quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O DIA DA ABELHA








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O DIA DA ABELHA

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com


Passando pela Avenida Prefeito Telésforo Cândido de Rezende, vi um pequeno pé de ipê todo colorido com suas flores rosas. Lindo! E pela cidade toda árvores estão florindo. Muitos ipês amarelos desenhando alegria na paisagem, flores nas praças, trepadeiras nos muros, florzinhas nos campos ao derredor trazidas pela Primavera.

As flores são o sorriso da Natureza, a promessa dos frutos, o encantamento dos olhos. Para a existência de sua força criadora sobre a Terra contribui poderosamente um pequeno animal, que beija as flores e no bico leva o pólen que fertiliza outras plantas. O processo da polinização é um dos grandes prodígios que acontecem no planejamento divino para a vida. E a abelha é o principal agente polinizador.

Atualmente, as abelhas estão nas manchetes dos jornais e presentes em outras expressões da mídia. Há um vídeo muito importante e sugestivo, “O Silêncio das Abelhas”. Diz que a abelha “é a pedra angular do ambiente, essencial para o nosso abastecimento.” Em seguida faz um alerta: “Mas ao redor do mundo as abelhas estão desaparecendo. [...] Isso é uma incrível calamidade e representa uma incrível perda.” E mais adiante diz que a causa é uma epidemia cuja propagação os cientistas estão lutando para diminuir, senão “as abelhas poderão desaparecer para sempre. E com ela muitas cores, muita vitalidade da vida no Planeta Terra.”

A ameaça às abelhas vem de um vírus, o qual danifica o código genéticos dos insetos. Dez países já estão tendo que enfrentar esse problema. Só nos Estados Unidos já desapareceram cinquenta bilhões de abelhas, representando 40 por cento das colmeias. No Brasil, no início do ano, em Dourados, Mato Grosso do Sul, 70 colmeias de um único apicultor ficaram vazias pelo desaparecimento de quase três milhões e meio de abelhas.

Imaginem qual a suspeita de ser a causa dessa epidemia? A utilização descontrolada da Ciência por seres humano, que desejam ver resultados sem se preocupar com consequências. Trata-se da utilização excessiva de agrotóxicos, o uso de inseticidas que interferem no sistema nervoso dos insetos, isso de acordo com pesquisas que estão sendo realizadas por cientistas.

Felizmente há pessoas de consciência que procuram reverter a difícil situação.
O mel é conhecido desde a antiguidade. A criação de abelhas está documentada pelos egípcios em inscrições nas pirâmides no ano 2.600 a.C. No decorrer dos tempos, as abelhas foram cumprindo seu papel de retirar o néctar das flores e de espalhar o pólen.

3 de outubro é o Dia das Abelhas. Fazemos votos de que cresçam os projetos defensores deste pequeno, mas tão importante animal. O mel, que representa um importante fator de saúde e de prazer do ser humano, não existe sem a abelha.

Ubi mel, ibi apis. (Onde há mel, há abelha)





quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

EDUCAÇÃO, LUZ E CAMINHO PARA O MUNDO










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EDUCAÇÃO, LUZ E CAMINHO PARA O MUNDO

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinanoronhalmeida@gmail.com

Num estudo científico divulgado recentemente na revista científica The Lancet sobre as causas mais presentes na morte prematura ou na incapacidade da população mundial em 2010, as desordens psiquiátricas são apontadas como o maior problema na saúde global. Essa estatística coloca, como primeira causa dessas desordens, a depressão (40,5%) e a segunda causa, transtornos de ansiedade. Só depois transtornos derivados do uso das drogas (10,9%) e do álcool (9,6 %) e outros que apresentam porcentagem menor. E que problemas são esses senão dificuldades da vida, incapacidade de enfrentar com sucesso os sofrimentos que vão surgindo e dilapidando a alma? São a via crucis de pessoas que não estão preparadas para a vida.

Seria muito importante se, desde pequena idade, o ser humano se preparasse para o futuro de adulto. Com a complexidade dos tempos de hoje, as sobrecargas de trabalho dos pais, as crises familiares e muitos outros fatores dificultam esse preparo.

Uma solução importante seria que a escola preparasse para a vida, por ser uma entidade sistematizada e, se bem estruturada pelos currículos escolares, poderia oferecer significativa ajuda. Mas os currículos pecam por privilegiar o materialismo em detrimento do humanismo.

Mesmo com deficiências curriculares, têm surgido muitas experiência sobre “educar para a vida” ou escolas que procuram desenvolver essa filosofia. Mas são arquipélagos num mar extenso.

A História nos traz muitos iluminados pedagogos com suas teorias, como o alemão Rudolf Steiner, que em 1919, na Alemanha, almejava que as aulas fossem um preparo para a vida colocando os alunos diante de problemas reais. Ou o norte-americano John Dewey, dizendo que não havia separação entre a educação e a vida por isso a primeira devia preparar para a primeira.

Vi, num artigo pedagógico, o seguinte questionamento: “Educar para o Mercado ou educar para a Vida? Afinal, qual o papel da escola no século 21?”, e dizia mais adiante que a escola devia representar a vida. É bem verdade que o Mercado também faz parte da vida, mas nunca pode ser superior a ela, subjugá-la.

Indo mais longe, vamos a um trecho que me encanta da Ciropédia (A Educação de Ciro), livro em que o grego Xenofonte, em 360 a.C., fala sobre a educação persa: “Os meninos, freqüentando a escola, passam o tempo aprendendo a justiça; e dizem que vão à busca de aprender isso, do mesmo modo que, entre nós, os meninos dizem que vão à busca de aprender as letras.

Platão previu a decadência grega quando disse que Atenas, representante máximo do esplendor grego, foi perdendo seu valor quando “a encheram de portos e docas, de muros e de tributos, em vez de a encherem de retidão e esperança”. Estamos enfrentando uma situação também inquietante.

Tenho esperança que a Humanidade sofrida encontre, na Educação, Lumen ad Viam. (Luz para o seu Caminho)

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

UMA GRANDE DESCOBERTA HISTÓRICA




























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UMA GRANDE DESCOBERTA HISTÓRICA

Avelina Maria Noronha de Almeida
Avelinaconselheirolafaiete@gmail.c


O computador é uma caixinha de surpresas. Sempre que ligo o aparelho, enquanto ele se abre fico sempre com uma sensação forte de expectativa: o que virá hoje? Quem sabe uma novidade importante, uma descoberta feliz? Ou nada que interesse...

Há uma semana aconteceu isso comigo. Dois dias de buscas infrutíferas. Nenhuma novidade. No terceiro dia ia andando no mesmo descompasso. Já de tardinha, sentindo muito frio, fui tomar um café com a decisão de depois não voltar ao computador. Mas veio a tentação. Vou ficar só mais meia hora. Abençoada meia hora!

Coloquei no Google. Procurar o que? Vou ver se acho alguma coisa sobre os antepassados “fim de linha”. Entre tantos nomes, escolhi um que há dois anos coloco periodicamente na busca e nunca aparece nada. A última vez tinha sido há um mês. Era muita teimosia tentar outra vez. Quando apareceram os sites, o que vejo? No terceiro estava o nome que eu procurava. E a caixinha de surpresa me deu um presente. Mais ainda. Um dado importante para a história de Conselheiro Lafaiete.

Sempre se procurou saber quem havia sido o artista dos primeiros tempos da construção da Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Muitos livros sobre escultores e pintores das igrejas mineiras foram consultados sem sucesso. Não havia registros. Mistério absoluto. Pois ali estava um artigo, escrito por um pesquisador, Roberto Belisário Diniz, que encontrou acidentalmente, em um documento no Arquivo Eclesiástico da Arquidiocese de Mariana, citações a um artista ou artífice de Minas Gerais (Ouro Preto e Conselheiro Lafaiete) do século XVIII, Inácio Pereira do Amaral, o antepassado que há tanto tempo eu procurava e que tem um enorme número de descendentes em várias famílias de nossa cidade. O pesquisador então compartilhou, pelo Google, com historiadores, as informações encontradas e, graças a isso, nós, lafaietenses, fomos beneficiados com o importante resgate histórico.

O que foi descoberto está muito bem documentado, pois se trata do processo (1797) de ordenação sacerdotal de João Bento Salgado, neto dele, constando que o avô, Inácio, era pintor, escultor e ourives. Nasceu em 1698, em Angústias, Horta, ilha do Faial, nos Açores, vindo para o Rio de Janeiro e, depois para Ouro Preto, onde pintou a Igreja Velha do Rosário dos Pretos, uma imagem de São Jorge e outros serviços de pintura. Também tinha lá uma fábrica onde trabalhavam rapazes pintores. Na década de 40 do século XVIII, mudou-se para a freguesia do Campo dos Carijós, atual Conselheiro Lafaiete, onde pintou a Matriz de Nossa Senhora da Conceição.

Constam do processo depoimentos recolhido sobre ele, no final do século XVIII, na Ilha das Angústias, em Ouro Preto e na então recente vila de Queluz. Nesta última os depoimentos confirmam que era escultor, pintor e ourives e que pintara a Igreja Matriz.
Pela passagem do Dia do Artista, no dia 24 de agosto, é ao mais antigo artista que se conhece como tendo embelezado nossa terra, Inácio Pereira do Amaral, até poucos dias atrás escondido nos desvãos da História, a minha homenagem.

Por mais esta descoberta histórica, não podemos deixar de dizer:

Deo Gratias. Graças a Deus.

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

NOSSOS ÍNDIOS CARIJÓS



























Óleo em tela de Marília Batista Albuquerque

Arquivo Pessoal





NOSSOS ÍNDIOS CARIJÓS

Avelina Maria Noronha de Almeida



No site da cidade de Itu, o articulista Mylton Ottoni faz um pedido a seus conterrâneos: “Neste Dia do Índio, nós, ituanos, bem podemos voltar nossa atenção para aqueles irmãos que habitavam nosso pedaço antes de existir Itu, os Carijós...” Seguindo o exemplo do ituano, neste texto presto minha homenagem aos nossos Carijós pela passagem do Dia do Índio.

Segundo Lúcio Costa, os Carijós vieram da Amazônia. Traços delicados, temperamento brando, eram os mais mansos numa escala de agressividade das tribos e tinham relação amigável com os homens brancos, sendo as mulheres as mais belas da gentilidade.

Em 1549, Nóbrega, na “Informação das Partes do Brasil”, dizia serem eles vistos como um “gentio melhor”, e os cronistas coloniais, em seus registros, escrevem que, na chegada dos portugueses ao Brasil, “os carijós foram apresentados como um reconhecimento feliz”. E as primeiras impressões decorrentes do contato inicial entre europeus e gentio os mostram como índios “dóceis, bondosos e bonitos”.

Aníbal de Almeida Fernandes estima que, na época do Achamento do Brasil, havia de 500.000 a 1 milhão de indígenas, sendo os dois maiores grupos os Carijós e os Tupinambás, ambos com cerca de 100.000 indígenas.

Na chamada “diáspora”, eles se dispersaram descendo pelo interior ou pelo litoral, criando novas aldeias, “cotias”, até chegar no litoral do Sul, procurando a Yvy marã ei (a “Terra Sem Males”), onde as plantas nasceriam por si próprias, a mandioca já vinha transformada em farinha e a caça chegava morta aos pés dos caçadores; um lugar sem envelhecimento, morte ou sofrimento.

Quando chegaram a nossa terra, pensaram ter encontrado a “Terra Sem Males. Com a passagem tempo, a situação feliz se modificou, por isso uns fugiram internando-se nas matas; entre os que ficaram, muitos morreram na terrível seca que assolou a região; outros foram mortos pelos homens brancos desejosos de suas mulheres ou, muitas vezes, enfraquecidos pelo excesso de bebida ou vitimados pelas doenças dos brancos, para as quais não tinham resistência.

Mas, se aos poucos desapareceram como gentio, permaneceram fortemente na nova raça formada pela miscigenação com o branco e com o africano, estando até hoje presentes no sangue que corre nas veias de grande parte dos lafaietenses.

Assim, os primeiros donos de nosso rincão não foram vencidos pelos posteriores habitantes. Aqui chegaram, viram o solo fértil e vigoroso parecido com a sua “Terra Sem Males” e venceram pela permanência em nossas etnia e história. É como se a índia altiva da praça Tiradentes, representando sua gentilidade, dissesse, como César participando ao Senado a sua vitória sobre Farnaces II, rei do Ponto:

“Veni, vidi, vici” (Cheguei, vi e venci).

PASSADO, PRESENTE E FUTURO














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PASSADO, PRESENTE E FUTURO

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

(Crônica escrita em 2011)



“A vida só pode ser entendia olhando-se para trás. Mas só pode ser vivida olhando-se para frente.” É o que diz Kierkegaard, filósofo e teólogo dinamarquês. Estamos no presente mas temos, com a graça de Deus, a capacidade de contemplar o passado e imaginar o futuro, o que dá uma continuidade e sentido à nossa vida.

Virando as páginas do livro do passado, parei no dia 26 de março de 1711, tricentenário da concessão, a Jerônimo Pimentel Salgado, da primeira sesmaria de nossa terra que, a partir daquela data, entrou na legalidade. Quando Jerônimo solicitou a sesmaria, já tinha aqui suas plantações. Parece-me que era um homem de grande capacidade de trabalho e mesmo importância. Em 1714 era Guarda-Mor em Itaverava. Lavrando a terra, alimentava os que viviam em Carijós ou nas proximidades, talvez até mesmo em outros lugares. Estamos vivendo hoje naquelas terras que foram de seu domínio, pois quase a totalidade do perímetro urbano nelas se localiza. Um pouco de sua vida deixou aqui sua marca. Marca verde de aproveitamento do solo que, naquela época, era feito de forma sustentável. Tive uma visão prazerosa de matas verdes, rios límpidos, o ouro brilhando nos regatos e na areia. Claro que, como em todas as épocas, aquele tempo tinha também as suas mazelas, mas o episódio que está sendo comemorado é significativamete feliz.

Voltando-nos para o presente, ligando os aparelhos da Mídia, assistindo aos noticiários, lendo os jornais, muda-se o cenário. Há muita destruição, muita luta inglória. Sofrimento em várias partes do nosso mundo e, infelizmente, grande parte dele causado pela imprudência do homem, às vezes um aprendiz de feiticeiro que desencadeia forças poderosas e depois é incapaz de controlá-las... É o caso das energia atômica trazendo a maior inquietação e angústia, levando poderosos da terra a rever seus sonhos megalomaníacos. Até a alimentação, fonte de sobrevivência e prazer, em certos lugares traz a marca do medo.

E assim, “A criação geme em dores de parto” – este é o lema da Campanha da Fraternidade deste ano, bem pertinente para o caos que atravessamos. A esperança é que o alerta da natureza tenha chegado a tempo para mudanças de comportamento que atenuem a gravidade das ameaças.
Quanto ao futuro, é apenas imaginação, um ponto de interrogação flutuando no espaço, mas devemos nos voltar para ele visualizando metas positivas, que poderão ser alcançadas com a aprendizagem das lições do passado e do presente e com a formação de uma nova mentalidade, voltada para a meta de um futuro melhor, principalmente nas escolas.

Praeteriti ratio scire futura facit. (A avaliação do passado faz conhecer o futuro)

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

VALOR CÍVICO QUELUZIANO


















Óleo em tela de Cidinha Dutra



VALOR CÍVICO QUELUZIANO

Avelina Maria Noronha de Almeida



Em 1842 houve um levante dos liberais das províncias de São Paulo e Minas Gerais, originado pelas disputas políticas entre Liberais e Conservadores. Iniciado em São Paulo, prosseguiu em Minas Gerais. Queluz, a segunda cidade mineira a apresentar sua adesão, foi o único lugar em que as tropas legalistas foram vencidas. Graças à estratégia utilizada por Marciano Pereira Brandão, ao amanhecer do dia 26 de julho a tropa legalista foi surgindo dos matos que rodeavam o Largo da Matriz (atual Praça Barão de Queluz), acenando com lenços brancos na ponta das baionetas.

Acontece, porém, que a sedição foi vencida nos outros lugares. E vieram as retaliações aos insurgentes: perseguições, prisões, sequestro dos bens dos liberais derrotados pelas tropas de Caxias. Foram presos, entre outros, o Cônego Antônio Marinho, o padre Gonçalo Pereira da Fonseca, Francisco Pereira de Assis, tio paterno do Conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira. Só em 1844 o Partido Liberal subiu novamente ao poder os liberais envolvidos foram anistiados.

Essa revolta é apresentada às vezes com o nome de Revolução Liberal de 1842, porém outros já a denominam de Movimento Liberal de 1482, alegando que o termo “revolução” indica um movimento de tão grandes proporções que provoca uma transformação profunda, uma ruptura política, alterando a ordem vigente. Isso é verdade: não houve alteração na estrutura política.

Mas, se não foi uma revolução política, as consequências do movimento significaram uma verdadeira e benéfica revolução geográfica e sociológica em grande parte do território mineiro, realizada pela força dos valentes queluzianos. Por quê? Para evitar os sofrimentos das perseguições que atingiriam a eles e a suas famílias, liberais queluzianos em duas semanas organizaram suas mudanças e se embrenharam pelo sertão. 38 famílias, constituídas por 127 mulheres, 158 homens; 49 crianças de 0 a 18 ano e 159 escravos de ambos os sexos, levando seus carros de bois, reses, animais de tropa e tanta coisa mais seguiram Marciano Pereira Brandão, o grande estrategista da vitória.

Dirigiram-se para a Serra do Salitre. Por certo um doloroso êxodo, com todos os sofrimentos da separação de familiares, da perda de patrimônios, dos desconfortos de uma jornada cheia de inquietações e mesmo de perigos. Porém eram gente valorosa, esses queluzianos! No caminho roçavam matas, faziam plantações, fundavam fazendas, arraiais. Ajudaram a povoar e colonizar grande parte de Minas, tornando-se muitas vezes líderes respeitados, como aconteceu em Leopoldina, Patrocínio, Piumhi, Desemboque, Cataguazes, Uberaba, Araxá... a lista é grande. Mudaram a face de grande parte do território mineiro levando a presença queluziana com nossos costumes, tipo de vida e valor cívico. Não foi uma verdadeira revolução geográfica e sociológica?

Cumpriu-se a frase latina: “A magnis maxima”. (De grandes causas, grandes efeitos)

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

ELOGIOS AO BRASIL


















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ELOGIOS AO BRASIL

Avelina Maria Noronha de Almeida


Victor Hugo, grande poeta, dramaturgo e romancista francês, encantou-se com os escritos de viajantes estrangeiros que vieram ao Brasil no século XIX, tornando-se um grande admirador de nossa pátria. Em seu romance “Os trabalhadores do Mar” encontra-se este belo trecho: “Na cidade do Rio de Janeiro, ele tinha visto as mulheres brasileiras colocarem, à noite, em meio aos cabelos, pequenas bolas de gaze, contendo cada uma vagalumes, bela mosca de fósforo, o que as deixa penteadas de estrelas”.

Na coletânea “Canções das Ruas e dos Bosques”, de 1865, oito dos poemas evocam Rosita Rosa, nome que esconderia uma conquista do autor, vinda “desse Brasil / Tão dourado que faz do resto / Do universo um exílio”. Em 1883, compôs um poema em que celebrava “o vasto Brasil de árvores semeadas de ouro”. Assim inicia outro poema: “Amo vossa pátria de sempre puro céu”, o qual termina de maneira muito agradável para nós: “O momento é crítico. Ah! Tomai a mão / Do grande futuro que vos aguarda./ E assim sob as árvores douradas num Brasil sem fim, Passarão o Progresso, a Força e a Luz: / A aurora de estio em vossa tez reluz”.

São palavras que se sabe sinceras e caem bem em nosso ego de brasileiros, mas outras palavras me impressionaram mais ainda, não apenas literárias mas bem reais, proferidas por uma personalidade ilustre, um dos importante ícones culturais brasileiros da atualidade, nome respeitado e digno de todo o crédito: O maestro Júlio Medaglia.

Esse grande músico criou o programa “Prelúdio”, exibido pela TV Cultura, reunindo jovens talentos que apresentam repertório erudito em atração com júri e platéia, já há cinco anos no ar, sensibilizando e formando culturalmente o auditório e, ao mesmo tempo, servindo de incentivo para artistas em início de carreira. Neste ano, o vencedor ganhará bolsa de estudo na Alemanha e participará como solista de um concerto regido por Medaglia.

Em uma entrevista o maestro, que na época estava chegando da Europa, onde passara por vários países, entre eles Alemanha, Bulgária, Hungria e Áustria, acusava os veículos de massa da perda da qualidade da música brasileira devido a razões de mercado. Comentando que o mesmo problema afeta as programações de radiofônicas no Velho Mundo, concluiu:

“Lá é ainda pior, porque não têm cultura popular tão rica como a nossa”.

Como é importante ler esta frase, vinda de uma autoridade no assunto e figura altamente respeitada no mundo artístico! Como é bom ler o depoimento de Victor Hugo sobre nosso País.

Com tantos problemas que nossa nação enfrenta, faz bem, a quem ama o Brasil, ouvir falar bem dele e do seu povo!

Disse Ovídio: “Amor patriae ratione valentior omni”. (O amor da pátria é mais importante do que qualquer razão)

DEUS NOS ACUDA!
















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DEUS NOS ACUDA!

Avelina Maria Noronha de Almeida


“Deus nos acuda” foi uma telenovela da Globo, de Sílvio de Abreu, que foi apresentada no início da década de 90. A vinheta de abertura, criada pelo genial Hans Donner e equipe, era extremamente sugestiva. Um símbolo dos tempos que corriam. Uma festa da elite, vestidos lindos, smokings, garçons equilibrando as bandejas, cristais, pessoas bebendo, divertindo-se, dançando sorridentes ao som de Gal Costa... e, de repente, o salão é invadido por um mar de lama que vai cobrindo os pés, tornando-se mais alto, atingindo os ombros, os rostos até que tudo submerge. Enquanto isso acontece, as pessoas continuam rindo, conversando animadamente, comendo e bebendo com naturalidade, totalmente alheias ao perigo da situação., até ficarem totalmente submersas.

Lendo notícias do Brasil e do Mundo, de repente essa abertura me veio à mente, nítida como se a estivesse vendo, naquele momento, tão fortemente me impressionara na época. E pensei: não estamos vivendo um contexto semelhante, sem tomar consciência da ameaça que nos pesa sobre a cabeça devido ao que se passa pelo mundo afora? Tantas tragédias: terremotos, tsunamis, erupções de vulcão, ciclones, enchentes... Catástrofes uma atrás da outra. É verdade que sempre ocorreram tais fenômenos, porém em tão larga escala? Os danos causados à Natureza não estarão interferindo, provocando a sua reação, levando-a a nos tratar da mesma forma?

Na década de 70, Carl Sagan, que então apresentava uma série de programas na TV, disse que o homem estava tirando tantos materiais de dentro da terra que, aos poucos, ela se tornaria como uma laranja murcha e isso afetaria a inclinação de seu eixo com graves consequências. Seriam palavras proféticas?

Um vulcão espalhando suas cinzas no ar, petróleo derramando-se no mar. Sinais de alerta? A euforia em ultrapassar limites naturais não terá transformado o homem em um “aprendiz de feiticeiro”?

Enquanto isso, movidos pela paixão do domínio e do lucro, grande parte da humanidade preocupa-se com avanços tecnológicos, limites de terra, sucesso monetário. Homens e países ameaçam, agridem, retaliam, em vez de se unirem para traçarem uma estratégia salvadora de nosso pobre planeta. Nem pensam que, se não forem tomadas medidas urgentes, serão vãs, talvez em pouco tempo, suas preocupações atuais. Não estarão como aqueles personagens da vinheta? E nós, em geral, também, não estaremos omissos, alienados?

Parece que o jeito é pedir emprestado ao Sílvio de Abreu o título da novela e clamar:
DEUS NOS ACUDA!!!

Porém é preciso fazer também a nossa parte. Não sigamos o conselho encontrado nas Odes de Horácio:

Dona praesentis cape laetus horae, linque severa. Colhe com alegria as dádivas da hora presente, foge das questões sérias.

DIA DAS MÃES










Após falecimento de Assis Milagre, em cerimônia em homenagem a ele, sua mãe recebe a comenda Allex Assis Milagre. À sua direita, o pai de Allex, José Bonifácio Milagre


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DIA DAS MÃES

Avelina Maria Noronha de Almeida


Cornélia, nobre matrona da antiga Roma, esposa de Tibério Semprônio Graco, certa vez recebeu a visita de uma patrícia muito vaidosa e frívola, amante da ostentação, e que só falava dos luxuosos trajes e preciosas jóias que possuía. A dona da casa ouvia pacientemente a interlocutora até que, em certo momento, esta lhe disse:

- Não há nada que eu goste mais de ver do que jóias. Mostrai-me as vossas. Devem ser muito belas e de valor.

Cornélia levantou-se e saiu da sala, voltando pouco depois trazendo, pelas mãos, dois de seus filhos, Tibério e Caio, que mais tarde seriam homens notáveis e heróicos. Mostrou-os à visitante e falou com sadio orgulho:

- Haec ornamenta mea (Eis as minhas jóias).

A frase se tornou famosa, muitas vezes citada para homenagear mães dedicadas e amorosas e filhos que demonstrem valor.

Allex Assis Milagre, que por tanto tempo ocupou este espaço, é uma jóia que continua viva no coração de sua mãe Isaura Assis Milagre. Quis dar, ao querido amigo, a oportunidade de, ainda uma vez, saúda-la, com toda a sensibilidade de sua alma de poeta, pela passagem do Dia das Mães, o que se torna possível pela perenidade da palavra escrita que vence qualquer distância, mesmo a da morte.

À MINHA MÃE

Allex Assis Milagre


Bem sei que lutas, debalde, com amor,
A resguardar do mundo, o filho teu,
Da sorte vil, da mágoa e da dor,
Velando, assim, o leve sono meu.

Bem sei que almejas levar-me pela mão,
Iluminando o meu peregrinar,
Inda que sofra teu nobre coração
Dilacerado muito por penar.

Mas se fitares a cruz do Redentor,
Erguida aos céus no lúgubre Calvário,
Entenderás porque te amolas tanto:

Verás teu filho, naquele santuário,
A enxugar, da mãe, o dolor pranto,
A inebriar-se co’o sangue do Senhor.

Para terminar, o espaço é da nobre língua de Petrarca:

Arbor bona fructus bonos facit (A boa árvore dá bons frutos).

DIA DO PROFESSOR












Arquivo de Cleonice Libânio




DIA DO PROFESSOR

Avelina Maria Noronha de Almeida

Escrito em outubro de 2012



Pela passagem do “Dia do Professor”, queria homenagear aqueles que se dedicam à belíssima arte de educar e ensinar. Para representar a nobre classe nesta homenagem difícil fazer a escolha, tantos e tantos são e foram os mestres ilustres que brilham e brilharam nos cenários presente e passado da história de Conselheiro Lafaiete.

Do passado, caiu a escolha sobre o Mestre José Crisóstomo de Mendonça, dos primeiros tempos da Real Villa de Queluz. Era um sacerdote, esse Professor Régio de Primeiras Letras de Queluz, e devia desempenhar muito bem sua missão, tanto que a Câmara da vila deixou documentado que havia frequentado sua aula pessoalmente, elogiando-o e atestando que ele desempenhava sua função “com louvável zelo e cuidado, do que resulta adiantamento aos seus discípulos e contentamento dos Pais, sem que até o presente tenha havido queixa alguma contra ele e seu exemplar procedimento”. É um registro de passado distante.

Da época contemporânea, entre tantos nomes merecedores de aplausos, não poderia deixar de escolher Maria Augusta Noronha, não por ser minha mãe, mas porque neste 13 de outubro transcorre seu centenário. Diretora, professores, funcionários, alunos, enfim, a comunidade escolar do estabelecimento que tem seu nome, Escola Estadual “Professora Maria Augusta Noronha” estão comemorando com atividades diversas, culminando com a Santa Missa na Matriz de Nossa Senhora da Conceição, às 10 horas do dia 13. Sou-lhes muito grata.

Maria Augusta iniciou sua carreira na escola rural da Água Preta, localidade próxima à cidade, para aonde ia quase sempre a cavalo. Lembrava-se com especial carinho desses alunos, entre eles o expedicionário Eugênio Martins Pereira, morto em combate na Segunda Guerra Mundial. Ao passar em sua casa, ele ia correndo acompanhando o cavalo até chegar à escola.

Reiniciou seu trabalho com o Curso Noturno para adultos no Grupo Escolar “Pacífico Vieira”, um trabalho muito bonito e que tinha a frequência, entre outros alunos, de um grupo de alunas na faixa de oitenta anos que tinham verdadeiro amor pela mestra.

No Grupo Escolar “Inconfidência” decorreu a maior parte de sua vida no ensino: professora por mais de dez anos, depois diretora por 21 anos, até que foi aposentada compulsoriamente pela idade. Quando recebeu a notícia da aposentadoria, foi ferida dolorosamente no coração e disse desoladamente:

“ – Eu ainda tinha muita coisa a fazer.”

Mesmo como diretora, seu maior tempo passava dentro das salas de aula, ajudando na alfabetização e nas outras atividades. O “Inconfidência” foi uma bênção em sua vida. Ali floresceu com todos os dons com que Deus a presenteara. Maria era a alma de tudo. Cercada de um excelente corpo de professores e auxiliares, realizou uma obra realmente grandiosa.

Maria Augusta Noronha, como professora, soube bem viver e ensinar, como bem disse Thomas van Kempis, em Hortulus Rosarum:

“Qui bene vivit, bene docet.” (Quem bem vive bem ensina)

FRAGILIDADE DOS IMPÉRIOS

















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FRAGILIDADE DOS IMPÉRIOS

Avelina Maria Noronha de Almeida


As notícias veiculadas constantemente pela mídia me levaram a pensar sobre a história dos impérios.

No Século XIX, o inglês Cecil Rhodes dizia que seu país só resolveria os problemas daquela época com a expansão territorial. À noite, ele olhava as estrelas luzindo no firmamento e lamentava que elas estivessem fora do seu alcance. Dizia: “Se eu pudesse, anexava os planetas”.

O sentido clássico da palavra “império” é de um vasto território, de uma nação que domina outra ou outras, quase sempre por expansionismo militar.

O caminho da Humanidade apresenta, desde os primeiros tempos do “homo sapiens”, vários impérios que surgiram no horizonte, tiveram seu zênite e, finalmente, foram se enfraquecendo como o sol que mergulha nas sombras na noite.

Nos tempos passados, os mais famosos foram o Império Persa, por volta de 500 a.C., cujo território se estendia pela Ásia, África e Europa. O império do Japão, que se espalhava pela China e pelo Sudeste Asiático. O Império Romano, em seu auge, cerca de 117 d.C., ocupou uma boa parte do Mapa Mundi. O Otomano dominava 6,3 milhões de quilômetros quadrados e o Macedônio, de Alexandre, o Grande, 5,4 milhões. Todos eles, “colossos com pés de barro”, tiveram seu fastígio, depois entraram em decadência.

Com o decorrer dos tempos, outros surgiram, mas também perderam a hegemonia, devido, geralmente, a seus pecados históricos

No século XX, vários países se envolveram em guerras imperialistas, com milhões e milhões de mortos e terríveis destruições e ruíram impérios que tinham sido poderosos, pois ventos de revolta sopraram em vários lugares derrubando o jugo do colonianismo.

Emergiu o neo-imperialismo, ampliando o significado do termo. Assim temos também o Império Nuclear, o Império de Hollywood, o Império da Coca-Cola... O Império Cibernético já estendeu suas redes pelo mundo inteiro. O Império do Medo nos faz levantar muros, colocar grades. O Imperialismo Capitalista, que estremece com as crises econômicas afetando países considerados, até então, poderosos, não consegue mais ocultar sua fragilidade.

É isto. Os impérios têm o destino de serem efêmeros...

Dizem que um general romano amarrou em seu carro um chefe bárbaro, prisioneiro de guerra, levando-o para desfilar caminhando diante da multidão. O bárbaro ia de cabeça baixa, como se examinasse as rodas do carro a que estava atrelado. O romano então lhe disse:

“– Levanta a cabeça para ver a minha vitória!”

E o bárbaro lhe respondeu:

“ – Estou vendo algo mais interessante: os raios da roda do teu carro.”

“– O que há com eles?”

E veio a exemplar resposta:

“– Eles sobem e descem. Os que estão no alto descem e se misturam com o pó da terra e assim vão, girando... girando... girando...”

Cum fovet fortuna, cave nanque rota rotunda. (Quando a fortuna te for favorável, toma cuidado porque a roda gira)


domingo, 8 de dezembro de 2013

O DIA DA JUSTIÇA
















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O DIA DA JUSTIÇA

Avelina Maria Noronha de Almeida



O Direito brasileiro herdou, do Direito romano, o símbolo da deusa da Iustitia: uma mulher de olhos vendados, com uma espada e uma balança nas mãos. Tem os olhos vendados simbolizando a imparcialidade da justiça. O Dia 8 de dezembro foi escolhido, por decreto federal, para homenagear o Poder Judiciário.

A antiga Queluz tem uma tradição brilhante no campo do Direito, do qual o nosso patrono, Conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira, é um consagrado luminar. São considerados de grande valor seus livros “Direito de Família”, “Direito das Cousas” e “Princípios do Direito Internacional Público”. Vários outros nomes ilustres poderiam ser citados no decorrer da História até os dias de hoje, mas isso seria impossível no espaço de uma crônica. A eles, uma homenagem de reconhecimento pelo seu valor.

Mas não se pode esquecer a figura dos rábulas na História Lafaietense. Também eles merecem homenagem.

Nos tempos do Brasil Colônia e do Império, a advocacia era desempenhada por bacharéis formados pela Universidade de Coimbra, em Portugal. Mesmo depois das primeiras turmas formadas pela Academia de Direito de São Paulo e pela de Olinda, não havia ainda no Brasil número suficiente desses profissionais para a administração da Justiça, principalmente no interior. Por isso, em 24 de julho de 1713, ficou estatuído que, fora da Corte, qualquer pessoa idônea, mesmo que não formada, poderia tirar uma licença, chamada de provisão, para que fosse suprida a demanda de advogados.

Para conseguir a concessão para advogar, os provisionados tinham de se submeter a exames de suficiência (teóricos e práticos) perante o juiz da Comarca, os quais depois tinham de ser aprovados pelo Tribunal da Relação. Além disso exigia-se que fossem pessoas idôneas e de cultura. A validade da licença era de dois anos, podendo ser renovável.

Queluz teve ilustres rábulas, inteligentíssimos, bons argumentadores, conhecedores das leis, argutos e eloquentes oradores. Entre os muitos dos nossos rábulas brilhantes estão Felipe Néri de Pádua e Francisco Nemézio Néri de Pádua, pai e filho, que ficaram famosos pela inteligência e ardor na defesa da Justiça.

Muitos estranham o fórum da cidade chamar-se Fórum Assis Andrade, sendo esse queluziano um médico e não um advogado. Mas aqui está a explicação: ele, além de exercer a Medicina, foi um notável rábula, destacando-se nesse cargo tanto quanto no de médico.

Hoje já não há rábulas nem os lafaietenses precisam de ir estudar em Coimbra, como no passado distante, ou em outras cidades brasileiras, como no passado mais recente, porque a cidade se orgulha de possuir, desde 1970, a Faculdade de Direito de

Conselheiro Lafaiete para formar os defensores da Justiça, sobre a qual diz o provérbio latino:

“Iustitia omni auro carior.” (A Justiça é mais preciosa que todo ouro)


NO CAMINHO DO PROGRESSO



























"Os governadores", de José Joaquim Viegas de Menezes,Vila Rica, 1807

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NO CAMINHO DO PROGRESSO

Avelina Maria Noronha de Almeida


Comemora-se, no dia 5 de janeiro, a criação da Tipografia no Brasil, com o alvará de D. João de 5 de janeiro de 1808 liberando o funcionamento de gráficas no Brasil, o que havia sido até então proibido. Foi assim que surgiu a Imprensa Régia, no Rio de Janeiro, para imprimir documentos, decretos e livros. Logo depois passaria a circular, com informações oficiais, o primeiro jornal brasileiro, “A Gazeta do Rio de Janeiro”.

Porém, extra-oficialmente, a província de Minas Gerais já havia dado antes o primeiro passo concreto na tecnologia da informação, com José Joaquim Viegas de Menezes, um sacerdote mineiro, nascido em Vila Rica, que exerceu em sua vida as seguintes habilidades: gravador, pintor, impressor e ceramista.

Embora tivesse saúde muito frágil, teve uma existência frutuosa como intelectual, artista plástico e cultor das artes gráficas. Um dia o presidente da Província de Minas, Pedro Maria Xavier de Athayde e Melo, conhecedor das habilidades do sacerdote, chamou-o dizendo que gostaria de ver impresso um poema que recebera, como homenagem, de Diogo Ribeiro de Vasconcelos e o encarregava da tarefa. Padre Viegas alegou não poder executar a impressão porque havia a proibição da atividade de imprensa e que era severa a punição para quem ousasse infringi-la. Mas o governador insistiu e ainda disse que não se preocupasse com os riscos da impressão. “Oh! Se é só isso, não se aflija, tomo sobre mim toda a responsabilidade: mãos à obra, meu Padre.”

Foi assim que, graças ao Pe. Viegas, Minas Gerais tem o pioneirismo na impressão oficial no Brasil, em 1807, imprimindo o poema de 14 páginas, utilizando a técnica da calcografia (chapa de metal fixa). Ao primeiro passo no setor tipográfico do brilhante sacerdote, seguiu-se o segundo, em 1821, pois foi o responsável pela criação da primeira tipografia no país, auxiliando um português residente em Vila Rica a fundir os tipos, construir e prelo e todas as outras peças para funcionar uma tipografia.

Foram os primeiros tempos, em nosso País, de uma atividade que constitui importante fator de desenvolvimento, pela ampliação das possibilidades de Comunicação e da disseminação da Cultura entre os seres humanos.

Pessoas como José Joaquim Viegas de Menezes, um nome quase esquecido nos dias de hoje, fazem, com sua força de trabalho e idealismo, sem medir esforços e sem temer dificuldades, o mundo caminhar. Assim contribuem para que isso se processe de forma positiva, fecunda e benéfica, pois, dia a dia...

...”omnis creatura ingemiscit et parturit.” (...o mundo está no trabalho de alguma coisa)

CRISE NA EDUCAÇÃO















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CRISE NA EDUCAÇÃO

(Escrito em 2012)

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com




Um arquétipo da cultura universal que mais me impressiona é o de Sísifo, condenado a empurrar uma grande pedra morro acima e, quando chega lá no alto, a pedra rola e ele tem que fazer de novo todo o doloroso percurso.

Nos últimos dias do ano, é inevitável que se faça um balanço do período que está chegando ao fim. Problemas foram resolvidos, objetivos chegaram ao fim proposto, houve realizações... No entanto, quanta coisa ficou para trás, quantas vezes fomos incompetentes, andamos, andamos e ficamos no mesmo lugar – inglórias lutas...

Sísifo me veio à mente mais por causa do Brasil. Nestes últimos meses, as notícias trazidas pela mídia têm estarrecido as pessoas conscientes na área da Educação, não só na Fundamental e na Média, mas também na Superior em áreas fundamentais para a segurança e o bem-estar dos brasileiros. Os problemas do Ensino constituem um rochedo pesado, levado a “trancos e barrancos” para, chegando ao final do ano, despencar novamente até a escalada no ano vindouro.

Culpa de quem? Não é, certamente, dos Professores, dos Orientadores ou dos Diretores, diretamente ligados à problemática. Estes são, depois dos alunos, as maiores vítimas, empurrando o rochedo na difícil tarefa. Com a graça de Deus, muitos alunos conseguem superar as dificuldades, chegar e manter-se firmes no alto da montanha, para gáudio e consolo dos mestres e envolvidos no processo.

Então de quem é a culpa? Com a minha experiência de quarenta e oito anos de Magistério, testemunha e vivenciadora do, embora prazeroso, difícil caminhar, há muito venho repetindo: a culpa é do sistema, que tem falhado na organização dos currículos, gastando tempo, palavrório e papel, mudando estratégias por mudar, sem conseguir alcançar o resultado necessário.

Em um “Bom Dia Brasil” desta semana, que focalizou o último desses escândalos escolares, Alexandre Garcia, após um comentário de Adib Jateme, concluiu brilhantemente: “Quem pensa no futuro é sonhador; quem pensa no presente é realista; quem pensa no passado está cheio de saudade...”

Minas Gerais deve ter saudades do seu passado, do tempo em que viveu a “Idade de Ouro” do seu Ensino, na primeira metade do século XX, quando o célebre psicólogo suíço Claparède veio a Minas Gerais e ele e sua ex-aluna Helena Antipoff deram lúcida e preciosa contribuição à organização do Ensino Mineiro.

Faço também minha conclusão: Parem com o festival de tentativas aleatórias, de fantasias e excessos curriculares. Voltem o Ensino à “década de quarenta” do século passado, com seu senso de realidade e sua excelência, e a locomotiva entra nos trilhos.

Ouçamos o alerta dos latinos:

“Abiciens disciplinam cito sentiet ruinam.” Quem abandona a educação logo sentirá a ruína.

VALOR CULTURAL E RECONHECIMENTO














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VALOR CULTURAL E RECONHECIMENTO

Avelina Maria Noronha de Almeida


Uma bela realidade é a “Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette”, ACLCL, que realizou no sábado, dia 28 de maio, uma sessão solene de necrológio de Antônio Luiz Perdigão Baptista, membro da Academia, museólogo, historiador e um dos maiores benfeitores de nossa terra.

Esse momento cultural aconteceu em uma sala do Museu, ao qual o ilustre homenageado dedicou a vida. O prédio passou por caprichosa recuperação e, sem perder o clima sugestivo do passado, agora se apresenta agradável e com bastante conforto.

Foi uma graça de Deus que o ilustre lafaietense chegou a ver aquele local renovado e bonito como era o seu sonho. Pouco antes de seu falecimento, sorridente contou-me como estava feliz e entusiasmado com a obra. Embora de forma diferente do que ele deve ter sonhado, inaugurou a nova etapa da vida de seu museu.

Na frente, voltado para os assistentes, em um tripé, uma quadro que ostentava o rosto do homenageado, na pintura do talentoso e brilhante artista Sérgio Trajano. O tempo todo, Perdigão nos contemplava, um sorriso alegre, o rosto luminosamente destacando-se no fundo escuro. De relance lembrei-me de Michelangelo Buonarroti: “Parla, Moisés!” E parecia mesmo que o nosso amigo acadêmico, um “imortal’, queria dizer alguma coisa, como “Obrigado pela presença de vocês!”

No decorrer da solenidade, cinco dos presentes usaram da palavra. Quatro acadêmicos: Wilson Baêta de Assis, que fez o laudatório; Carlo Menezes, que, assim como o Perdigão, foi um dos organizadores e fundadores da Academia; Wolmar Olympio Nogueira Borges, do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e Douglas de Carvalho Henriques, atual presidente da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette. No final, representando a família do homenageado, tomou a palavra seu sobrinho, Laércio Paloma Batista.

E o que se ouviu naquela sala impregnada de História e da lembrança do historiador que ali deixara sua marca, foi algo indescritível! Cinco discursos. Cinco peças oratórias todas elas da mais eloquente retórica, repassadas do mais sincero sentimento, proferidas na mais apurada forma, cultamente profundas em sua essência.
Nunca presenciei um momento tão elevado. Saí dali com o espírito iluminado, saciada em fontes tão puras de erudição.

Deus seja louvado! Em Conselheiro Lafaiete temos Cultura e também sabemos louvar quem traz benefícios para a cidade.
Antônio Perdigão sonhou... Sonhou muito alto. Com o trabalho de décadas conseguiu realizar o seu sonho.

Cabe muito bem a ele a frase:

Labor improbus omnia vincit. (Com paciência e perseverança, tudo se alcança)

CAMPO ALEGRE DOS CARIJÓS





















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CAMPO ALEGRE DOS CARIJÓS

Avelina Maria Noronha de Almeida


           
Com o nome “Campo Alegre dos Carijós” iniciou-se a nossa terra. Vindos da Amazônia, os Carijós desceram o litoral em busca da “terra sem males”, um lugar paradisíaco segundo sua crença religiosa. Embora catequizados, nossos índios conservavam certamente muita coisa de sua religiosidade. Mata luxuriante, ribeirões e regatos brilhando ao sol pelo ouro que carregavam, ar puro, muita fruta, julgaram ser o paraíso procurado e resolveram ficar no aprazível vale.
           
Mas quem teria dado esse nome que acabou permanecendo até 1790? E por que alegre? Seria pela encantadora natureza, batida pelo sol, alegria para quem a visse?

Alegam alguns historiadores que os Carijós eram apenas mestiços. Mas no“Suplemento ao Vocabulário Português e Latino, que acabou de sahyr à luz”  editado no ano de 1721, de Padre D. Rafael Bluteau, o verbete “Carijós”, os apresenta como “gentio do Brasil”. O que é uma confirmação de sua natureza como raça indígena.
           
Outro livro, mais antigo ainda, “Notícias curiosas e necessárias das cousas do Brasil”, escrito pelo Padre Simão de Vasconcelos, publicado em 1668, diz que esses gentios acreditavam na imortalidade da alma e na outra vida; para eles, os corajosos, após sua morte, teriam uma recompensa: “...se ajuntam a ter seu paraíso em certos vales, que eles chamam campos alegres (quais outros Elísios) e que ali fazem grandes banquetes, cantos  e danças.”. Campos Elísios eram um paraíso pré-helênico, de acordo com a mitologia, lugar envolvido por uma perpétua luz rosa, cheio de árvores e ventos suaves onde os bons, após a morte, viviam em paz e perfeita felicidade.
           
Os Carijós, deram ao vale que margeia o Rio Bananeiras, o nome de “campo alegre”, ao qual chegaram sem ter passado pela morte. Os brancos, que chegaram depois, complementaram: “dos Carijós”. Formou-se, assim, um elo entre a denominação conservada mesmo após a extinção da tribo e as anotações do século XVII, provando a natureza de “gentios” dos primeiros habitantes, clareando um dos pontos brumosos do início de nossa cidade. E mais: vê-se que o “Alegre” não se referia apenas à natureza bela mas, também, às manifestações de alegria em “banquetes, cantos e danças” que seriam usuais entre eles.
             
Confirma-se também a localização da tribo na parte abaixo da linha férrea, por ser um vale, um campo, como o nome sugere.
           
Disse Francisco de Paula Ferreira Rezende, Juiz de Direito em Queluz em meados do século XIX, que o nosso povo era muito festeiro e que todos contribuiam para as festas. Seria um Campo Alegre de Queluz?
           
E atualmente não encontramos sinais do Campo Alegre nos nossos Encontros de Corais, de Bandas, de Congados, nos Festivais de Teatro e em outras festividades?
           
Como diz a frase latina:

            Mutantur do omnia, interit do nihil. (Tudo muda, mas nada é perdido verdadeiramente)

DIA DE LEMBRAR




















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DIA DE LEMBRAR

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

“Dizem que você morre duas vezes. Uma vez quando para de respirar e uma segunda vez um pouco mais tarde, quando alguém diz o seu nome pela última vez.” Deveria ir um pouco mais adiante: ou quando alguém ler o seu nome ou se lembrar de você. Esta frase de Banksy, um grafiteiro inglês famoso, trouxe-me reflexões pela passagem do Dia de Finados.

É uma data que traz de maneira mais forte a lembrança dos entes queridos que já se foram. Não é que tenhamos nos esquecido deles, mas é algo especial. Dia de levar flores aos túmulos e orar. A frase do início diz da importância de venerarmos a lembrança de quem passou pelo mundo.

Esse tema da existência após a morte tem sido muito estudado e vertentes diversas procuram explicações, mas, afinal, tudo ainda é um mistério abordado em teorias e ficções. Na década de 40, um filme fez o encantamento da criançada: “O Pássaro Azul”, com a menina prodígio Shirley Temple (há algum tempo fizeram uma versão nova, porém a mais antiga é imperdível). Dois irmãozinhos, Mytil e Tyltil, indo por toda parte procurando um pássaro azul, chegando ao passado, vêm os avós sentadinhos em um banco e dormindo. Ao se aproximarem, os velhinhos acordam e começam a conversar com os netos. E a avó diz: “– Estamos mortos só quando somos esquecidos”. Depois ainda diz outra frase significativa: “– Todas as vezes em que se lembram de nós, acordamos. Lembrem-se da gente. Não sabem como isso é importante!”

Quem sabe a ficção, algumas vezes, intua alguma realidade encoberta...
Por isso fico gosto de ver aquele mundo de gente no Dia de Finados, lembrando-se carinhosamente de seus mortos.

Muitas pessoas, porém, passam-se os tempos, os parentes que conviveram com elas também morrem, e elas ficam esquecidas. Quem não teve oportunidade de seu nome ter aparecido em algum livro ou algo que fique preservado, vai indo cai no esquecimento.

Um lafaitense de coração muito grande, Gilberto Victorino de Souza, que deixou quatro livros de crônicas, Recordar e Viver” e conteúdo para mais seis livros em jornais de nossa terra, focalizava destaques da história, vultos importantes, mas também fazia belas crônicas focalizando lafaietenses, às vezes pessoas grandiosas no seu viver, mas longe de holofotes ou de mídias que lhes dessem destaque. Quantas pessoas moradoras em nossa cidade de quem eu nunca tinha ouvido falar o nome, fiquei conhecendo e admirando pelas crônicas de Gilberto, onde ele fazia referências à existência dessas pessoas quando elas faleciam. E esses nomes estarão, por muito e muito tempo, preservados nas bibliotecas, porque os quatro livros desse escritor são maravilhosas fontes de pesquisa que deverão sempre ser consultadas. Faço a ele uma homenagem neste artigo.

Quando eu tinha 16 anos, li uma frase que me impressionou muito e nunca esqueci: “Devemos tratar as pessoas como se elas fossem morrer amanhã.” O mundo poderia ser melhor se muitas e muitas pessoas conhecessem essas palavras e pensassem dessa maneira, agindo sempre assim com seu próximo, aproveitando, com amor fraternidade, os episódios da convivência.

Sobre a lembrança de nossos falecidos, bela a frase de Cícero em Philippica 9.10:
Vita mortuorum in memoria est posita vivorum. (A vida dos que morreram está guardada na memória dos vivos)