terça-feira, 2 de julho de 2013

LAFAIETE CRESCEU MUITO




LAFAIETE CRESCEU MUITO
                                                                       Avelina Maria Noronha de Almeida

            Garimpando aqui e ali num filão riquíssimo que se aprofunda na imprensa antiga de Conselheiro Lafaiete, reli artigos e a coluna “Tempos Idos e Vividos” do excelente jornal “O Processo”, que era editado em princípios da década de 70. Nessa coluna colocavam notícias, recolhidas em jornais bem antigos, três gigantes da Cultura Lafaietense: Antônio Luiz Perdigão, Alberto Libânio Rodrigues e o próprio diretor do jornal, Alexandre Antônio Nepomuceno. Pensei, então, em transcrever algumas dessas notícias.
             Um artigo que muito apreciei é da lavra de outro grande intelectual, Edson Condé, que mantinha uma seção chamada “Crônica da Cidade”. No texto Edson faz uma análise muito bem feita dos esforços de um povo para o progresso de sua cidade, desde o princípio do século XX até aquele ano de 1972. O artigo começa assim, num estilo muito bonito, muito poético:
“Não é preciso que se tenha em mãos os detalhes do último censo para que se possa dizer: ‘Lafaiete cresceu e muito!’
Nos idos de ontem, quando se caminhava até a entrada da Rua Benjamim Constant, poucos passos adiante já se encontrava a vegetação brava e se caminhava num longo ermo até que se atingisse o Bairro Santa Matilde. Tinha-se a impressão de se encontrar em pleno campo sentindo-se nas narinas o odor das urzes e nos ouvidos  os cantos dos pássaros. O ruído característicos das aglomerações nos saíam dos sentidos para ceder lugar à solidão do aberto, da vastidão azul-esverdeada que se abria à nossa frente. Num raro ou noutro, zunia um automóvel pela estrada poeirenta, os pneus cantando nos pedregulhos brutos, pintando, de amarelo-barro, o capim alto à beira da estrada. Pelas encostas e recôncavos, alheiava aos passantes o gado ralo ruminando preguiçosamente ao langor da tarde ensolarada e quieta. Podiam se ouvir à distância o grito e o alarido dos moleques a se banharem no rio, a maioria deles escapos aos bancos das escolas. E sentia-se no ar – úmido ali o cheiro da terra molhada mesclado ao odor do estrume e do cheiro da vegetação que medrava livremente naqueles sítios.
Era o campo às portas da cidade, que se estendia para cima e para diante, anunciando-se no brilho negro dos trilhos da estrada de ferro.”
O texto continua discorrendo sobre a cidade analisando vários setores do desenvolvimento atingido naquele ano em que foi escrito. E ele termina assim o retrospecto:
“Não nos volvamos mais para o passado. Com a cabeça erguida, olhemos para a frente, para um futuro próximo de gigante e que só no fundo do coração nos fique a remota lembrança de uma cidadezinha que se estendia para cima e para diante, anunciando-se no brilho negro dos trilhos de ferro.”
Antes de transcrever o que recolhi em “O Processo”, apresento a cópia de um documento citado nas Ephemerides Mineiras de José Pedro Xavier da Veiga, Volume I. Trata-se de um decreto de março de 1837 (ortografia da época):
“Lei mineira nº 60. – Auctoriza o governo a estabelecer aulas de latim, francez, philosophia, rethorica, geographia e historia nas comarcas da província onde não houver collegios públicos ou particulares em que se ensinem tais matérias e a criar as mesmas aulas em circulos literarios constituidos, cada um, de duas comarcas das menos populosas, designando o governo e a séde; e contêm outras disposições desenvolvendo e melhorando o ensino publico na província.”
Queluz foi beneficiada com essa lei. Bernardo Joaquim da Silva Guimarães, em 1873, veio para nossa cidade lecionar Latim e Francês, aqui residindo alguns anos. Durante o tempo em que aqui esteve, escreveu, entre outras obras, o célebre romance “A Escrava Isaura”, editado em 1875. Adaptado para a TV, a novela e o livro tiveram enorme repercussão pelo mundo. O escritor residia num casarão da rua Barão de Suassuí, onde se localiza o Supermercado Epa, em frente à travessa Padre Américo.   
Como disse Condé, devemos com “a cabeça erguida,”  olhar “ para a frente, para um futuro próximo de gigante”, mas, “no fundo do coração nos fique a remota lembrança de uma cidadezinha” que soube ser grande em sua simplicidade porque...
“Bane legacies antiquates does non garantee posterus.” (Quem não guarda o passado não garante o futuro.)