sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

A MAGIA DE UM RETRATO



A MAGIA DE UM RETRATO
Avelina Maria Noronha de Almeida
            Passeando pela cidade, meus olhos se maravilharam com o que viram nesta antessala da primavera. Em alguns locais, havia floridas manchas amarelas de um lado, de outro, mais à frente... uma delícia de paisagem urbana! Indo mais, pelas pequenas estradas que saem da cidade, mas ainda dentro do perímetro urbano, ipês em floração sorrindo felizes, batidos pelo sol. Num dos caminhos percorridos via-se, ladeando-o, até uma fileira de razoável extensão em que as delicadas árvores, desenvolvendo-se ainda mas quase prontas para o festival de flores, eram uma promessa de beleza.
            Além de ipês, viam-se em muitas, mas muitas mesmo, residências, de variadas cores, ramos de bouganvilles debruçados nos muros... Conselheiro Lafaiete, pelo visto, vai voltar a ser uma Cidade das Flores.
            Foi aí que pensei: aqueles instantes que eu estava presenciando mereciam o testemunho de uma fotografia. E daí, na corrente do pensamento, meditei no valor dessa invenção tecnológica da qual não usufruíram as gerações anteriores à sua existência.
            Um índio que, pela primeira vez, é fotografado, ao ver sua imagem revelada fica apavorado, julgando que o retrato roubou seu espírito, retendo-o como prisioneiro. Existem, também, em certas culturas em fase de desenvolvimento, pessoas que não gostam que turistas os retratem, pois acreditam que a alma deles está sendo lida pelos estrangeiros. Para essas pessoas, o retrato é magia.
            Mas pensando bem, a fotografia é realmente  mágica, um prodígio. Só que, em vez de roubar ou prender a alma, o espírito do fotografado, o produto da câmara liberta o instante vivido pela pessoa que, não fora a fotografia, estaria fadado à prisão no passado.A foto não é um cárcere. Refúgio, sim. A imagem se resguarda da finitude, da fragilidade do momento que passa e adquire características de permanência, potencialidade de  multiplicação, de ampliação no tempo e no espaço.
As fotos despertam lembranças e emoções escondidas pelo tempo, descobre detalhes antes não percebidos ou novas significações. Embora silenciosas, quanto elas falam!
19 de agosto foi escolhido para Dia da Fotografia Internacional por ter nascido nesse dia, em 1897, o famoso fotógrafo e biologista  russo-estadunidense Roman Vishniac, conhecido por documentar a cultura dos judeus empobrecidos na Europa Central e Oriental antes do Holocausto. Foram mais de 16.000 fotografias e, para executá-las, ele correu riscos incríveis, pois essa atividade era proibida. Com suas fotografias nesse campo tentava alertar o mundo para os horrores da peseguição nazista. Também trabalhou exaustivamente na microfotografia, fotografando organismos vivos, inclusive microscópico, dando uma importante contribuição aos estudos de biologia.
Foi uma vida pródiga, terminada em 1990, de uma pessoa maravilhosamente humana e genial, que tinha imenso respeito pela vida. Realizou ações incríveis em sua missão  de fotógrafo e conseguiu vender barreiras aparentemente intransponíveis porque...
 Volenti nihil difficile. (A quem quer, nada é difícil)