UM SER HUMANO
ADMIRÁVEL
Avelina Maria
Noronha de Almeida
Conheci Elder José quando, residindo
na rua Dr. Campolina, eu ia comprar pão na padaria de seu pai. A lembrança que
guardo daquela época é de um menino sereno e educado perto do balcão. Essa
postura Élder levou pela vida a fora. Andou por muitos lugares, conviveu com
muita gente, pobres e ricos, humildes e poderosos, simples e sofisticados. Transitou pelas altas rodas da sociedade, teve
amigos de posição elevada, realizou eventos, escreveu em colunas de jornais, teve
programas nas rádios, enfim, sua vida foi fecunda de experiências, mas
caminhando pela existência sempre com a mesma simplicidade, com a mesma
naturalidade elegante, estivesse onde estivesse. Pautou suas ações pela ética e
pela vontade de cooperar com a melhoria do ser humano.
Queria com força o desenvolvimento
de nossa cidade. Ultimamente me manifestou o desejo de que alguém escrevesse
sobre o início do rádio em nossa cidade. Que era uma história muito bonita, não
podia ser esquecida pelos que a acompanharam e precisava ser conhecida pelos
mais novos. Pediu-me que o fizesse, mas ponderei o seguinte: fui testemunha da
história do rádio em nossa terra desde o início, porém de dentro de minha casa,
ouvinte encantada com as músicas clássicas levadas ao ar pelo Ganime, atenta aos
programas da União Colegial Lafaietense, da qual fui integrante nos primeiros
anos da década de cinquenta, e de muita coisa mais. Porém, do que acontecia nos
bastidores, das lutas e vitórias, eu nada sabia. Ele, sim, faria um belo
relato. Vi que ficou entusiasmado.
Há poucas semanas, não tendo ido à
festa de seu aniversário, liguei para cumprimentá-lo e saiu de novo o assunto.
Convidei-o para um cafezinho a fim de conversarmos melhor e disse que mandaria
fazer um bolo. Ele me respondeu: “– Vou,
mas não mande fazer um bolo. Mande fazer uma broa de fubá!” Essa preferência
dele demonstra como, mesmo acostumado às mais sofisticadas mesas do society,
continuava preso às nossas raízes simples e tradicionais. Quem sabe alguém que
viveu aquela realidade resolva realizar esse sonho do Élder? Tomara!
Disse
Chaplin que “A
vida é um palco de teatro que não admite ensaios. Por isso, cante, chore, ria,
antes que as cortinas se fechem e o espetáculo termine sem aplausos. Elder José não precisava de ensaios. Com espontaneidade
cantou, chorou, riu e, antes que as cortinas se fechassem, apresentou seu último
espetáculo neste mundo, e que magnífico “grand finale”! Perfeito para terminar
sua trajetória! Na festa de seu aniversário, último de seus eventos, pediu que
aqueles que fossem não levassem presentes, mas fraldas para serem doadas aos
hospitais. Que belo gesto social de despedida beneficiando o próximo!
Só
não acho que as cortinas do espetáculo se fecharam definitivamente após os
aplausos de nós, pobres viventes. Ao chegar o grande Élder ao outro lado, elas
se reabriram e, em outro palco, esse mais brilhante que todos os de sua
gloriosa vida terrena, ele continua apresentando novos e esplêndidos
espetáculos.