segunda-feira, 4 de julho de 2016

SALVE OS NOSSOS IMIGRANTES!!!








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SALVE OS NOSSOS IMIGRANTES!!!

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com


Dia 25 de junho é dia do Imigrante. Para o pedaço de terra onde nasceu, cresceu e amadureceu nossa cidade veio muita gente, de etnia diversas. Mas o número maior de imigrantes que aqui chegou teve procedência dos Açores, arquipélago transcontinental e território autônomo da República Portuguesa. Dos Açores fazem parte as seguintes ilhas: Corvo, Flores, Faial, Graciosa, Pico, São Jorge, Terceira, Santa Maria e São Miguel. O arquipélago foi povoado por descendentes de portugueses, espanhois e flamengos (Flandres e Bélgica).

De acordo com estudos feitos por um genealogista, não foi encontrada nenhuma cidade que tenha tantas raízes açorianas como Conselheiro Lafaiete. É bom conhecermos um pouco sobre esse nosso berço territorial que nos trouxe muita gente no século XVIII. Os açorianos saíram de sua ilha, vieram para o Rio de Janeiro, sendo de lá enviados várias casais deles para a Colônia de Sacramento, às margens do Rio da Prata. Quando tiveram que abandonar a Colônia, foram para o Rio Grande do Sul. Durante o rush do ouro migraram para o Campo Alegre dos Carijós e estabeleceram as primeiras fazendas de nossa terra. E parece que essa imigração trouxe um traço muito forte para nossa identidade como povo. Vejam só qual é o lema da Região Autônoma dos Açores: “Antes morrer livres que em paz sujeitos”. Não parece o espírito da Inconfidência Mineira e dos Liberais do Movimento de 1842?

Dentre os açorianos que aqui aportaram, parece que o número maior veio da ilha de Faial, um lugar lindo, também chamada de Ilha Azul. E grande parte dos habitantes dessa ilha antepassados dos lafaietenses veio de Cedros, assim chamada pela enorme quantidade de cedros-do-mato, de odor característico e ricos de óleos essenciais. Muitos olhos azuis de gente daqui vêm dos descendentes dos flamengos holandeses que, quando estavam voltando das Cruzadas, atenderam ao convite de Dom Afonso Henrique, fundador de Portugal, para povoar aquele lugar. Dão-lhe um encanto especial as hortênsias, as camélias e as azáleas, flores tão queridas pelo nosso povo, e que lá são usadas para cercar os caminhos (lindos bordados, de um lado e do outro, por hortênsias azuis) e dividir propriedades.

Alguns dos sobrenomes que nos vieram da Ilha do Faial: Garcia, Cardoso, Gomes, Nunes, Goulart (são os descentes dos flamengos), Duarte, Alves. Gonçalves, Correia, Furtado, Pereira, Rodrigues, Fernandes, Freitas, Mendonça, Medeiros, Esteves e Costas. É claro que, com esses sobrenomes, pode haver portugueses vindos de outros lugares, mas um grande número veio de Cedros.

Salve os nossos Imigrantes Açorianos!!!

Como eles, também amamos a Liberdade e, se for necessário, lutamos por ela, assim como expressa a frase latina:
“Ense petit placidam sub libertate quietem”. (Pela espada buscamos paz, mas paz apenas sob liberdade)

Publicado no "Correio da Cidade" no final de junho de 2015.


REVERENCIANDO O PASSADO








Acervo Pessoal


REVERENCIANDO O PASSADO

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com



No último dia 25 de junho houve uma Sessão Solene na Câmara Municipal de Conselheiro Lafaiete a qual, juntamente com o Projeto Memória Viva de Queluz, com o Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais e com o Arquivo do Conhecimento Cláudio Manuel da Costa, comemorou o ato de adesão e reconhecimento da Câmara de Queluz, no dia 14 de junho de 1842, ao Movimento Liberal de 1842.

Assinaram essa adesão os seguintes vereadores da época: Joaquim Rodrigues Pereira, Joaquim Ferreira da Silva, Gonçalo Ferreira da Fonseca, Joaquim Albino de Almeida e Felisberto Nemésio Nery de Pádua.

Foi focalizado especialmente, nesse evento, o estrategista Marciano Pereira Brandão por sua brilhante atuação no desenrolar da situação bélica.

Conta o livro do CÕNEGO MARINHO, que participara do conflito, que o capitão MARCIANO BRANDÃO “aderiu cordialmente ao Movimento e que, com lealdade e zelo, serviu até o último instante”. Estando Queluz sob o domínio dos Legalistas, e parecendo a situação impossível de reverter para um resultado positivo que premiasse os liberais, o CAPITÃO MARCIANO deu o seu parecer sobre a situação dizendo que poderia tomar a vila de Queluz. Assim relata o Cônego Marinho:

“Propôs ele, então, que se lhe confiassem duzentos homens (talvez tenham tido dúvida sobre a eficiência do plano porque lhe confiaram apenas 150), com os quais iria, naquela mesma noite, sem que o pressentissem os Legalistas, ocupar as estradas de Ouro Preto, Congonhas e Suaçuí; que no dia seguinte (25 [de julho]) fosse uma das colunas acampar defronte a Vila, na Estrada do Rio de Janeiro, e outra na de Itaverava, as quais deviam ir sucessivamente apertando o cerco até que os Legalistas se concentrassem todos na povoação, caso em que lhes seriam tomadas as fontes e eles, obrigados pela sede, entregar-se-iam à discrição).”

Assim foi feito. Marciano Pereira Brandão, excelente estrategista, com sua proposta, levou os liberais à vitória. Aliás, Queluz foi o único lugar em que as tropas Legalistas foram vencidas, para se ver a importância do fato. Ao amanhecer do dia 26 de julho (data que deve ser sempre comemorada em nossa cidade), a tropa legalista, com lenços brancos na ponta das baionetas, entregou-se.

Foi assim que Marciano Pereira Brandão inscreveu seu nome nas páginas da História de Minas Gerais. Duvidaram do sucesso de seu plano porque a cidade de Queluz dominada pelos legalistas parecia impossível de se tomar. Porém o queluziano da localidade de São Gonçalo foi valente, teve confiança em sua estratégia e ousou. Alcançou a vitória pois uma deliberação arriscada, porém firme, bem refletida e executada, tem grande probabilidade de ter êxito.

Como disse Virgílio, poeta da antiga Roma (Eneida, X, 284):
Audentes fortuna iuvat. (Aos ousados sorri a fortuna)


Publicado no "Correio da Cidade" em princípio de julho de 2015.

UM GRANDE CIENTISTA LAFAIETENSE







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UM GRANDE CIENTISTA LAFAIETENSE

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

A mídia tem chamado muito a atenção sobre o Dia Mundial da Tireóide,  comemorado no dia 25 de maio, desenvolvendo-se, na semana em que ocorre a data, ações de sensibilização e esclarecimentos sobre os problemas de saúde decorrentes de mau funcionamento desse órgão, os meios de prevenção e o tratamento das moléstias em que ele se envolve. Cerca de trezentos milhões de indivíduos em todo o mundo têm disfunções tireoidiana.

Há um provérbio chinês que diz: “Mais vale salvar uma vida humana do que construir um pagode de sete andares”. É o que fazem os médicos procurando a cura das doenças. Um médico lafaietense dedicou-se, de maneira especial, ao problema da disfunção da tireoide: Dr. Álvaro Lobo Leite Pereira, que desenvolveu importante trabalho científico sobre o bócio endêmico.

Nos primeiros anos da década de 40, quando eu cursava o primário no Colégio Nazaré, tive contato com o grande cientista. Duas vezes por semana, a garotada ficava ansiosa pela hora do recreio. É que ali aparecia um médico que nos dava duas balas, quadradas, avermelhadas: balas de iodo. Uma delícia!...

Fabricadas na Fábrica de Balas do Barão, como era chamado o Henrique Nogueira de Faria, o médico ficava presente para verificar a dosagem e vigiar que nenhuma criança aproveitasse as rapas, como acontecia sempre.

Com o trabalho do cientista, a minha geração crescia ficando cada vez mais vacinada contra o bócio, grave problema muito comum nestas paragens distantes dos ares marítimos.

Dr. Álvaro era filho do engenheiro Francisco Lobo, que dá nome a uma das ruas de nossa cidade. Já havia feito parte da equipe do Dr. Carlos Chagas, que, em Lassance, descobriu o Trypanossoma e seu veículo, o barbeiro, realizando excelentes trabalhos em Bambuí sobre o assunto.

No período de 1942, foi designado para realizar estudos sobre a etiopatia e a profilaxia do bócio endêmico em Minas Gerais, especialmente no município de Conselheiro Lafaiete, realizando inquéritos sobre a doença e organizando um eficiente plano de profilaxia. Aqui ele criou o primeiro Centro de Pesquisa do Bócio Endêmico, no Brasil. Seu trabalho foi reconhecido em sua pátria e na França. Naquela época, residia à rua Tavares de Melo.

Dr. Álvaro defendeu ardorosamente o emprego do iodo no sal como a solução mais eficiente e econômica de profilaxia e erradicação do bócio endêmico nas regiões interioranas.

Quando faleceu, no Rio de Janeiro, em 20 de julho de 1950, estava ajudando a implantar o sal iodado no Estado do Rio de Janeiro.

Pouco depois, os meios científicos e a administração pública promoveram a introdução do sal iodado na cozinha do brasileiro, passando a ser obrigatória por imposição legal, inicialmente com a Lei nº 1944, de 14/08/1953, obrigando a iodetação nas regiões bociógenas. A Lei nº 6150, de 03/12/74 preceitua o uso em todo o território nacional.

Esse notável lafaietense se tornou digno de nossa admiração porque, como diz o provérbio latino:
"Laborum aedificat." (O trabalho edifica)

Publicado no "Correio da Cidade".


MARCAS QUE FICARAM





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MARCAS QUE FICARAM
Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com


Duas estrelas do firmamento de nossa comunidade se apagaram para nós e foram levar seu brilho a outro firmamento. Porém as marcas que ficaram de sua passagem são muito fortes e belas.

A primeira a se apagar foi Helena Augusta Batista, que era viúva do expedicionário João Baptista Perdigão. Formada em Magistério, exerceu pouco tempo a profissão, preferindo ficar cuidando de seu lar e confeccionando lindos trabalhos de linha ou bordados diversos com suas exímias mãos e seu refinado gosto. Suas obras, de fino lavor, levaram beleza e classe a muitos lares lafaietenses. De missa diária, cantava os hinos na igreja com uma bela voz. Enfrentou o sofrimento de ter o esposo sido enviado para a Segunda Guerra Mundial deixando-a com filhos pequenos e grávida de uma menina, mas tudo enfrentou com muita coragem. Nos pós-guerra os lafaietenses que lutaram na Itália fundaram uma Associação dos Ex-Combatentes, que também reuniu suas famílias. Helena foi presidente da associação das famílias. Cuidava pessoalmente e com muito carinho da sede e mantinha forte os laços que ligavam os familiares à associação. Enquanto teve forças, mesmo já em idade avançada, foi presente e atuante na preservação da memória dos heróicos acontecimentos históricos.

Poucos dias depois, apagou-se outra estrela: Marília Batista Albuquerque, viúva do médico Nilson Albuquerque. Foi uma linda menina prodígio, inscrevendo com brilho seu nome, na história do Rádio Lafaietense, com sua voz maravilhosa. Posteriormente dedicou-se às artes plásticas, com pinturas impressionistas, tendo feito estudos com o famoso pintor Carlos Bracher, que muito elogiava o talento da aluna. Marília participou, com suas pinturas, de várias exposições coletivas e individuais em Conselheiro Lafaiete e em diversas partes do Brasil. Entre suas telas ressalto o Ìndio Carijó, que pintou por encomenda do Clube Carijós. É de grande beleza! A Galeria de Artes Plástica – JBC, a primeira galeria de artes da cidade, foi sua criação, inaugurada com grande festividade e era um espaço aberto aos artistas da cidade. Poetisa de grande sensibilidade, com um estilo doce e delicado, foi um dos membros fundadores da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette e teve poemas publicados nas antologias “Poetas Queluzianos e Lafaietenses”, de 1991, e “Agenda Santo Antônio de Queluz”, de 1992, tendo fotos de telas suas nessa última antologia.

Foram, Helena e Marília, duas personalidades que marcaram sua presença na vida, deixando, pelos seus talentos e personalidade, um legado importante que merece a admiração de todos os seus conterrâneos.

Pelas abençoadas vidas de Helena e Marília...
..."Laudate Dominum!"(Louvemos ao Senhor!)


Publicado no "Correio da Cidade" em julho de 2015.