pÉS
DESCALÇOS
Avelina Maria Noronha de
Almeida
Você, que me lê, conseguiria passar
um dia inteiro descalço? Levantar-se de manhã, deixar de lado o chinelo, sair
de casa para estudar, trabalhar ou para outra atividade sem nem ter olhado para
o sapato? Ir com os pés desguarnecidos até o carro, a bicicleta, a motocicleta,
o ônibus? Ou palmilhar dessa maneira passeios ou calçadas? Assim passar o dia
inteiro, estivesse onde estivesse?
Difícil, não é? Imagine um operário,
um engenheiro trabalhando nos diversos tipos de obras, em uma mineração, por
exemplo, pisando em cascalhos, em pedrinhas pontiagudas... Difícil,
praticamente impossível, não só desconfortável como também perigoso.
Pois foi isso que, em 2006, propôs o
humanitário senhor Blake Mycoskie, um viajante americano que, fazendo amizade
com as crianças de um vilarejo argentino, ficou condoído por constatar que elas
não tinham sapatos que protegessem seus pezinhos que, descalçados, ficavam
expostos não só a machucados como também a infecções e outras moléstias, além
de afetar sua autoestima. Também percebeu que muitas crianças de outros lugares
da Argentina nunca haviam tido um sapato. Creio que, daí, pensou também no que
devia acontecer pelo mundo, principalmente em vários lugares de países
subdesenvolvidos.
Blake convocou o mundo todo para
aderir ao evento “Um Dia Sem Sapatos”. As pessoas sentiriam, em si próprias, o
que era andar um dia inteiro sem sapatos. Mas não ficou apenas nesse gesto
espetacular. Passou também à ação. Criou a empresa TOMS, com o objetivo de,
para cada par de sapatos que vendesse em países desenvolvidos, doar outro para
crianças de países subdesenvolvidos, dando o nome à atividade de “One for One”.
Vejam o que ele diz quanto ao
desenvolvimento de seu projeto: "É comovente
pensar que o evento ‘Um Dia Sem Sapatos’
começou no campus de uma universidade há seis anos e hoje há milhares de
participantes em todo o mundo. Una-se a nós nesse dia especial – tire os
sapatos e chame a atenção para tantas crianças que não têm escolha e saem sem
sapatos todos os dias".
Em Lisboa foi fundada, com o mesmo objetivo da TOMS, no ano passado, a associação
GaSNova angariando sapatos para Moçambique e Cabo Verde e muito bem organizada
pois, a cada par oferecido é associado um número de registro que irá permitir ao
doador saber onde entregaram o calçado. Naquele ano, os lisboetas foram
convidados a uma caminhada pela Rua Augusta, sem sapatos, em solidariedade às
crianças descalças.
Eventos de adeptos dos ideais de Blake ocorreram, no último 16 de abril em várias cidades do mundo, como Nova York, Los Angeles, Toronto,
Londres, Amsterdã, Seul e Tóquio, entre outras. Atualmente contam-se em muitos
milhares os participantes e mais de um milhão os pares de sapatos doados.
Alunos do Colégio Santo Agostinho,
de Contagem, há três anos aderiram à Campanha, mobilizando as pessoas e doando
os sapatos arrecadados para entidades assistenciais de Contagem, Ibirité e Belo
Horizonte.
Um site na Internet colocou a frase:
“Vista essa ideia e tire seu sapato!” Pensei: o que posso fazer? Muito pouco,
porque quase não piso no chão, mas, pelo menos escrevi este artigo descalça.
Para essas pessoas sensíveis, que
ajudam a diminuir o sofrimento de tantas crianças pelo mundo, dedico, como
homenagem, a frase latina:
Ubi caritas et amor, Deus ibi est.( Onde há caridade e amor,
Deus está lá)