terça-feira, 10 de dezembro de 2013

VALOR CÍVICO QUELUZIANO


















Óleo em tela de Cidinha Dutra



VALOR CÍVICO QUELUZIANO

Avelina Maria Noronha de Almeida



Em 1842 houve um levante dos liberais das províncias de São Paulo e Minas Gerais, originado pelas disputas políticas entre Liberais e Conservadores. Iniciado em São Paulo, prosseguiu em Minas Gerais. Queluz, a segunda cidade mineira a apresentar sua adesão, foi o único lugar em que as tropas legalistas foram vencidas. Graças à estratégia utilizada por Marciano Pereira Brandão, ao amanhecer do dia 26 de julho a tropa legalista foi surgindo dos matos que rodeavam o Largo da Matriz (atual Praça Barão de Queluz), acenando com lenços brancos na ponta das baionetas.

Acontece, porém, que a sedição foi vencida nos outros lugares. E vieram as retaliações aos insurgentes: perseguições, prisões, sequestro dos bens dos liberais derrotados pelas tropas de Caxias. Foram presos, entre outros, o Cônego Antônio Marinho, o padre Gonçalo Pereira da Fonseca, Francisco Pereira de Assis, tio paterno do Conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira. Só em 1844 o Partido Liberal subiu novamente ao poder os liberais envolvidos foram anistiados.

Essa revolta é apresentada às vezes com o nome de Revolução Liberal de 1842, porém outros já a denominam de Movimento Liberal de 1482, alegando que o termo “revolução” indica um movimento de tão grandes proporções que provoca uma transformação profunda, uma ruptura política, alterando a ordem vigente. Isso é verdade: não houve alteração na estrutura política.

Mas, se não foi uma revolução política, as consequências do movimento significaram uma verdadeira e benéfica revolução geográfica e sociológica em grande parte do território mineiro, realizada pela força dos valentes queluzianos. Por quê? Para evitar os sofrimentos das perseguições que atingiriam a eles e a suas famílias, liberais queluzianos em duas semanas organizaram suas mudanças e se embrenharam pelo sertão. 38 famílias, constituídas por 127 mulheres, 158 homens; 49 crianças de 0 a 18 ano e 159 escravos de ambos os sexos, levando seus carros de bois, reses, animais de tropa e tanta coisa mais seguiram Marciano Pereira Brandão, o grande estrategista da vitória.

Dirigiram-se para a Serra do Salitre. Por certo um doloroso êxodo, com todos os sofrimentos da separação de familiares, da perda de patrimônios, dos desconfortos de uma jornada cheia de inquietações e mesmo de perigos. Porém eram gente valorosa, esses queluzianos! No caminho roçavam matas, faziam plantações, fundavam fazendas, arraiais. Ajudaram a povoar e colonizar grande parte de Minas, tornando-se muitas vezes líderes respeitados, como aconteceu em Leopoldina, Patrocínio, Piumhi, Desemboque, Cataguazes, Uberaba, Araxá... a lista é grande. Mudaram a face de grande parte do território mineiro levando a presença queluziana com nossos costumes, tipo de vida e valor cívico. Não foi uma verdadeira revolução geográfica e sociológica?

Cumpriu-se a frase latina: “A magnis maxima”. (De grandes causas, grandes efeitos)