domingo, 14 de fevereiro de 2016

NÃO PODEMOS DESISTIR







Mata em Larignum
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NÃO PODEMOS DESISTIR

Avelina Maria Noronha de Almeida





Dá tristeza abrir os jornais e ler, ou ligar a televisão e ver e ouvir praticamente só notícias de tristezas, seja na paisagem da natureza ou na paisagem humana. É como se o mapa real do Mundo, de modo muito especial para nós, brasileiros, nesta parte descoberta por Cabral, estivesse todo minado e correndo o risco de se desfigurar.

Lembra-me, a situação atual, um armário antigo, muito lindo, que eu tinha e que, ao tentarem consertá-lo, praticamente desmanchou porque as tábuas laterais e do fundo dele, de madeira grossa, embora por fora parecessem aproveitáveis, estavam todas minadas por dentro por causa do caruncho. Restavam íntegras mesmo, no móvel, poucas madeiras e, principalmente, as portas, porque eram de pinho-de-riga, madeira forte (Vitruvius, o pai romano da Arquitetura, conta que o famoso César havia sitiado Larignum, e tentou destruir e incendiar as fortificações da cidadela sem ter sucesso, pois eram construídas com essa madeira nobre. Riga é a capital da Letônia e foi o porto do norte da Europa aonde foram embarcadas as madeiras que se destinavam à reconstrução de Lisboa após o terremoto de 1755. Na época em que perdi o móvel, guardei algumas madeiras e as portas do armário para, construindo um novo móvel, colocá-las.

Voltando ao assunto das calamidades e focalizando agora a nossa Pátria, cito um artigo que li há pouco tempo, em que o autor discordava de pessoas que opinavam ser problema de nossa Pátria ter sido colonizado por Portugal e não por outros países europeus. Ele dizia o seguinte: outras colônias, no decurso da História, ao se libertarem se dividiram em vários países. O Brasil não. Continua como um bloco territorial único, enorme, do Monte Caburaí, em Roraima, ao Arroio Chuí, no Rio Grande do Sul; da nascente do Rio Moa, no Acre, à Ponta do Seixas, na Paraíba. A nossa Língua é única e cada vez mais igual na pronúncia, diminuída quase totalmente a diferença dos sotaques.

Comprovei o que afirmo após muito tempo de observação atenta. A Rede Viva focaliza missas geralmente, no decorrer da semana, em estados diferentes: São Paulo, Rio Grande do Sul, Pará, Ceará, Goiás e Rio de Janeiro. Fiz observação na pronúncia de celebrantes, encarregados das Leituras, leitor do Evangelho, o sacerdote que faz a Homilia, encarregados das Preces e, mais importante, as falas dos fiéis em respostas e acompanhamento. Raríssimo aparecer um sotaque carioca, nordestino, paulista, gaúcho... Cada vez mais estamos unidos também na Língua

Diante da situação atual, a reação das pessoas é de descrença. Como sair o Brasil da situação terrível, avassaladora, parecendo estar num beco sem saída e sem vislumbrar uma nesga da salvação? Muitos dizem que não há conserto.

Tenho certeza de que há conserto. A Unidade Territorial, a Força da Língua, o Idealismo e a Capacidade de Trabalho e de Luta dos Brasileiros de Boa Vontade de todos os quadrantes será forte e indestrutível, como o pinho-de-riga, na reconstrução de um novo e feliz Brasil.

Hoje não há Latim. É só o nosso poderoso Português mesmo.

DOMINE, MISERE NOSTRI!






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DOMINE, MISERERE NOSTRI!

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

Artigo publicado no Correio da Cidade


Quando dos meus cinco anos, achava que minha família era perfeita, não tinha falhas, não tinha erros. Mas fui crescendo e vi que nós também tínhamos fragilidades humanas. Outras descobertas foram acontecendo e fiquei muito triste, como quando soube que as montanhas azuis, parecendo transparentes, que, da janela do meu quarto, eu via lá ao longe, de perto tinham a dureza e a cor das rochas ou o verde da vegetação que a cobria. Que decepção tive quando, eu que desde bem pequenininha ia todos os dias com meus pais ao cinema, soube que os artistas tinham barba. Que aqueles rostos lisinhos que eu via na tela eram como o rosto de todos os outros homens. E assim foram descobertas e mais descobertas frustrantes ou que demonstravam a fragilidade, a insegurança que rodeia o ser humano.

Quando vem uma tempestade, com trovões e estalos aterradores que revelam os raios, é que sinto ainda de maneira mais assustadora como somos pequenos. Fico muito tolhida nas minhas atividades, mas apego-me à oração e me sinto protegida. Há dias senti como essa proteção é verdadeira.

Eu estava na enorme cozinha de uma fazenda. De quinze a vinte pessoas em volta de uma comprida mesa. De repente, começou a tempestade. Terrível! A fazenda é rodeada de árvores antigas, altíssimas. Os trovões foram ficando cada vez mais fortes e raios, com seus aterrorizantes estalos, sucediam-se lá fora. Rezei uma oração à Mãe Santíssima que tem um trecho assim: “Protegei esta casa e esta família de todos os perigos, dos raios, das tempestades...” Ao terminar, fiquei mais tranquila. Foi aí que aconteceu o que eu nunca tinha imaginado presenciar: um estalo ensurdecedor dentro da cozinha e eu, na cabeceira da mesa, vi o raio vindo e caindo no chão a vinte centímetros mais ou menos da geladeira e a meio metro de minha cadeira. Quando ele bateu no piso, vi que saíram muitas fagulhas amarelas e vermelhas. Tenho a convicção de que a oração que eu rezara me protegera, pois fiquei a meio metro da morte, e protegera todos os que estavam ali naquela cozinha.

Esse fato, essa proteção num momento de pânico, levou-me a uma reflexão. O Brasil está em pânico, no meio de uma tempestade ideológica, financeira, de falta de Ética, de ausência de autênticos líderes. A cada dia, mais raios, mais estalos, mais ameaçadores trovões midiáticos anunciando roubos, traição, mentiras deslavadas. Estamos à beira de uma derrocada.

Mas não percamos a esperança. Assim como, pela oração, a proteção me veio na tempestade da natureza, rezemos para que surja uma luz no fim do túnel e reverta a calamitosa situação. Infelizmente, a falta de Fé está muito disseminada entre nós. E saibam, do jeito que está, só a oração para nos salvar. Rezem, brasileiros:

Domine, miserere nostri! (Senhor, tende piedade de nós!)








GRATIDÃO DAS FLORES






GRATIDÃO DAS FLORES

Avelina Maria Noronha de Almeida

Artigo publicado no Correio da Cidade em dezembro de 2015

Escorregando na esteira do tempo... Décadas e décadas atrás. Praça Tiradentes antiga. Num dos canteiros, alguém vai fofando a terra em volta das flores, tirando os matinhos em volta delas, acariciando-as com o olhar. E assim procede em todos os canteiros. É um jardineiro. Seu nome? Agostinho. Quem é da minha idade, ou mais novo que eu, e ler este artigo, vai se lembrar dele, de baixa estatura, um metro e meio mais ou menos. Era funcionário municipal e o jardim daquela praça estava sobre a guarda dele.

É a “seu Agostinho” que, representando todos os jardineiros do passado e do presente de nossa cidade, que homenageio pela passagem do Dia do Jardineiro, que acontece no dia 15 de dezembro.

Em seu livro “Lafaiete – DE GETÚLIO A JK – TRÊS DÉCADAS DA VIDA DE UMA CIDADE”, José de Assis Silva conta casos interessantes sobre esse nosso jardineiro, falando do nervosismo dele quando eram ameaçadas suas florezinhas pelas pisadas dos rapazes que ficavam à beira dos canteiros, vendo as moças passarem, no footing que ali acontecia nos domingos à noite, e que, afoitamente pisavam nas plantas. E o autor comenta jocosamente: “Para o jardineiro, os rapazes podiam namorar as Rosas e Hortênsias, mas que deixassem as suas rosas e hortênsias em paz.”

Lembro-me muito bem das cuidadas hortênsias do “seu” Agostinho em volta da fonte luminosa, naquele tempo um espetáculo, com suas “águas dançantes”, que iam rodando enquanto, de dois a dois, jorros de água de cores diferentes subiam se entrelaçando. Um espetáculo fascinante! Porém não me lembrava das outras flores que enfeitavam a praça. Quem me fala sobre elas é, com sua memória prodigiosa, minha amiga Therezinha, que foi professora no Grupo Escolar Pacífico Vieira:

“Eram, além das hortênsias, cravinas de rosa vivo, rosinhas, cravos, amores-perfeitos, papoulas (no canteiro da extremidade da praça que dava para a Matriz) e, em volta dos canteiros, bem cuidadas cercaduras verdes.”

Enfim, era um primoroso jardim, com flores de diversificados desenhos, aroma e cores de tonalidades diferentes. Tudo lindo, brotado e conservado graças ao empenho, ao cuidado, à sensibilidade e ao toque mágico das mãos de “seu” Agostinho.
Quem sabe agora ele estará cuidando de um jardim encantado nas paragens etéreas?
Ao amoroso jardineiro da Praça Tiradentes, as flores daquele tempo agradecem.

Certamente agora “seu” Agostinho estará colhendo as belas flores da felicidade eterna, porque, como diz o ditado latino:

Sementem ut feceris, ita metes. Cada um colhe conforme semeia.

Observação: Na foto colocada no artigo, no meio da praça, está o jardineiro Agostino com seu regador.