sábado, 17 de maio de 2014

LAÇOS ENTRE O PASSADO E O PRESENTE







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LAÇOS ENTRE O PASSADO E O PRESENTE

Avelina Maria Noronha de Almeida




Eu era menina e tenho viva lembrança de quando um senhor jovem, residente fora de nossa cidade, sempre que vinha em visita a Conselheiro Lafaiete ia lá em casa em visita a meu pai. Num espaçoso cômodo, cheio de prateleiras não só colocadas na parede, mas, também, no meio dele. Lá Jair Noronha tinha uma imensidade de papéis, revistas, livros, fotografias, um bom acervo que ia aumentando dia a dia.

Esse senhor dizia que estava organizando um museu no Rio de Janeiro, para onde se mudara na década de quarenta. A temática da instituição era a nossa cidade. De cada vez que vinha saía lá de casa com farto material presenteado por meu pai. Também procurava outras pessoas. Muitas cooperaram com ele, acreditando no seu ideal.

Foi passando o tempo e, de repente, chega esse lafaietense colecionador em Lafaiete, trazendo um presente maravilhoso para nós. Já devem ter descoberto quem é ele e qual era o presente: Antônio Luiz Perdigão Baptista e o Museu e Biblioteca Antônio Perdigão – Arquivo da Cidade, cujo nome era uma homenagem ao avô de Perdigão.

Já formado em Contabilidade na terra natal, Perdigão formou-se como museólogo no Museu Imperial de Petrópolis e no arquivo nacional do Rio de Janeiro, e como Professor de História. Com essa bagagem intelectual, veio enriquecer a Cultura Lafaietense. O precioso material não ficou só entre paredes. Foi às escolas, revelou-se em jornais, enfim, revelou-se de maneira ampla e sábia.

O museu iniciou suas atividades na Rua Assis Andrade, no Bairro do Rosário, indo, depois para a Rua Afonso Pena, até se instalar na Praça Tiradentes, no prédio da antiga cadeia pública.

Dia 18 deste mês comemora-se o Dia Internacional dos Museus. O tema da Semana dos Museus em 1914 é Museus: as coleções criam conexões. É um tema muito rico, significando que os museus criam vínculos vivos entre os visitantes, as gerações que ali pulsam nos documentos e nos objetos do acervo e os cultores da História e da Genealogia de um povo.

Nossa terra, através da Secretaria da Cultura, da Direção e dos funcionários do Museu, tem dado, todos os anos, muita ênfase na celebração da data. Em 2014 estão sendo preparados eventos e atividades que, certamente, atrairão muitos visitantes, os quais ali encontrarão belas atrações e lições sobre os caminhos que percorreu a nossa História e as marcas que ficaram pelo caminho.

Nossos louvores ao Antônio Perdigão, de saudosa memória, e nossos aplausos aos que têm trabalhado pela preservação da instituição que ele criou, reforçando os laços entre o passado e o presente, entre Carijós, Queluz e Conselheiro Lafaiete!

Quem não teve a felicidade de conhecer Antônio Perdigão, vá ao Museu, encante-se com seu acervo e sairá de lá com uma bela visão de seu criador, porque...

...A fructibus eorum cognoscetis eos. Pelos frutos se conhece a árvore.





MOSAICO DE COMEMORAÇÕES





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MOSAICO DE COMEMORAÇÕES

Avelina Maria Noronha de Almeida



Abril é um mês de muitas comemorações importantes. Entre elas, vamos escolher algumas que estão mais próximas desta edição do jornal.

Começamos com o dia 19, Dia do Índio, e temos que lembrar os pacíficos índios Carijós, que aqui chegaram pensando que nossa terra, de tão linda natureza, fosse a “Terra Sem Males” que procuravam encontrar. Quando desapareceram, exterminados pelas doenças, por homens brancos que queriam suas mulheres ou na época da fome no princípio do século XVIII, não sumiram de todo, porque o sangue deles ficou na forte miscigenação, principalmente com os portugueses. Ficaram na raiz da nossa genealogia, da nossa raça especial formada em Carijós, continuada em Queluz e presente em Conselheiro Lafaiete. Não podemos também esquecer os índios Puris, que aqui chegaram num segundo tempo, trazidos como escravos pelos fazendeiros e depois, também pela miscigenação, passaram a fazer parte da nova raça.

Embora atualmente nem conste da lista de datas comemorativos, temos o aniversário de nascimento de Getúlio Dornelles Vargas, que nasceu no dia 19 de abril de 1882, em São Borja, no Rio Grande do Sul, e faleceu, no Rio de Janeiro, em 24 de agosto de 1954. Advogado e político brasileiro, líder civil da Revolução de 1930, foi presidente do Brasil de 1930 até 1945, depois, eleito, por voto direto, por 3 anos e meio: de 31 de janeiro de 1951 até 24 de agosto de 1954. Criou muitas leis sociais e trabalhistas brasileiras, que muito ajudaram os operários e, olhem bem, ainda hoje ajudam muito. Inclusive é considerado como o mais importante presidente do Brasil. No meu tempo de curso primário, as celebrações desse aniversário eram revestidas de muito brilho.

Coisas que passaram...

Dia 21, quanta coisa! Tiradentes, o protomártir da Inconfidência, foi executado nessa data, em 1792. Herói Nacional, é o Patrono Cívico de Brasil e também Patrono das Polícias Militares dos Estados. De seu corpo esquartejado, deixaram dois membros em nossa terra, e sua cabeça foi salgada em Queluz, num arranchamento da Rua Direita, hoje Rua Comendador Baêta Neves.

Outro aniversário no dia 21: da Inauguração de Brasília, em 1960, como nova capital do Brasil, uma das mais belas e a mais moderna cidade do Brasil.
Dia 22 chegaram ao Brasil as 13 caravelas portuguesas lideradas por Pedro Álvares Cabral. É a inauguração do nosso País na História Mundial.

Deixamos por último uma data revestida de saudade, voltando ao 21 de abril, marcando o nascimento de Allex Assis Milagres, o grande e inesquecível articulista desta coluna em tempos passados, de cultura invejável, quase incrível de tão grande; notável historiador de toda esta nossa região, que, apesar da pouca idade quando de seu falecimento, deixou uma obra vasta e profunda. Um ser humano que deixou um rastro luminoso marcando a sua passagem pela terra. Lágrimas saudosas para o Allex!

Por termos tido Allex junto a nós, agradeçamos ao Senhor!

Deo gratias!




UM HOMEM ESCREVE NA AREIA









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UM HOMEM ESCREVE NA AREIA

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com



Um homem, com seu burel marrom de jesuíta, escreve na areia. As ondas, com suas espumas brancas, ondeiam suavemente. Uns pássaros delineiam seus voos com graciosidade, enquanto outros, tranquilos, rodeiam o religioso. Este é um quadro célebre do pintor Benedito Calixto. O quadro de tanta beleza mostra o Santo José de Anchieta, refém, por sua própria oferta, dos indígenas no litoral brasileiro, enquanto Nóbrega ia negociar a paz. O santo, canonizado dia 5 de abril deste ano, escreve na areia “Poema à Virgem”, que sua prodigiosa memória decorou e transpôs depois para o papel.

Anchieta, espanhol nascido em Tenerife, nas Ilhas Canárias, em março de 1534, no século XVI passou grande parte de sua vida no Brasil, aqui falecendo na cidade de Reritiba, no Espírito Santo, que hoje leva seu nome, em 1597 Para ser canonizado, foi dispensada a comprovação de milagres e considerados relatos de milagres acontecidos em mais de 400 anos referendados pela tradição. A justificação apresentada para a elevação aos altares daquele que já fora beatificado e é chamado “O Apóstolo do Brasil” foi o seu trabalho missionário aqui, principalmente pela catequização de índios no período da colonização e também pela fundação de missões jesuítas em várias partes da Colônia. O decreto de canonização reconhece a grandeza do missionário, colocando seu testemunho como exemplo para os cristãos de todo o mundo.

Em Magé, Rio de Janeiro, as águas de uma fonte que foi abençoada por ele e hoje é chamada “A Fonte de São José” e, tendo fama de curativa e sendo grande atração de turismo religioso.

Muito pertinentes as palavras do coordenador de Pastoral da Arquidiocese de São Paulo, Tarcísio Marques Mesquita: “O próprio Papa Francisco diz que a gente tem que ser uma igreja em saída. Anchieta nos lembra isso. Um homem que vai em busca, ele foi ao encontro dos indígenas, conhecer a linguagem deles, conversar na língua deles. Formulou a gramática da língua tupi. Foi um homem interessado em evangelizar levando em conta cultura daquela gente, respeitando a cultura e os valores daquelas pessoas”.

Pelo visto, São José Anchieta, que escreveu um poema na areia, escreveu também uma mensagem indestrutível nas páginas da história e deixou, além de tudo, um belo exemplo, o que é importante porque...

... Exempla movent magis quam verba. ( Osexemplos movem mais do que as palavras)






domingo, 20 de abril de 2014

Ô, COITADO!






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Ô, COITADO!


Avelina Maria Noronha de Almeida

avelinaconselheirolafaiete@gmail.com



O bordão “Ô, coitada!” é a marca registrada de Gorete Milagres (Maria Gorete da Silva Araújo), atriz e comediante brasileira nascida em Conselheiro Lafaiete e onde reside sua família. Passando a identificar a figura da artista, que abandonou a profissão de bancária para se dedicar de corpo e alma à carreira artística, a expressão passou à forma feminina, mas, no início, em uma série passada há mais de dez anos, era “Ô coitado!”, expressão que Filomena, ou Filó, proferia, ao final de cada programa, referindo-se aos infortúnios de seu patrão Steve Formoso, um cantor decadente, vivido por Moacyr Franco.

Depois disso vieram mais significativas apresentações de Gorete na televisão, no cinema, no teatro e em outras atividades relacionadas à arte visual.

Em 2006, no longa metragem “Tapete Vermelho”, contracenou com Matheus Nachtergale no papel de Zulmira, mulher de Quinzinho, que acompanha o marido para mostrar ao filho um filme de Mazzaropi. No mesmo ano, esse filme, que foi uma bela homenagem ao saudoso artista brasileiro, participou do festival de cinema de Recife, o Cine PE, onde a lafaietense ganhou o prêmio de Melhor Atriz do festival. O filme também brilhou no Festival de Cinema Brasileiro em Miami, emocionando o público presente.

Pelo mesmo filme, em 2007, a lafaietense recebeu o prêmio de Melhor Atriz (e Matheus de Melhor Ator)no III Prêmio FIESP/SESI-SP do Cinema Paulista. Na festividade de premiação, a atriz demonstrou uma faceta de sua sensível figura humana: pois, como vi em uma matéria a respeito, além “de agradecer ao diretor do Tapete Vermelho, Luiz Alberto Pereira, pela oportunidade e por lhe confiar um papel que lhe proporcionou um grande desafio; também agradeceu a seu esposo, Gustavo Rique, por ter cuidado da casa e de suas filhas e ainda fez uma emocionada homenagem a Neuza Rique, bisavó de suas filhas, “que no dia do prêmio completaria 80 anos e morreu antes da comemoração que ela,Neuza, já havia organizado”.

Por essa pequena amostra da carreira de Gorete, podemos ver que, de maneira alguma, o “Ô, coitado!” pode se aplicar à grande personalidade da atriz. Fica mais adequado “Ô, Felicíssima!”

E olhem que ainda há mais! A série “Pedro & Bianca”, da TV cultura, na qual ela tem excelente atuação como a mãe dos protagonistas, concorrendo com outros países ganhou o Internacional Emmy Kids Awarads, “premiação realizada anualmente pela Academia Internacional de Artes & Ciências Televisivas, como demonstração de reconhecimento pela excelência em televisão de companhias e indivíduos que criam, produzem e realizam programas de TV fora dos Estados Unidos”.

Li, na Internet, uma frase que achei muito importante porque dá uma visão do alcance e da especialidade do estilo da focalizada neste artigo:

“O trabalho de Gorete Milagres é pautado na humanização de suas criações. E na tentativa de aproximá-las cada vez mais do povo, ela nunca abre mão da improvisação, sua marca registrada.”

Nossos aplausos a Gorete Milagres, grande merecedora deles, pois assim disse o grande romano Cícero sobre a importância de aplausos aos artistas:

“Honos alit artes” (A honra alimenta as artes)





sábado, 22 de fevereiro de 2014

TOMADA DE MONTE CASTELO








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TOMADA DE MONTE CASTELO

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com



No dia 21 de fevereiro comemora-se o sucesso da Batalha de Monte Castelo, na qual a Força Expedicionária Brasileira marcou sua presença corajosa e demonstrou a força e a importância de sua atuação na conquista de um monte dominado pelos nazistas e que parecia inexpugnável. Nessa batalha perderam a vida três dos lafaietenses que deixaram seu sangue em terras de Itália: Eugênio Martins Pereira, Felisbino dos Santos e Rubem de Souza.

Este último, Rubem, tinha sido convocado e sua mãe conseguiu que fosse dispensado como arrimo de família, porque o pai já era um pouco idoso e o casal tinha filhas mas apenas um filho. O moço não aceitou a dispensa. Queria ir lutar pelos ideais de Liberdade.

Uma amiga, Eni Faria Castanheira, disse-me que o pai do expedicionário, Manoel
Victorino de Souza, conhecido pelo apelido de Lelé, era muito amigo de seu Quincas, pai dela, a quem disse ter enorme gratidão a Getúlio Vargas e explicou o porquê. Transcrevo o que, ela ouviu da conversa dos dois amigos: Lelé estava no Rio de Janeiro, no cais do porto, no dia em que os expedicionário embarcaram rumo ao anfiteatro da guerra. O navio já ancorado, o presidente passava fazendo a revista na tropa ali perfilada. Lelé, com o coração apertado porque o filho ia para a guerra e queria se despedir dele, tentava romper o cordão de isolamento, mas era impedido pelo segurança. Num ímpeto irreprimível, gritou o nome do presidente da República. Getúlio virou-se para o lado dele e o pai falou emocionado:

– Meu filho está indo para a guerra e eu queria dar um abraço nele!

Getúlio se aproximou de Lelé, deu o braço a ele e foram caminhando em direção aos soldados. Perguntando qual era o número do jovem, mandou que aquele soldado desse um passo à frente. Lelé abraçou comovido seu filho, e pela última vez porque Rubem foi um dos soldados brasileiros que não voltaram da guerra.

Os expedicionários lafaietenses fizeram parte do exército glorioso que participou da batalha de Monte Castelo e temos muito orgulho deles. Seus nomes estão gravados em ouro na história de nosso País.

A Eugênio, Felisbino e Rubem a nossa homenagem especial.

Disse Quinto Horácio Flaco, um dos maiores poetas latinos:

Dulce et decorum est pro patria mori. (Doce e honroso é morrer pela pátria)


PUBLICADO NO CORREIO DA CIDADE DE CONSELHEIRO LAFAIETE DE 22.2.2014






TEMPUS FUGIT...









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TEMPUS FUGIT...

Avelina Maria Noronha de Almeida


Nesta época em que um ano ficou para trás e outro inicia sua trajetória, impossível fugir a uma reflexão sobre o tempo.

Os relógios de sol que enfeitavam jardins antigos, ou os também antigos relógios de pêndulo, costumavam trazer esta inscrição: Tempus fugit. É uma frase latina que foi usada pelo poeta romano Publius Vergilius Maro, conhecido entre nós como Virgílio, que usou essa expressão no poema Geórgicas (3-284), publicado em 29 a.C. : [...] tempus fugit irreparabile – o tempo foge irreversivelmente. É muito comum falarmos: “O tempo voa”. E não é verdade?

É por isso que devemos acrescentar, ao dístico latino, a frase de outro latino, Homero, que recomenda: Carpe Diem – Aproveite o momento. Juntando as duas frases teremos: “O tempo foge, aproveitemos o momento que passa.”

E qual a melhor maneira de aproveitá-lo?

Há várias maneiras. Por exemplo: no decorrer dos dias de um ano novo, vamos passando pelas mesmas circunstâncias e pelos mesmos itinerários do ano anterior: alegrias, sofrimentos, trabalhos, lutas, ilusões, conquistas, fracassos, decepções, encantamentos, Dia da Mães, Dia dos Livros, Dia dos Pais, Dia dos Avós, Dia da Pátria, Dia dos Animais e assim por diante. Cada pessoa reage a esses acontecimentos, ou celebra essas datas mais ou menos da mesma maneira. Mas vamos nos esforçar por viver melhor os momentos deste ano.

Em relação às datas, continuemos a comemorá-las mas acrescentando algo que faça mais forte o simbolismo delas. No Dia das Mães, vamos abraçá-las, presenteá-las e tudo o mais que é feito. Mas não nos prendamos nos limites de um dia. Tornemos todos os dias do ano Dia das Mães, dando a elas o que é mais importante, que é o amor traduzido em carinho, da forma que nos for possível. O mesmo com o Dia dos Pais, dos Avós, das Crianças.

O tempo é imperdoável e termina tudo. Tudo nos escapa. As águas do fluir temporal não são estagnadas, São sempre correntes, estão se renovando continuamente. Mas ao passar por nós, que aconteça o que diz Rubem Alves: “Quem sabe que o tempo está fugindo, descobre, subitamente, a beleza única do momento que nunca mais será...”

Aproveitemos esse momento fugidio e joguemos flores na torrente para torná-la mais bela para os que também vão recebê-la.

E como fazer isso?

Acolhendo outras palavras de alguém que soube fazer diferença na vida, Cora Coralina:

“Não sei se a vida é curta ou longa demais para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido se não tocarmos o coração das pessoas”.

Que bom se, no último dia do ano de 2014, pudermos dizer: neste ano que termina eu me tornei melhor, fiz alguém se tornar melhor e fiz o mundo se tornar melhor!

Toquemos o coração das pessoas com gestos positivos para que, quando chegar o final de 2014, não lamentemos os momentos que perdemos de fazer o bem, de demonstrarmos carinho a quem amamos, de enfrentarmos os desafios necessários, de alcançarmos sucesso com nosso esforço, de contribuir de alguma maneira para que o mundo se torne melhor, pois não adiantará querer voltar no tempo porque...

... TEMPUS FUGIT!



domingo, 9 de fevereiro de 2014

RUA FRANCISCO LOBO









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RUA FRANCISCO LOBO
Avelina Maria Noronha de Almeida



Disse um sábio chinês que era preciso restituir o valor das palavras. Se era verdade naquele longínquo passado, que dirá hoje, com esta Torre de Babel na liguagem... Muitas vezes uma palavra, uma expressão ou uma frase são interpretadas erroneamente ou têm o significado desprovido de profundidade, de evocação. Acontece muito com o nome de ruas.

Se falarmos em rua Francisco Lobo, pensamos em uma via muito extensa, começando no Frigorífico Nova Aliança, seguindo na direção da Gráfica Esperança. Nomes muito sugestivos e de bom astral inauguram a rua: Aliança e Esperança! Para os mais antigos como eu, surge, mais adiante, a lembrança de Brandimarte Souza Valle, que foi ilustre jornalista. A rua segue, desce ladeira, sobe morro, desce de novo para os Moinhos, passa pela Escola Jair Noronha e pelo Projeto Roda Moinho, vem o bairro São José, o Caminho do Ouro e a via termina na Água Limpa. Trajeto que vai do nº 45 ao nº 3.510. É muito chão!... A rua mais longa da cidade.

Tão grandioso caminho teria de ter um nome à altura. Mas poucos sabem quem foi Francisco Lobo. Os que escolheram o nome para o logradouro, no passado, o sabiam, mas o senhor tempo vai apagando as coisas e, por isso vou, não restituir porque ele já tem o valor de antigos e atuais moradores, mas acrescentar ao nome da rua o valor do homem que assim se chamava.

Dr. Francisco Lobo Leite Pereira foi muito ilustre e importante. Nasceu em Campanha e faleceu no Rio de Janeiro, porém residiu também em Conselheiro Lafaiete, onde nasceu seu filho Álvaro Lobo Leite Pereira, cientista consagrado por seus estudos e trabalhos sobre o bócio endêmico. Tinha prazer em conhecer a história dos seus antepassados e, estudioso da História Pátria, baseava suas monografias na mais minuciosa e exata documentação. Algumas de suas obras: “Descobrimento e Devassamento do Território de Minas Gerais”, “Em busca das Esmeraldas”, “Itinerário da Expedição Espinosa”. Foi ele quem explicou a origem da lenda nas minas de prata no Brasil.

Com grande esforço, codificando decretos e avisos esparsos desde 1857, estudando e organizando-os escrupulosamente, compulsando regulamentos congêneres estrangeiros, estabelecendo normas que se adaptassem à realidade da época e ao interesse público, fez o projeto da reforma do regulamento de polícia e segurança das Estradas de Ferro.

Superintendente Geral das Obras Públicas do Estado de Minas Geris, Engenheiro-Chefe da fiscalização da Rede Sul-Mineira e Chefe de Distrito da Inspetoria Federal das Estradas foram alguns dos cargos que ocupou.

Resguardemos do esquecimento pessoas que foram exemplo de vida operosa e benéfica! É bem verdade o que diz a frase latina:

“Bane legacies antiquates does non guarantee posterus. (Quem não guarda o passado não garante o futuro)



APLAUSO AOS TELECOMUNICADORES








Conduzindo a palestra “A Mídia na Promoção da Saúde”, a jornalista Patrícia Carvalho falando sobre sua experiência à frente do “Bem Estar”, da TV Globo.

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APLAUSO AOS TELECOMUNICADORES
Avelina Maria Noronha de Almeida



Um belo dia Samuel Morse inventou o telégrafo elétrico, baseando-o em um código binário de pontos e traços, que permitiam às pessoas se comunicarem mesmo estando a muita distância umas das outras. Assim começou uma escalada de inventos que foram evoluindo, extrapolando limites, desmanchando fronteiras e tornando o mundo a “vasta aldeia global” do profeta da comunicação, MacLuhan, que teve grande prestígio nos anos sessenta e previu mutações prodigiosas na história da humanidade.

Em seguida ao telégrafo vieram o telefone, o rádio, a televisão, os computadores e, finalmente, chegamos à Internet, por enquanto o suprassumo da comunicação. Mas no início está a telegrafia. E é por isso que, tendo sido fundada a União Telegráfica Internacional em 17 de maio de 1865, essa data, 17 de maio, foi escolhida para ser o “Dia Internacional das Comunicações”.

“Tele”, em grego, tem o significado de “distância”. “Comunicação” já vem do latim “communicare”: “partilhar”, “ter em comum”.

E uma das maneiras de realizar o prodígio da comunicação tecnológica é a televisão, que une os olhares de um mundo de pessoas num mesmo espetáculo. Embora nem sempre seja usada beneficamente, também é uma verdadeira mestra, veiculando cultura, alegria e autêntico divertimento. Há muitos programas televisivos bons; é só saber fazer as escolhas corretas.

Recentemente estreou um programa, em uma das emissoras que chegam em nossos lares, no horário de dez horas da manhã: “Bem Estar”. Apesar do pouco tempo de existência, está fazendo grande sucesso, porque adotou uma forma descontraída, leve, prática e convincente de apresentar temas que falam de saúde e qualidade de vida, com muita eficiência. Os assuntos são variados, dando informações úteis e levando aos telespectadores a palavra de especialistas competentes e renomados.

Escolhi esse programa para focalizar na data comemorativa das comunicações, não apenas pela sua qualidade, mas, também, por um motivo muito especial. A comunicadora que o dirige e se responsabiliza pelo sucesso do mesmo utilizando muita inteligência e criatividade é mais um “ouro da casa”.

Ao terminar o programa, vão deslizando na tela os nomes daqueles que o fazem e o primeiro nome, apresentado como Redatora Chefe, é de uma jovem lafaietense, Patrícia Carvalho. Foi minha aluna de redação, por isso desde muito conheço o seu grande potencial, assim não estranho o sucesso em sua carreira

À Patrícia e aos telecomunicadores de nossa cidade, os meus parabéns pelo seu dia. Merecem o nosso aplauso porque fazem por onde merecê-lo com seu trabalho que tanto beneficia a comunidade. Tenham sempre sucesso em suas atividades! Vocês estão contribuindo para que o mundo se torne mais esclarecido e consciente, caminhando para um destino melhor, porque...

“Suae quisque fortuna faber est. (O homem é arquiteto de seu próprio destino)


26 DE JULHO – GLORIOSA DATA COMEMORATIVA










Tela sobre o Movimento de 1842 em Queluz pintada por Cidinha Dutra

Arquivo pessoal






26 DE JULHO – GLORIOSA DATA COMEMORATIVA

Avelina Maria Noronha de Almeida

Crônica escrita em junho de 2012



Um ápice na História de Conselheiro Lafaiete é o dia 26 de julho de 1842, marco glorioso revelando o patriotismo, a inteligência e a coragem de nossa gente.
Naquela época, o Partido Liberal defendia as ideias renovadoras e de maior autonomia das províncias, contrárias às medidas centralizadoras defendidas pelo Partido Conservador. Aconteceu que o imperador D. Pedro II dissolveu a Câmara de Deputados eleita em 1840, de maioria liberal, e foram impostas as medidas defendidas pelos conservadores.

Por esse motivo, eclodiu um movimento armado promovido por liberais do qual participaram São Paulo, onde a revolta teve início em Sorocaba e Itu, em 12 de maio de 1842, e Minas Gerais, com o movimento começado em Barbacena, onde se instalou a sede do governo revolucionário, no dia 10 de junho.

Queluz foi onde se realizou a batalha mais sangrenta. A vila estava sob o domínio dos Legalistas. Tomá-la seria muito difícil. Foi então que um dos revoltosos, o Capitão Marciano Brandão, de São Gonçalo do Brandão, disse que poderia tomar a vila de Queluz se lhe confiassem duzentos homens. Talvez duvidando da eficácia de seu plano, deram-lhe somente 150 soldados, com os quais foi, à noite, sem ser pressentido pelos legalistas, ocupar as estradas de Ouro Preto, Congonhas e Suaçuí.

No dia seguinte, 25 de julho, uma das colunas acampou defronte à vila, na estrada que vinha do Rio de Janeiro, e a outra na de Itaverava. Essas tropas foram apertando o cerco até fazer com que os legalistas se concentrassem todos no centro da povoação. Com isso, ficaram sem acesso a todas as fontes de água. Vencidos pela sede, tiveram que se entregar.

Com a estratégia desse queluziano, os liberais, na manhã do dia 26, com lenços brancos na ponta das baionetas, entregaram-se. As forças liberais, comandadas pelo Coronel Antônio Nunes Galvão, saíram vitoriosas.

Tempos atrás, numa iniciativa de Alberto Libânio Rodrigues, então presidente da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette, foi colocada uma placa na Praça Barão de Queluz em homenagem ao heroico acontecimento.

E este ano, principalmente pelo idealismo do professor João Vicente Gomes, teremos pela primeira vez uma comemoração da importante data, com o desenvolvimento de programa à altura de sua significação: conferências com ilustres palestrantes, na Câmara Municipal e no auditório do Colégio Nazaré, onde haverá também apresentação de documentário produzida pela TV Campinas, afiliada à Rede Globo; e exposição sobre o Movimento na Galeria Gabriela Mendonça, da Casa da Cultura, e na Praça Barão de Queluz.

Acontecimentos assim engrandecem não só os valentes Queluzianos do passado como também a cultura histórica da cidade, além de promover a união de nossa gente com os valores da cidadania, porque...

Beneficium et gratia homines inter se conjugunt. O benefício e o reconhecimento unem os homens.



quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

AQUELE ABRAÇO





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AQUELE ABRAÇO!!!
Avelina Maria Noronha de Almeida


Encerramento das Olimpíadas em Londres. O prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, recebe a bandeira olímpica das mãos de Jacques Rogge, presidente do Comitê Olímpico Internacional pois na Cidade Maravilhosa realizar-se-ão os jogos olímpicos em 2016.

A Bandeira Brasileira é hasteada. Ouve-se o nosso Hino Nacional. Iniciou-se o espetáculo que, como de praxe, é apresentado pelo país onde ocorrerá a próxima Olimpíada. Deve ter apenas oito minutos.

Em nosso País, onde a mídia tem apresentado tanta tristeza, problemas e mais problemas, fatos deprimentes, tanta falta de cidadania, tanto lixo moral... é um colírio para os olhos, um acorde delicioso para os ouvidos, um favo de mel para o coração assistir-se ao citado espetáculo em terras da Rainha, ao show brasileiro que tem o nome de “Abraço”.

Genial a abertura! O gari Renato Sorriso, que faz parte da turma da limpeza (tornou-se famoso ao varrer dançando após os carros alegóricos, até passar a desfilar também no Carnaval do Rio de Janeiro como passista) aparece, com toda a sua simpatia e carisma, varrendo o chão do estádio. Um “segurança” inglês vai prendê-lo, mas o gari acaba ensinando o policial a sambar e convencendo-o a dançar com ele. Muito divertido!

Depois o gari samba com a “top model” Alessandra Ambrósio, que representa a mulher brasileira, com acompanhamento do cantor Seu Jorge, vestido de malandro com um terno branco e uma camisa dourada, cantando “Nem vem que não tem” de Wilson Simonal.

É linda a música apresentada, tema do filme “Rio”! Aparecem ritmistas com suas percursões, índios com cocares “tecnológicos” iluminados e suas danças típicas; Marisa Monte interpretando Iemanjá e trazendo a beleza da Bachiana n° 5, de Heitor Villa-Lobos, enquanto 225 bailarinos voluntários realizam uma bonita coreografia; B Negão com Maracatu Atômico, de Chico Science e Nação Zumbi, acompanhado de uma bateria de escola de samba. E por aí vai...

O final do show é um prodígio de criatividade. Ao som de “Aquele abraço” de Gilberto Gil, num cenário que apresenta o calçadão de Copacabana, duas fileiras de dançarinas avançam. Renato Sorriso vem correndo rampa abaixo ao encontro de um homem disfarçado, com chapéu e casaco, que vai subindo e do qual apenas se veem as costas. De repente, esse homem misterioso tira o casaco e o joga longe, faz o mesmo com o chapéu e aí se vira: Pelé, o maior craque da história do futebol, com a camisa da Seleção Brasileira de Futebol, sorridente, e os braços formando um grande abraço, “Aquele abraço!”. E música vibrando e o povo em delírio, com estrepitosos aplausos.

Como se pode ver, uma inteligente apresentação da diversidade cultural do Brasil para dar ao mundo uma visão de nosso folclore e de nossas manifestações artísticas.

É a Pátria de que nos orgulhamos. Bela é a frase latina que era a divisa do Barão de Rio Branco:

Ubique patriam reminisci. Em toda parte lembrar-se da nossa pátria.




terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

AQUELES HOMENS INSUBSTITUÍVEIS









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AQUELES HOMENS INSUBSTITUÍVEIS

Avelina Maria Noronha de Almeida




Muito se tem dito na mídia, recentemente, que Chico Anísio desmente a velha máxima “Ninguém é insubstituível”. Acompanhando o que se tem veiculado sobre a vida e a obra do notável humorista, tenho que concordar que ele é uma dessas pessoas que nunca encontrarão quem realize com tal maestria tudo o que ele fez.

Daqui a alguns meses veremos, para coroar o que se conhece de sua obra, um trabalho inédito, não do humorista, mas do ator dramático Chico Anísio, como o Major Consilva, personagem que ele representa no filme “A hora e a vez de Augusto Matraga”, baseado no conto de Guimarães Rosa. Seu papel é de um homem do sertão, rude, mau, tirânico. Com a força de seu desempenho, o pranteado ator conquistou o prêmio especial do júri do Festival do Rio.

Numa apresentação jornalística em que foi apresentado um trecho do filme, a reportagem é encerrada com Chico Anísio dizendo, pela fala de seu personagem: “Eu sou da raça de homens diferente da normal”. Vamos fazer também assim e separar a frase da personalidade do major e do contexto cinematográfico, dedicando-a, livre de todo o significado anterior, ao grande homem que, reentemente, encerrou sua trajetória terrestre, trocando o ponto final por dois pontos e completando: insubstituíveis.

Vou lembrar dois vultos também insubstituíveis em nossa terra.

Um deles, Conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira que, felizmente, agora já está ficando bem conhecido na cidade da qual é patrono. Basta para demonstrar o que estou dizendo o depoimento do notável jornalista, jurista e magistrado Edmundo Lins, naturalmente com mais autoridade do que eu:

“Ele não teve quem o excedesse, pensam muitos, ou quem com ele se ombreasse, penso eu. Não lhe conferiu essa primazia unicamente a sua inteligência de rara agudeza, mas em grande parte a sua cultura filosófica e literária, que os seus êmulos não tiveram.”

E a outra é o nosso ilustre Allex Assis Milagre, cuja obra é de tal vastidão que não se pode avaliá-la em toda a sua amplitude. Ninguém até hoje realizou em nossa cidade, e não vejo no horizonte quem poderá realizar, um trabalho tão profundo, meticuloso, grandioso e documentado dos fatos históricos, principalmente religiosos, e da genealogia de nossa região.

Três personalidades que souberam marcar com brilho sua trajetória, acrescentando valor à terra onde viveram, trabalharam e venceram. Pelo seu exemplo de cidadania, traduzem o que diz a frase latina:

“Ab uno disce omnes”. (Pelas qualidades de um indivíduo podem ser avaliadas as qualidades de um povo)




sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

EDUCAÇÃO, LUZ E CAMINHO PARA O MUNDO







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EDUCAÇÃO, LUZ E CAMINHO PARA O MUNDO

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinanoronhalmeida@gmail.com



Num estudo científico divulgado recentemente na revista científica The Lancet sobre as causas mais presentes na morte prematura ou na incapacidade da população mundial em 2010, as desordens psiquiátricas são apontadas como o maior problema na saúde global. Essa estatística coloca, como primeira causa dessas desordens, a depressão (40,5%) e a segunda causa, transtornos de ansiedade. Só depois transtornos derivados do uso das drogas (10,9%) e do álcool (9,6 %) e outros que apresentam porcentagem menor. E que problemas são esses senão dificuldades da vida, incapacidade de enfrentar com sucesso os sofrimentos que vão surgindo e dilapidando a alma? São a via crucis de pessoas que não estão preparadas para a vida.

Seria muito importante se, desde pequena idade, o ser humano se preparasse para o futuro de adulto. Com a complexidade dos tempos de hoje, as sobrecargas de trabalho dos pais, as crises familiares e muitos outros fatores dificultam esse preparo.

Uma solução importante seria que a escola preparasse para a vida, por ser uma entidade sistematizada e, se bem estruturada pelos currículos escolares, poderia oferecer significativa ajuda. Mas os currículos pecam por privilegiar o materialismo em detrimento do humanismo.

Mesmo com deficiências curriculares, têm surgido muitas experiência sobre “educar para a vida” ou escolas que procuram desenvolver essa filosofia. Mas são arquipélagos num mar extenso.

A História nos traz muitos iluminados pedagogos com suas teorias, como o alemão Rudolf Steiner, que em 1919, na Alemanha, almejava que as aulas fossem um preparo para a vida colocando os alunos diante de problemas reais. Ou o norte-americano John Dewey, dizendo que não havia separação entre a educação e a vida por isso a primeira devia preparar para a primeira.

Vi, num artigo pedagógico, o seguinte questionamento: “Educar para o Mercado ou educar para a Vida? Afinal, qual o papel da escola no século 21?”, e dizia mais adiante que a escola devia representar a vida. É bem verdade que o Mercado também faz parte da vida, mas nunca pode ser superior a ela, subjugá-la.

Indo mais longe, vamos a um trecho que me encanta da Ciropédia (A Educação de Ciro), livro em que o grego Xenofonte, em 360 a.C., fala sobre a educação persa: “Os meninos, freqüentando a escola, passam o tempo aprendendo a justiça; e dizem que vão à busca de aprender isso, do mesmo modo que, entre nós, os meninos dizem que vão à busca de aprender as letras.

Platão previu a decadência grega quando disse que Atenas, representante máximo do esplendor grego, foi perdendo seu valor quando “a encheram de portos e docas, de muros e de tributos, em vez de a encherem de retidão e esperança”. Estamos enfrentando uma situação também inquietante.

Tenho esperança que a Humanidade sofrida encontre, na Educação, Lumen ad Viam. (Luz para o seu Caminho)




domingo, 19 de janeiro de 2014

EXCELSA RAINHA








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EXCELSA RAINHA

Avelina Maria Noronha de Almeida

Escrita em agosto de 2013


Um dia alguns bandeirantes chegaram nas terras onde moravam índios Carijós e resolveram ficar por ali. Nos córregos cintilava o ouro à luz do sol e os gentios eram acolhedores. Traziam consigo uma imagem de Nossa Senhora da Conceição, força da espiritualidade em Portugal. Logo construíram, para colocar a efígie da Virgem, uma igrejinha de esteira e coberta de colmos, onde iam fazer suas preces. Depois levantaram uma ermida de pau a pique para abrigar a Mãe do Céu e para o culto divino. Foi assim que Nossa Senhora da Conceição começou a sua trajetória nestes vales e altiplanos localizados no coração das Minas Gerais.

Passavam-se os anos e, diante daquela imagem, manifestava-se a espiritualidade de mineradores, índios, fazendeiros, escravos, homens, mulheres, crianças, até que, em 1709, D. Frei Francisco de São Jerônimo, através de um de seus visitadores diocesanos que estava de passagem pela povoação, criou a Paróquia Nossa Senhora da Conceição do Campo Alegre dos Carijós. Nossa Senhora ganhou igreja nova, a primeira matriz, na entrada da cidade, olhando para o Rio de Janeiro, que era a sede da diocese. E também ganhou uma outra imagem, vinda, no mesmo ano, de Portugal, da cidade do Porto, muito linda, pisando sobre a lua, quatro doces anjinhos a seus pés, o manto com delicados volteios, as mãos postas e um rosto muito suave, muito lindo. A mesma imagem que até hoje, no seu trono, na definitiva matriz localizada no meio de duas praças no centro da cidade, vem, desde os primórdios do século XVIII, abençoando esta nossa cidade de Conselheiro Lafaiete e que, há cinquenta anos, recebeu em sua fronte uma coroa especial.

Foi em 2 de junho de 1961 que, pelo Breve Pontifício “Instante”, o Beato Papa João XXIII concedeu o privilégio da “Coroação Pontifícia da Imagem da Imaculada, Celeste e principal Patrona da cidade de Conselheiro Lafaiete”.

A coroação se realizou no dia 15 de agosto de 1963. Ruas ostentando faixas, a praça lotada de fiéis, muita alegria, músicas, flores, fogos, aclamações. A cerimônia religiosa revestiu-se de muita pompa e devoção, celebrada pelo bispo lafaietense Dom Daniel, com assistência pontifical do Cardeal Dom Carlos Carmelo de Vasconcelos Mota e a presença de representantes do Clero; do Governador do Estado, Dr. José de Magalhães Pinto; do prefeito, Dr. Orlando Baêta da Costa, e de outras autoridades. Veio gente de toda parte, às vezes de locais distantes, e esses visitantes foram acolhidos, com atenciosa hospitalidade, nas casas dos paroquianos.

Cinquenta anos passados... Quanta água rolou nesse período! Quantos fatos da vida lafaietense a Virgem presenciou! Quanto seu bondoso coração intercedeu por nós!

Há dez lustres o povo cantava o belo hino, letra do então Cônego José Sebastião Moreira e música do inspirado musicista Mansuêto Leão Correia, que começava assim:

Lafaiete hoje vem jubilosa,
Celebrar o triunfo imortal.

Na comemoração dos cinquenta anos daquele memorável dia, em versos do mesmo hino, a minha homenagem à abençoada Padroeira:

Honra e glória no céu e no exílio
À excelsa Rainha e Mãe nossa!

Nosso louvor a Nossa Senhora da Conceição e excelsa Padroeira, rogando para que, agraciados com sua intercessão, a cidade dela e nossa caminhe altaneira por todos os caminhos, mesmo os pedregosos, com a doçura de sua bênção e com a força sempre poderosa da esperança:

Salve, Regina, Mater misericordiae, vita, dulcedo et spes nostra, salve!



sábado, 18 de janeiro de 2014

VOCAÇÃO DE UMA CIDADE







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VOCAÇÃO DE UMA CIDADE
Avelina Maria Noronha de Almeida



Quando, em 1964, Manuel de Camargo, seu cunhado Bartolomeu Bueno de Siqueira, seu genro Miguel Garcia de Almeida e Cunha, seu sobrinho João Lopes de Camargo passaram, com sua bandeira, na terra habitada por índios carijós e bandeirantes mineradores, o Arraial do Campo Alegre dos Carijós teve sua existência oficializada. E aí começou sua vocação hoje proclamada de cidade dormitório e entreposto comercial.

Ressalvo que não é apenas dormitório, porque existe uma base familiar tradicional que atravessou séculos, e muitas famílias que vieram nos primeiros tempos continuaram aqui sua história de vida até hoje. Mesmo que muitos de seus componentes tenham buscado outras paragens, aqui ficaram as árvores frondosas dos primeiros troncos genealógicos. Mas também é grande o número daqueles que vêm de fora, trabalham em outras localidades e aqui têm seu lar onde descansam, no final do dia ou nos fins de semana, o corpo cansado da labuta pela sobrevivência digna.

Entreposto comercial porque, quando aquela bandeira passou em busca de mais territórios onde o ouro era farto, primeiro Itaverava, depois Guarapiranga, Mariana, Ouro Preto, Catas Altas, como Carijós era passagem obrigatória para esses lugares, aqui faziam plantações que lhes forneceriam alimentação.
Assim, este nosso recanto rodeado de montes tornou-se o pouso para bandeirantes e outros viajantes que acorreram para as minas auríferas da região e o celeiro para todos os arraiais que se iam formando em torno do arraial dos Carijós. Foi assim o início do nosso desenvolvimento: pela situação do nosso arraial como polo geográfico.

Com o tempo foi aumentando a criação de animais, especialmente muares, as plantações de cana de açúcar e outros produtos da terra. E o raio de ação do comércio queluziano ia longe... Francisco de Paula Ferreira de Rezende, que foi juiz em Queluz, para onde veio em 1857, em seu livro “Minhas Recordações”, diz que Queluz era um dos celeiros de Ouro Preto naquela época. As colchas feitas em São Gonçalo iam até para princesas na Europa.

No caminhar da História, foram aumentando os produtos, as Violas de Queluz extrapolaram até os limites da Província, depois Estado. Foram aparecendo novas ofertas de condições de vida até que essa caminhada brilhante chega aos tempos de hoje merecendo o resultado da pesquisa feita pelo Ibope Inteligência (uma das mais importantes empresas que estuda o comportamento e as opiniões dos cidadãos e consumidores latino-americanos, oferecendo diagnósticos muito respeitados) a pedido da Associação Brasileira de Lojistas de Shopping ( Alshop) e colocada no Atlas de Shopping.

Esse resultado é o seguinte: Conselheiro Lafaiete, pela sua posição estratégica de polo regional, pela demanda de consumo anual, com forte influência em 11 municípios no entorno da cidade, pela expansão das indústrias de mineração e siderurgia na região, é a segunda melhor cidade para abrigar um centro industrial no País.

Maravilhosa notícia para aumentar a nossa autoestima cidadã. Mas não nos esqueçamos da advertência latina, que nos aconselha: acima do progresso material, está a dignidade e a honra de uma cidade:

Virtute Plusquam Auro. (Pela virtude mais do que pelo ouro)

RJUKAN E O SOL








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RJUKAN E O SOL

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com



Quando ainda era estudante, eu gostava de assistir, na Rádio Clube, o início de um programa que começava às seis horas da manhã. Não tenho certeza se era “A hora do Fazendeiro”, só me lembro de que tocavam um lindo fundo misical, um galo cantava e depois vinha a mensagem do dia, sempre narrando um fato e passando um pensamento positivo. Uma dessas mensagens nunca mais esqueci.

Contava que um homem nunca havia acordado cedo. Porém um dia, acordou de madrugada e não conseguia dormir. Acabou levantando-se e se aproximou da janela. O sol estava nascendo. Ele nunca havia visto o alvorecer. Ficou tão maravilhado que pensou: se esse espetáculo só acontecesse uma vez, a rua estaria cheia de gente para ver.

Essa história me veio à mente ao ver, na mídia, um acontecimento fabuloso.

Rjukan é uma pequena cidade industrial da Noruega, situada no fundo de um vale íngreme, cercada de montanhas e, por isso, de setembro a março, fica envolvida em penumbra porque, devido ao ângulo de inclinação do sol, seus raios não incidem sobre aquele vale cujos moradores assim não desfrutam nem um pouco da luz solar. Para verem e sentirem o sol, precisam de subir vários quilômetros até o cume de uma das montanhas circundantes.

O artista local Martin Andersen, que vivera vários anos em Paris, a “cidade luz”, resolveu concretizar uma ideia antiga que outro morador, Sam Eyde, propôs em 1913 mas que não saiu do papel. Martin não desanimou diante do ceticismo dos mais velhos. Com o apoio dos jovens, colocou espelhos gigantescos formando uma elipse de luz de cerca de 600 metros quadrados, montados no alto de um cume de 400 metros, comandados por um computador e rebatendo a luz na direção da praça principal, em frente à prefeitura, trazendo luz para o escuro e frio inverno de Rjukan.

Na inauguração dos espelhos no último 30 de outubro, o prefeito disse: “Uma ideia de 100 anos que se tornou realidade”. Em seguida uma orquestra da cidade cantou conhecida música: Let the sun shine” (Deixe o brilho do sol). E disse mais o prefeito: “Rjukan é um município onde o impossível se torna possível”.

Centenas de moradores reunidos na praça para o evento receberam, eufóricos, sorridentes e felizes, os raios do sol, como se pode ver nas fotos da Internet.

O programa da Rádio Clube e este acontecimento atual devem nos levar a nos indagarmos: estamos nós, felizes habitantes de uma região quase sempre ensolarada, valorizando e sabendo aproveitar os benefícios que a natureza nos proporciona? Estamos dando atenção e nos maravilhando com as belezas que nos cercam, como o nascer do sol, que se acontecesse apenas uma vez estaríamos, como os habitantes de Rjukan, reunidos na praça para admirar e comemorar?

Marin Andersen foi ousado e valeu a pena porque, como diz o ditado:
Audaces fortuna juvat. (Ao homem ousado, a fortuna estende a mão)

DIA DO LIXEIRO








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DIA DO LIXEIRO

Avelina Maria Noronha de Almeida

avelinaconselheirolafaiete@gmail.com




Gosto muito de olhar Datas Comemorativas porque às vezes chamam a atenção sobre algum tema que merece destaque e, conforme, focalizá-lo. Dia 21 deste mês é Dia do Lixeiro, esse maravilhoso profissional que tanto contribui para manter a cidade limpa e, com isso, promove a saúde da comunidade, a higiene das casas e o bom aspecto das ruas.

Parabéns Lixeiros!

E uma coisa muito importante: todos nós devemos exercer, mesmo que de maneira informal, a nobre profissão de lixeiros. O lixeiro mais antigo que conheci foi na década de 40 do século passado e com ele aprendi a profissão. Não sei se na época havia coleta de lixo na cidade; pelo menos não me lembro de ver nada semelhante. Os lixos domiciliares eram colocados nas fossas, grandes, profundas e perigosas cavidades que havia atrás das casas. Eu, criança, morria de medo de cair na existente em minha casa. Papéis eram queimados na horta. E a sujeira das ruas jogadas em terrenos baldios ou desocupados.

Eu morava numa rua de canto, muito larga, com subida, muito esburacada pela ação das enxurradas. De manhãzinha meu pai, Jair Noronha, que exercia o cargo de secretário da prefeitura, logo após tomar o café ia varrer a rua em frente nossa casa. Mas não se contentava com isso; o informal lixeiro estendia o seu trabalho para a frente das casas vizinhas. Eu, menina ainda, era sua auxiliar na cidadã tarefa. Depois era uma beleza! Ficava tudo varridinho, tão limpinho!

Hoje em dia é mais complicado. O lixo aumentou demais, ainda mais em nossa terra verde amarela, considerada como um dos países do Mundo que tem mais lixo. D. Pedro II foi quem iniciou a preocupação com a coleta de lixo no Brasil. Corria o ano de 1880 e o nosso sábio imperador assinou um decreto, de número 3024, pelo qual aprovava o contrato de limpeza e irrigação da cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro. Quem executou o contrato foi Aleixo Gary, serviço depois continuado por Luciano Francisco Gary; por isso os dedicados profissionais da limpeza urbana são também chamados de “garis”.

Uma alerta para a população sobre o tema é que precisamos, individual e coletivamente, aprender e praticar maneiras mais eficientes de lidar com essa problemática. Também sobre o assunto, vi uma frase que achei muito pertinente: “REDUZIR o lixo, não no sentido de se privar de consumir, mas no sentido de dar”. Realmente, muito que é colocado no lixo está em bom estado de uso e pode servir para outras pessoas, ou pode ser reciclado.

Outra coisa, não é só se preocupar com os grandes lixos, mas também com as pequenas coisas que são jogadas no chão e ali deixadas, porque é daí que, pelo mal costume e pela acomodação às pequenas faltas, nascem os grandes erros.
Publilius Syrus, um escravo liberto vindo do Oriente e que vivia em Roma nos últimos tempos antes do nascimento de Cristo, ficou célebre por sua coleção de citações intitulada “Sententiae”. Uma dessas citações mostra a necessidade de nos preocuparmos até com as pequenas coisas. Um pequeno resíduo no chão pode ser portador de um vírus mortal. Como ele diz:

Etiam capillus Habet umbram. (Até mesmo um fio de cabelo tem sua sombra)




SEMENTES DE VERDADE









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SEMENTES DE VERDADE

Avelina Maria Noronha de Almeida



"A Igreja Católica é consciente da importância da amizade e do respeito entre os homens e mulheres das diferentes tradições religiosas".

Essa declaração foi feita pelo Papa Francisco aos líderes religiosos, pregando a coexistência pacífica entre as religiões, num encontro na sala Clementina do palácio apostólico. Entre esses líderes, estava o patriarca ortodoxo grego Bartolomeu I. Também havia representantes das Igrejas protestantes ocidentais, das comunidades judaica, muçulmana, budista, jain e skin.

E disse mais frases significativas, como a que se segue:

"Temos de estar próximos aos homens e às mulheres que, mesmo que não se reconheçam em nenhuma tradição religiosa, estão à procura da verdade, bondade e a beleza de Deus".

Belas palavras! Profunda sabedoria! Fiquei realmente impressionada e esperançosa de estarmos realmente inaugurando novos e melhores tempos.

Sou católica apostólica romana praticante, mas tenho um forte espírito ecumênico. Tudo começou em mim, nesse sentido, nos primeiros anos da década de cinquenta do século passado, nas aulas de Religião, no Colégio Nazaré, graças ao professor Padre Álvaro Correia Borges, na época Capelão do colégio, admirável conhecedor da Fé Cristã, filósofo e ser humano. Muito inteligente, espirituoso, informal, modesto, despojado totalmente de vaidades, mesmo assim, não sei o porquê, passava-me uma impressão daqueles nobres e cultos varões da Roma Antiga. Durante o tempo que residiu em Conselheiro Lafaiete, conquistou um grande número de amizades.

Devido aos ensinamentos do ilustre sacerdote, quando o Concílio Vaticano II, inaugurado por João XVIII em 11 de outubro de 1962, trouxe o movimento de unidade com os princípios ecumênicos, eu já convivia intimamente com eles. Décadas depois, João Paulo II, falando aos mulçumanos em uma de suas viagens, pronunciou a luminosa frase: “Deus pôs sementes de verdade em todas as religiões”.

Pelo visto, o Papa Francisco está continuando a caminhada evolutiva em busca de tempos em que se estreitem os laços religiosos e impere a força da Fé.

Espero que, realmente, um novo tempo tenha se iniciado (quando muros de incompreensão e de desentendimentos serão destruídos e se construirão pontes unindo esforços para mais fraternidade no mundo) naquele momento em que o Cardeal Protodiácono (o primeiro dos diáconos), o francês Jean-Louis Tauran, proclamou, na varanda do Vaticano:

“Annuntio vobis gaudium: habemus Papam!” (Anuncio uma grande alegria: temos um Papa!)