessário, para que surjam novos tempos de mais segurança, agindo com...
...Pace et Sapere. (Paz e Sabedoria)

Publicado no "Correio da Cidade" em janeiro de 2016

O IMPÉRIO DA ALEGRIA






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Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

Outro dia ouvi, ao longe, um som de bateria. Foi aos poucos se aproximando e, quando ficou bem perto, aproximei-me da janela para ver o que estava passando. Era um bloco. Mas que beleza! Bastante gente dançando animada, fantasias interessantes, muito coloridas, bateria excelente, um visual maravilhoso! E o mais importante, a gente podia sentir a alegria e o entusiasmo dos foliões.
À noite, vi os noticiários da TV. São Paulo estava efervescente, com milhares de foliões, um número enorme de blocos, muito colorido, muitas fantasias, um espetáculo! E também milhares de pessoas no Rio de Janeiro, naquela euforia bonita, um mar de alegria.

Fiquei pensando: o povo brasileiro está sofrendo muito com a crise, mas que força tem a nossa raça para passar por cima do sofrimento e desabrochar a flor de sua alma nas avenidas e ruas, numa explosão de vitalidade. Esses eventos que presenciei pessoalmente e na mídia são como a luz no fundo do túnel, a graça maior da esperança de as coisas melhorarem. Com tal característica de personalidade coletiva, este valioso povo brasileiro vai saber reverter o processo deletério do País, tenho certeza!

Como pensamento puxa pensamento, passei para outras paisagens, como as do Facebook e do WhatsApp, aplicativos de comunicação que a cada dia se expandem mais. Têm certamente seus pontos negativos, supervalorizando o virtual, afetando o convívio pessoal e afetivo, principalmente porque as pessoas não estabelecem limites para seu uso, usufruindo suas vantagens às vezes de modo desordenado e até irracional. Além disso, há o compartilhamento de conteúdos impróprios e nocivos. Não se pode negar que há riscos.

Mas no assunto do qual estou tratando, essa ferramenta virtual tem ajudado, principalmente em certos grupos, a facilitar as conversas, trocar informações e, num certo ponto, dinamizar as relações afetivas e trazer alegria. Por exemplo: nos grupos familiares aparecem vários “Bom dia!” pela manhã, “Boa noite!” ao declinar o dia. Desejam felicidades nos aniversários. De um modo geral, são colocados textos de grande beleza, de ajuda espiritual ou psicológica, piadas algumas vezes muito boas, que despertam o riso benéfico para o corpo e para a alma. Conheço pessoas que viviam afundadas na depressão e estão bem diferentes depois do WhatsApp. Ontem vi uma mensagem assim: “Este grupo é uma bênção em nossas vidas!” Outra em seguida: “Obrigada, pois sou um membro do grupo”. E uma terceira: “Conheci pessoas que nem imaginava serem da família. Muito bom!!!”

Um vídeo muito interessante que está circulando fala das pessoas que andam muito mal-humoradas ultimamente e mostra como a risada pode contagiar. Numa condução em que todos estão sérios, talvez preocupados com a vida, alguém começa a rir, pouco a pouco todos estão rindo, e quem assiste acaba rindo também, sem ninguém saber de quê, como aconteceu comigo, jogando-me num relax ma-ra-vi-lho-so! A facilidade de enfrentar a vida sempre rindo, fazendo piadas e charges é que fortalece o brasileiro na superação dos problemas, com muita esperança na luta para a tempestade passar. A alegria é uma solução? Não, mas ajuda na busca da solução. É um estado de espírito que ilumina os caminhos para a vitória.

Há um provérbio latino que diz assim:
Rideo, ergo sum. (Rio, logo existo. Rio, logo estou vivo)

Publicado em princípio de fevereiro de 2o16.


IMPÉRIO DO CARINHO








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IMPÉRIO DO CARINHO
Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com



Uma complementação ao meu artigo anterior, “O Império da Alegria”, com as palavras do grande escritor Rubens Alves em seu livro “Sobre Demônios e Pecados”: “Mais poderoso que o nome do demônio é o riso. Quando ele começa a atormentá-lo, ponha-se a rir. O demônio ou demônios que moram em você fugirão espavoridos. Porque, como disse Nietzsche, maravilhoso exorcista, os demônios são o ‘espírito da gravidade’ e não suportam a leveza do riso.” Então, vamos rir, gente! Mas o império de hoje é outro. É o império do carinho.

Se o riso é antídoto para a depressão e outros males que afligem a Humanidade, também o carinho pode ajudar o mundo a ficar melhor. Vou contar um caso que, por minha vez, ouvi contado em uma crônica há mais de quarenta anos. Esqueci o nome do cronista, cujos escritos eu lia sempre, mas, interessante, seu nome não me vem agora na memória, mas o que ele contou ficou gravado de forma tão forte em minha mente, tanto me agradou, que me lembro perfeitamente.

Uma senhora idosa, cuja residência era no centro de Belo Horizonte, vivia sozinha. Todos os domingos ia almoçar na casa de uma filha, alguns quarteirões adiante de sua casa. Num desses domingos, quando voltava para seu lar, viu um moço bem apessoado, parecendo “gente boa”, indo na mesma direção e, como estava um pouco cansada, resolveu recorrer a ele: “– Meu filho, poderia me ajudar a ir para casa?”. Ele concordou, deu-lhe o braço e foram caminhando.

A velha senhora começou a falar sobre sua vida, a visita que fazia todos os domingos à casa da filha. Que levava sempre as jóias na grande bolsa porque, sendo caríssimas, tinha receio de deixá-las em casa e serem roubadas. Mas que era um problema porque os netinhos abriam a bolsa e ficavam brincando com as jóias... E assim foi tagarelando, o moço sempre calado, até que chegaram ao destino. Abriu a bolsa procurando a chave e, muito desajeitada, não conseguia achá-la. Novamente recorreu ao moço: “– Meu filho, são muitas jóias e não estou conseguindo achar a chave. Veja se consegue achá-la e faça-me o favor de abrir a porta para mim...

O moço pegou a bolsa, achou lá no fundo a chave, abriu a porta e aí falou com ela: “– Agora a senhora entre e feche depressa a porta antes que eu me arrependa. Sou um ladrão e só não roubei a senhora porque, desde que eu era bem pequeno, nunca mais ninguém me chamou de “Meu filho!”

Quantos males poderiam ser evitados com palavras de carinho que despertassem forças positivas num coração! Bem disse Cecília Meireles no “Romanceiro da Inconfidência: “Ai, palavras, ai, palavras, / que estranha potência a vossa!”

E bem diziam também os latinos:
Verba mollia et efficacia. (As boas palavras custam pouco e valem muito)


Publicado em final de fevereiro de 2016

FALANDO SOBRE PROFESSORES E LEITURA






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FALANDO SOBRE PROFESSORES E LEITURA
Avelina Maria Noronha de Almeida
Avelinaconselheirolafaiete@gmail.com


Há algum tempo li, neste jornal, um artigo do Professor José Antônio dos Santos intitulado “Professores e Leitura”. Lembrei-me desse artigo quando li, recentemente, uma excelente mensagem de Luís Antônio Torelli, Presidente da Câmara Brasileira do Livro, em que ele se preocupa com o enorme reajuste do papel de imprimir que pode interferir negativamente em relação aos livros, contribuindo para desestimular o hábito da leitura, pois, como afirma, “os livros são decisivos para que possamos reverter a má qualidade do ensino!”

Em seu artigo, Professor José Antônio faz uma pergunta: “Os professores lêem muito: O tempo todo?” Pergunta que não posso responder em relação ao tempo atual, pois há décadas não tenho mais o prazer de conviver com o professorado. No entanto penso que, tendo que acumular trabalhos devido ao baixo salário, com as atividades inerentes à função, que tomam muito tempo, a sobrecarga acarretando cansaço, creio que, muitas vezes, isso não aconteça, mas posso estar enganada pelo motivo que citei acima.

Realmente, seria ideal que bons livros sobre Didática e sobre o conteúdo da matéria fossem lidos pelos mestres. Creio que muitos o façam.

Como idéia puxa idéia e idéia puxa memória, lembrei-me de um momento interessante sobre a Educação no passado em nossa cidade. Quando eu lecionei História da Educação, uma aluna entrevistou, para certa atividade, uma professora aposentada, colega de minha mãe, Nantilde. Elas haviam se formado no Magistério no Colégio Nossa Senhora de Nazaré, na primeira turma, isso em 1928. Nantilde contou que, ao se formar, fora designada para a escola rural de um distrito de, naquela época, Queluz. Periódicamente ia o Inspetor na escola dela e levava livros sobre didática para que ela lesse.

Era a dourada época da implantação da Escola Nova em Minas Gerais, justamente no ano da formatura delas, com a Reforma Francisco Campos, esplêndida obra do governo de Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, de Barbacena, que assumira a administração do Estado em 1926 e trouxera pedagogos de renome internacional para implantar a reforma.

Contou Nantilde que, como na época não havia livros traduzidos para o Português, o inspetor entregava a ela livros em espanhol e em francês. Mas não só entregava. Na visita seguinte “sabatinava” a professora detalhadamente sobre o conteúdo das obras para verificar se ela havia realmente lido os livros. Nantilde era muito inteligente, o Colégio era eficientíssimo e, por isso, deve ter se saído sempre muito bem.
Não é um belo episódio da História da Educação em nossa cidade?

O exemplo de experiências passadas pode incentivar o presente. Como disse o grande Marco Túlio Cícero:
Historia est magistra vitae. (A História é a mestra da vida)

Publicado em princípio de março de 2016.



BOM DIA, CONSELHEIRO LAFAIETE!







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BOM DIA, CONSELHEIRO LAFAIETE!

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com



“Bom dia, Conselheiro Lafaiete!” Foi assim que, no dia 28 de março de 1934, a manhã saudou a cidade que, no dia anterior, adormecera Queluz em seu tradicional berço... e acordara, naquele dia, Conselheiro Lafaiete.

Foi um espanto para a população. Risos felizes, às vezes marotos, dos que arquitetaram a mudança. Ar de surpresa na maioria dos cidadãos. Vozes revoltadas dos que se apegavam à tradição de um nome sonoro e belo, que era lembrança da emancipação do Arraial do Campo Alegre dos Carijós quando se tornou a Real Vila de Queluz!

E teve início um período de brigas, de insultos. Diziam os moradores do até então bairro de Lafayette, situado abaixo da linha férrea, defensores da mudança de nome, aos moradores da parte alta da cidade: “– Nós temos a Estrada de Ferro. Quando vocês quiserem viajar, não desçam. Vão em lombo de burro pela estrada!”, referindo-se ao caminho de terra que passava na atual Avenida Prefeito Mário Rodrigues Pereira. Respondiam os da parte de cima: “– Nós temos a Prefeitura e o Cemitério. Quando alguém de vocês morrer não tragam para cá, enterrem no fundo da horta!”

Assim ficou a situação por muito tempo.

Mas a vida foi caminhando, a poeira abaixando e, embora até hoje haja descontentes, o novo nome se firmou. Árvores frondosas cresceram no solo de Queluz, fértil de riquezas e de gente. Projetaram seus ramos por Minas Gerais e pelo Brasil, até mesmo por outros lugares do mundo. Mas também árvores frondosas cresceram e crescem no solo de Conselheiro Lafaiete, igualmente fértil de riquezas e de gente.

Mas quem foi esse homem prodigioso que estabeleceu um divisor de águas entre dois tempos desta cidade e cujo aniversário de nascimento se comemora no mês de março? Por que mereceu a honraria? Nascido na Fazenda dos Macacos, na região rural de nossa cidade, mereceu a honraria por sua inteligência, sua capacidade de atuação e a permanência de suas ações?

Quando, foi nomeado Ministro da Justiça, ele, um “liberal” pouco tempo antes inserido num governo de “conservadores”, disse-lhe com malícia, sugerindo uma situação demeritória ou ambígua, o Deputado Martinho Campos: “– Eu só queria saber de que meios V. Exa. se serviu para subir tão depressa aos Conselhos da Coroa!” E esta foi a resposta firme que ele deu ao provocador: “– Subi montado em dois livrinhos de Direito!”

Livrinhos esses considerados até hoje duas magníficas colunas da literatura do Direito Civil: o “Direitos de Família” (1869) e o “Direito das Coisas”. Sábio jurista, filósofo de pensamento de pensamento profundo, soube conciliar, suas concepções liberais com algumas das concepções republicanas, transitando, com firmeza e sabedoria, na dialética arenosa do final de Império.

De sua vida podemos, entre tanta coisa mais, dizer:
Praestantia per Scientiam! (Excelência pelo Conhecimento)


Publicado em fins de março de 2016


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O AMOR VENCE TODAS AS COISAS





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O AMOR VENCE TODAS AS COISAS

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com


Dias atrás, ao amanhecer, olhando pela janela de meu quarto, extasiei-me com uma visão encantadora: vi, em um pequeno espaço que me restava entre dois prédios, uma árvore mais que centenária, uma mangueira que se ergue atrás do antigo casarão da rua Coronel Arthur Nascimento, na direção da entrada da rua Tavares de Melo. Vários ramos de flores amarelas desciam do alto da mangueira, colorindo a copa verde.

Já decorreram mais de sessenta anos desde que me mudei para esta casa. Na época, também me encantei ao ver, pela mesma janela, a mesma árvore frondosa, só que com umas poucas ramadas amarelas, tipo parasitas. Fiquei preocupada pensando: pobre árvore, dentro em pouco estará destruída.

Os anos foram passando e, nesta época do ano, as flores apareciam só que, aos poucos, ia aumentando a quantidade. E a árvore continuava firme, contrariando a minha previsão. Este ano, então, desenhou uma linda cortina amarela. Contemplo-a todos os dias. Mas as flores foram diminuindo e hoje só consegui ver uma ramada amarela.

Fiquei refletindo: o Brasil é como esta árvore. Periodicamente acontecem fatos, desagradáveis, deletérios, prejudiciais, depredadores. Mas nada consegue destruir a Mãe Pátria. Ela volta com sua força, com sua verdura espalhada em ramos e tronco fortes, firmes para enfrentar qualquer adversidade e agressão. Assim, estamos passando por provações, desafios terríveis, mas novos tempos virão pelas virtudes herdadas de momentos íntegros de nossa História.

Outra reflexão que me veio à mente vinda deste mesmo retângulo que liga meu quarto à paisagem exterior. Uma lembrança. Minha mãe começou a passar mal, corremos para o hospital. Pressão 28. O médico aplicou uma injeção. A pressão foi a 0. Eu estava perto dela e a vi morta. O médico aplicou outra injeção e ela foi voltando. No dia seguinte estava já boa, em casa. Eu estava na cozinha e, de repente, ouvi os gritos aflitos de minha mãe me chamando: “– Vem cá! Vem cá! Depressa!!!” Minhas pernas bambearam supondo nova crise de pressão. Custei a conseguir sair do lugar e correr até ela. Encontrei-a nesta mesma janela citada acima com ar extasiado, mostrando o céu: “Veja depressa a beleza das cores do céu antes que o sol desapareça de todo!!!” Quase desmanchei no chão, mas aí já era de alívio...

Minha mãe era assim, sensível, encantada com a natureza humana e material das obras do Criador. E a nova reflexão que me veio foi a seguinte: o que está faltando para a situação do Brasil, do Mundo é esta sensibilidade. As pessoas estão muito ressequidas pelas dificuldades que enfrentam e grande parte pela ambição, a qual destrói os bons sentimentos de amor ao próximo e traz consigo a miséria, a injustiça, a violência.

Um exemplo: nestes últimos dias, um anúncio que fora colocado num site, por um homem de 24 anos, morador na região metropolitana de Belo Horizonte, em relação ao bebê seu filho: “Vendo lindo bebê com 10 dias de vida. Homem lindo, com saúde total e comprovada. Ótimo investimento. Valor a combinar.”

Preso, disse que havia feito apenas uma brincadeira. Verdade ou brincadeira, muito triste! Há coisas com que não se brinca. Um dos sinais da crise de sensibilidade.

O suprassumo da sensibilidade é o Amor. E o suprassumo do Amor é o que está no mandamento maior: “Amar ao próximo como a si mesmo.” A prática deste mandamento é a solução para todas as crises, porque, como disse Virgílio em Écloga X, 69:

Omnia vincit amor. (O amor vence todas as coisas)


Publicado no “Correio da Cidade” em princípio de abril de 2016.

LOUVANDO O ALLEX




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LOUVANDO O ALLEX
Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinanoronhalmeida@gmail.com

DIA 21 DE ABRIL é uma data riquíssima de comemorações, de fatos acontecidos nessa data que marcaram a História de nossa Pátria. Mas vou falar mesmo é do Aniversário de Allex Assis Milagre.

Estou entre as pessoas que herdaram o seu espaço no Correio da Cidade. Espaço que ele honrou durante tanto tempo. Allex é uma personalidade da qual, quanto mais passa o tempo, mais sou admiradora. E sinto falta de sua ajuda de Mestre. Lembro-me do menino prodígio desde bem pequenininho, do jovem de inteligência rara e muito atuante na comunidade, do historiador e genealogista profundo e fértil, além de tantas mais qualidades importantes.

Há pouco tempo li, por acaso, algo que muito me impressionou e levou a meditar sobre um ângulo da vida deste grandioso ser humano. No Facebook, Álvaro Afonso Baeta Neves, pessoa possuidora de grande cultura, que sabe compartilhar seus importantes conhecimentos em postagens preciosas pela informação e beleza das ilustrações, e tem raízes em nossa cidade, postou o seguinte:

Temendo nunca concluir este trabalho, deixo estas achegas, para que se possa dar continuidade às pesquisas. Citação de “Allex Assis Milagre”, Historiador Milagre.

Deduzi logo que essa observação fora feita pelo nosso amigo quando enviou a Álvaro a Genealogia dos Baeta Neves que fizera, uma grande e detalhada obra. Vê-se que já estava prevendo que não lhe restava muito tempo de vida e muita coisa ficaria sem conclusão. Também que o pensamento principal dele era ajudar os estudiosos com o resultado de suas importantes pesquisas, trabalho de anos e anos nos alfarrábios e nos livros de igreja. Queria o sucesso dos estudos. Que grande alma!

Em outro trabalho feito por ele achei, em Portugal, até os avós de Joaquim Lourenço Baêta Neves, pai do Barão de Queluz. Utilizei como “ponto de apoio” as “achegas” do Allex, fui descendo pelo tempo até muitas gerações e, pelos sobrenomes que achava, cheguei ao Rio Grande do Sul. Comparando com os sobrenomes dos primeiros possuidores de terras em Queluz, registrados em meados do século XIX por ordem do Governador da Província de Minas Gerais, vi que nossa terra teve, como o maior número de colonizadores, açorianos que, vindos para o Rio de Janeiro, foram enviados para fundar a Colônia de Sacramento, às margens do Rio da Prata. Expulsos pelos espanhóis, foram para o Rio Grande (do Sul). No rush do ouro, subiram pelo caminho dos tropeiros como se carregassem um pedaço da terra gaúcha, vieram para Carijós e aqui se espalharam. Um genealogista que estuda os açorianos no Brasil disse-me que nossa terra é a que possui mais raízes açorianas. Muito mais que em outras cidades.

Outra “achega” de Allex: um papel que ele me passou há muito tempo no qual transcreveu um relatório feito pelo padre Américo Adolpho Taitson, a mando da Diocese de Mariana, para esclarecer a situação da capela da Passagem de Gagé no princípio do século XX. O relatório foi feito com muitas minúcias que não deixavam dúvida sobre a situação verdadeira. Com isso, ficou provado que o local era de Queluz e ainda ficaram esclarecidos fatos históricos que ajudam a confirmar a minha teoria de que a cidade de Conselheiro Lafaiete teve seu início na Passagem de Gagé.

Assim, graças aos “achegos” de Allex, que também deixou vasta, mas vasta obra mesmo pronta, a nossa cidade tem crescido no conhecimento de suas origens. Por isso me emocionou tanto a postagem do Facebook citada no princípio do artigo

Por tanto que nos beneficiou e ainda beneficia mesmo não estando entre nós, louvemos o Allex porque, como diz Sêneca nas Epistulae Morales 102:
Laudate dignos, honesta actio est. (Louvar os homens dignos é uma ação nobre)

Publicado no “Correio da Cidade” em abril de 2016.

UM BELO EVENTO DE CIDADANIA






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UM BELO EVENTO DE CIDADANIA
Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

No dia 6 último ocorreu um importante evento, em homenagem aos Expedicionários Lafaietenses, pela passagem da data do final da Segunda Guerra Mundial, que sempre me emociona porque nunca esquecerei o momento belo e emocionante que vivi naquele dia, em 1945. Como poderia esquecer? O Repórter Esso, na voz emocionada de Herón Domingues, proclamava pelo rádio: “TERMINOU A GUERRA!!! TERMINOU A GERRA!!!”

Na Praça da Bandeira, junto ao Monumento do Expedicionário, foi executado o PROJETO “DIA DA VITÓRIA E HOMENAGEM AOS EX-COMBATENTES DE CONSELHEIRO LAFAIETE”, uma realização da Escola Municipal “Napoleão Reis”, existente desde 2012, iniciado na direção da professora Marise Santana de Resende, tendo como criadores e executores: Professor Dr. Sheldon Augusto, Professora Marta Glória Barbosa e Coordenadora Educacional Cláudia Assis, contando com o apoio da direção, do corpo docente e dos funcionários, todos imbuídos de alto espírito cívico.

O embrião do Projeto nasceu dentro do Arquivo Histórico Antônio Perdigão com o professor Sheldon, na época em que ele tratava dos jornais da cidade, após a leitura de um artigo meu sobre o Dia da Vitória, em 1945, onde relatei a emoção após ouvir o anúncio do Repórter Esso, acima mencionado.

Posteriormente, realizou-se uma reunião em minha casa com Sheldon, Cláudia e o acompanhamento de Marta Glória. Ao longo de cinco anos esse Projeto amadureceu, foi evoluindo a cada ano até chegar ao maravilhoso evento que citei no início, agora com o apoio do atual Diretor Luiz Rafael Vitoretti e do Vice-Diretor Mário Ribeiro de Oliveira, que, com grande capacidade empreendedora e abertura de espírito, forneceram todas as condições e possibilidades para que a cerimônia se realizasse com organização e sucesso, permitindo a continuidade e a ampliação de tão importante Projeto.

Este ano, os organizadores entraram em contato com a Banda da Polícia Militar de Barbacena para abrilhantar o momento com o seu repertório musical e organizaram um coral com alunos do Ensino Médio e integrantes do Tiro de Guerra. O Projeto teve grande acolhimento e apoio das famílias dos ex-combatentes, bem como da Administração Municipal, do Corpo de Bombeiros e de outros órgãos. A cerimônia teve a presença valiosa do Ex-Combatente da FEB, Sr. João Fortunato, que foi muito homenageado, e do Quarto Esquadrão de Cavalaria Mecanizada de Santos Dumont.

Houve um momento de grande beleza artística com a apresentação dos tenores Sheldon e Euler Márcio Chaves, que cantaram “Mia Gioconda”, marca da presença dos brasileiros na Itália, e que ainda emociona os que preservam a memória do acontecimento histórico.

Os familiares dos heróicos lafaietenses ofereceram linda coroa de flores, ao Toque de Silêncio executado pelo Sr. Wolney Severo Juliano. Autoridades e pessoas ilustres da cidade e de outras localidades prestigiaram a homenagem, tendo vários oradores se manifestado. Coroando o evento, foi anunciado que o Sr. Prefeito, Dr. Ivar Cerqueira, encaminhará à Câmara Municipal um Projeto de Lei para integrar ao calendário oficial de eventos do Município a iniciativa da Escola Municipal Napoleão Reis. Foi tudo muito emocionante e fico feliz em ver que nossa cidade cultua os seus heróis pois, como disse Sêneca...

...Laudare dignos, honesta actio est. (Louvar os homens dignos é uma ação nobre)


Publicado no Correio da Cidade em maio de 2016.


PELOS TRILHOS DA CENTRAL DO BRASIL




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PELOS TRILHOS DA CENTRAL DO BRASIL

Avelina Maria Noronha de Almeida avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

Levadas pelos trilhos da Central do Brasil, Queluz e Conselheiro Lafaiete entraram de forma essencialmente importante na História do Mundo, pois fizeram parte efetiva na conquista da Paz Mundial no Século XX. Também por esses trilhos valores humanos foram o honrar e engrandecer o nome de sua Terra Natal.

Sabe-se bem da participação dos 63 lafaietenses em campos de batalha como integrantes da FEB, contribuindo com atuação corajosa, decisiva e heróica para a vitória aliada em importantes batalhas; das oficinas da Santa Matilde saiu um tanque e, com o dinheiro aqui arrecadado, Conselheiro Lafaiete doou um avião para a Cruz Vermelha.

Também é conhecido que, naquela época, a jazida de manganês do Morro da Mina, então considerada a maior mina de manganês a céu aberto do mundo, foi a única jazida do Ocidente a fornecer esse minério ao esforço de guerra aliado na Segunda Guerra Mundial, com o qual eram feitos tanques, armamentos e outras coisas necessárias para a luta. Tudo isso passou pelos trilhos da Central do Brasil aqui estendidos.

Entretanto, nem tão conhecidos são os fatos da participação de nossa terra, Queluz, na Primeira Guerra Mundial, que aconteceu de 1914 a 1918. Nos jornais da época, aqui publicados, encontram-se notícias a respeito, mas vou focalizar apenas dois, muito importantes: também todo o manganês utilizado pelos aliados naquele terrível conflito saíu do nosso Morro da Mina e foi embarcado para os Estados Unidos. Era a nossa riqueza natural a serviço da Paz Mundial.

Mas houve outra riqueza: um valor humano importantíssimo para a história mundial e que nasceu em nossa terra. Um nome que não sei se alguém daqui conhece. Eu, pelo menos, até há pouco tempo não conhecia: Dr. Luiz Felipe Baeta Neves.

Por um acaso, buscando informação genealógica, achei num site muita coisa sobre esse conterrâneo nosso, nascido em Queluz a 25 de outubro de 1865, filho de Dr. José Joaquim Baeta Neves e D. Lamásia Baeta Neves, formado aos 19 anos de idade em Direito e, treze anos depois, em Farmácia e Medicina. De acordo com a informação, era dotado de extrema bondade e de um espírito científico com grande amor à Humanidade, tendo sido – vejam só que importante! – o primeiro cirurgião a realizar prosta-tecnomia e a aplicar radium no tratamento do câncer.

Em 1918 deixou sua clientela e partiu para prestar ajuda no anfiteatro da guerra, naquele momento difícil para o mundo, como tenente-coronel subchefe da Missão Médica Brasileira. A bordo do navio que o levava para a França, desencadeou-se uma epidemia de gripe e peste bubônica. Ele foi incansável, atuando como médico e enfermeiro, conseguindo que a epidemia cedesse.

No front, as tropas francesas, inglesas e norte-americanas testemunharam a sua dedicação e seus serviços levaram o governo francês a conferir-lhe a condecoração máxima: da Legião de Honra. Quando de seu falecimento, um jornal francês publicou um extenso necrológio no qual diz: “O Brasil acaba de perder um homem, a França, um amigo.”

Entre muitas importantes honrarias, em São Paulo é nome de extenso bairro, de rua, de escola e considerado como tendo “contribuído para a grandeza de São Paulo”.
Merecia ter seu nome em uma rua de nossa cidade, não acham?

Dr. Luiz Felipe Baeta Neves é um exemplo desta sentença latina:
Laborum aedificat. (O trabalho edifica)

Publicado em fins de maio de 2016 no "Correio da Cidade".




SINFONIA DE LAFAIETE







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SINFONIA DE LAFAIETE
Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

Na novela “Eta mundo Bom!” a personagem Eponina, vivendo sempre na fazenda, por determinadas circunstâncias tem que ficar hospedada em uma casa na cidade. Como era tudo diferente em relação ao que estava acostumada, teve alguma dificuldade em se adaptar à nova realidade. Num dos comentários em que manifestou seu desagrado dizia que preferia acordar com o canto dos galos do que com as buzinas dos carros.

A novela se passa nos anos 40 do século XX, quando a diferença entre o meio rural e o meio urbano era bem acentuado, porém mesmo hoje ainda há muita diversidade. Essa passagem da novela me levou a pensar: Conselheiro Lafaiete é uma cidade interessante. Muito eclética e com variedade de aspectos em vários sentidos e que conserva sons comuns no passado, de outros tempos em que era uma pequena cidade ainda com ares do seu início construído sobre uma tradição rural.

Moro bem no centro da cidade, mas de madrugada ouço mais ou menos perto o canto cristalino de um galo. Realmente Eponina tem razão: é lindo! Logo em seguida outro galo responde longe... um pouco longe... lá dos lados da Santa Efigênia. E por um tempo prossegue o musical diálogo. Mas pouco depois ouço também o barulho nada musical dos carros que, antes de amanhecer, já passam levando pessoas para o trabalho na Gerdau ou em outras empresas em cidades vizinhas.

Já de pé, chego à janela da frente e ouço passarinhos gorjeando alegremente nas árvores que ladeiam a Casa da Cultura “Gabriella Mendonça”. Há época em que eles somem, porém logo voltam.

Por coincidência, à tarde, estando com uma visita na sala que dá para a rua, a visitante me chama a atenção para o trote de um cavalo passando na rua, estranhando isso no centro de uma cidade que já não é mais pequena. Explico que acontece sempre, nesta minha rua bem no coração da cidade. Não é interessante?

Depois, de tardinha, bateu o sino do Angelus, da mesma forma que batia no século XVIII, quando as pessoas no Largo da Matriz, em outros lugares próximos ou dentro de suas casas se ajoelhavam para rezar. Também os cavaleiros, quando naquela hora passavam por perto, desciam de seus cavalos, ajoelhavam-se no chão, persignavam-se e oravam.

E como ar “estava parado”, pouco depois, do meu quarto, ouvi o barulho da locomotiva que, passava na travessia, lançando nos ares seu apito de despedida, igualzinho acontecia no passado.

Continuei pensando nessa especialidade de nossa terra e aí veio um sonho: temos tão geniais compositores aqui, neste tempo de agora, quem sabe um deles resolve fazer uma “Sinfonia de Lafaiete”. Em 1924, George Gershwin compôs a sua maravilhosa “Rhapsody in Blue”, na qual descreve tão bem, com grande arte e sensibilidade, o espírito de Nova York, sua cidade natal. Quem sabe teremos um dia a nossa sinfonia?

E vamos procurar ouvir melhor os sons do dia a dia para extrair deles a sua beleza porque, porque, ouvindo com o coração...
... magis atque magis clarescunt sonitus. ( ...os ruídos se tornam cada vez mais nítidos)


Publicado no Correio da Cidade no início de junho de 2016

CAROS LEITORES: ESTOU PASMA!







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CAROS LEITORES: ESTOU PASMA!

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com


Caros leitores: estou pasma! Horrorizada mesmo! Até que ponto chegamos!

Uma das datas importante que temos no mês de abril é, no dia 22, o aniversário do descobrimento do Brasil. Fiz uma pesquisa na Internet em jornais procurando uma notícia, apenas uma, de uma comemoração da data. Achei, nas imagens do dia, notícias de coluna de fogo e fumaça se erguendo no local de um incêndio num centro de armazenamento de produtos químicos na província de Jiangsu no leste da China; de que a saída de dólares no Brasil supera a entrada em US$ 5997 bi no ano até dia 22 de abril, da comemoração do Dia da Terra (mas não é de nossa terra, o Brasil); que a lua do dia 22 de abril deu um show no céu; e daí por diante uma série de notícias...

Mas nenhuma se referindo ao descobrimento do Brasil, ao aniversário de nossa Pátria, ao dia em que ela nasceu. Não é frequente festejar-se o aniversário de parentes ou amigos? Será que os brasileiros não consideram o Brasil um parente ou um amigo, mas sim um ser estranho do qual estamos desligados?

Se esta indiferença fosse apenas num ou noutro lugar, porém parece geral num País tão grande!!!... Por essa situação pela qual passamos, de terrível crise, como podemos nos admirar da falta de cidadania que varre o nosso solo? Será que não amamos o Brasil? Essa indiferença sentimental começou há muitas décadas e a cada década vai se acentuando mais.

Entretanto, não vamos perder as esperanças. Vamos é ver o que podemos fazer pelo Brasil. Quanto ao aniversário dele já estou planejando a minha parte para o ano que vem.

No início de nossa História Pátria há um episódio muito bonito. O rei Dom Manuel mandou celebrar uma solene Missa no Mosteiro dos Jerônimos, em Lisboa, após a qual fez benzer uma bandeira com as armas do Reino, entregando-a nas mãos de Pedro Álvares Cabral, comandante da expedição com destino às Índias. Um pomposo séquito acompanhou o navegante até o cais. Antes de subir à nau capitânia, Cabral beijou reverentemente a mão de El-Rei e subiu no tombadilho. Imediatamente se dirigiu à imagem de Nossa Senhora da Esperança que pouco antes lhe entregara El-Rei como padroeira da expedição. Beijou os pés da imagem implorando proteção e êxito na viagem.

O resto já se sabe. Os ventos trouxeram as treze caravelas, com um contingente de 1.500 homens, à Terra de Santa Cruz. E quando Cabral desceu em nosso solo trazia nos braços a imagem de Nossa Senhora da Esperança que lhe dera El-Rei de Portugal. A mesma imagem que, no dia 26 de maio daquele ano de 1.500, um domingo, na Missa celebrada na praia da Coroa Vermelha, litoral sul da Bahia, por Frei Henrique de Coimbra, estava colocada no altar da celebração.

Que Nossa Senhora da Esperança, presente desde os primeiros momentos na vida do Brasil, desperte novas forças em nosso povo trazendo a esperança de que, se cada um fizer bem a sua parte, a nossa Pátria poderá ver melhores dias. Ajudai-nos a realizar este desejo, Virgem Maria...
...dulcedo et spes nostra!(doçura e esperança nossa!)

Publicado no "Correio da Cidade" em abril de 2016.


A PITORESCA HISTÓRIA DOS PORCOS







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A PITORESCA HISTÓRIA DOS PORCOS

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

Hoje vou falar de um assunto do qual nunca escrevi: Política. Mas não é da política confusa do nosso Brasil, na qual os partidos se confundem, multiplicam-se e, no fim, a gente não entende nada.

Vou contar é um caso da antiga Queluz, quando os porcos levaram à formação de um grande, poderoso e aguerrido partido, provocando a cisão do eleitorado da cidade, até então unido. Devido a essa separação, várias lutas renhidas e campanhas inflamadas aconteceram a partir daí. Já pensaram que porcos poderosos???...

O caso foi o seguinte: duas pessoas de grande valor, muito estimadas pela população, faleceram devido à febre amarela que grassava em Queluz, o que causou, além de muita comoção pela perda dessas pessoas, um verdadeiro pavor pelo perigo que a doença representava para todos. O pânico se estabeleceu na cidade. Foi convocada e se reuniu, imediatamente, a Câmara Municipal, para ver o que poderia fazer para proteger a população. Foi nomeada uma comissão para estudar o caso.

A comissão propôs, como medida principal, a retirada, em 24 horas, de todos os porcos da cidade, pois poderiam ser vetores da doença. Acontece que, naquele tempo, muitas pessoas importantes que aqui residiam, até mesmo alguns vereadores, eram fazendeiros e tinham na cidade seus chiqueiros. Havia muito mais de mil porcos em Queluz naquela época! O tempo era exíguo. Aí pessoas de liderança na cidade que se sentiam prejudicados com a medida convocaram o povo em massa para irem à casa do presidente da Câmara, Dr, José Caetano da Silva Campolina. E cada um foi levando seu guarda-chuva, sua bengala e qualquer outra coisa que servisse de arma, como disse um jornal antigo: “como demonstração de seus intuitos ordeiros e pacíficos”...

Com muita gentileza, como era seu costume, Dr. Campolina atendeu aos queixosos, porém disse que não poderia resolver sozinho, iria consultar a Câmara, mas iria esforçar-se para atender os desejos do povo, só que os vereadores não indeferiram o pedido. Houve forte altercação entre um dos queixosos e um vereador, e o primeiro falou que os companheiros estavam dispostos a reagir à mão armada. Acabou sendo dado o prazo de mais oito dias. Preocupado, o Dr. Tavares de Mello foi a Ouro Preto e voltou com uma força de 22 praças. Acabado o novo prazo, a situação estava difícil, porém o Dr. Campolina, usando artimanha política, foi enrolando, enrolando o cumprimento da medida e, nesse ínterim, a febre acabou. E os porcos ficaram... Dias depois houve a eleição para deputados estaduais e os eleitores defensores dos porcos criaram um partido contra a chapa que eles chamaram de CHAPA DE FERRO... e ganharam a eleição graças ao episódio dos porcos.

São fatos que o conhecimento do passado nos revela, e é sempre conhecer a História porque...
...Historia est magistra vitae. (A História é a mestra da vida)


Publicado em junho de 2016 no "Correio da Cidade".