terça-feira, 16 de julho de 2013

UM SER HUMANO ADMIRÁVEL



UM SER HUMANO ADMIRÁVEL

                              Avelina Maria Noronha de Almeida
                              avelinaqueluz@bol.com.br


            Conheci Elder José quando, residindo na rua Dr. Campolina, eu ia comprar pão na padaria de seu pai. A lembrança que guardo daquela época é de um menino sereno e educado perto do balcão. Essa postura Élder levou pela vida a fora. Andou por muitos lugares, conviveu com muita gente, pobres e ricos, humildes e poderosos, simples e sofisticados.  Transitou pelas altas rodas da sociedade, teve amigos de posição elevada, realizou eventos, escreveu em colunas de jornais, teve programas nas rádios, enfim, sua vida foi fecunda de experiências, mas caminhando pela existência sempre com a mesma simplicidade, com a mesma naturalidade elegante, estivesse onde estivesse. Pautou suas ações pela ética e pela vontade de cooperar com a melhoria do ser humano.
            Queria com força o desenvolvimento de nossa cidade. Ultimamente me manifestou o desejo de que alguém escrevesse sobre o início do rádio em nossa cidade. Que era uma história muito bonita, não podia ser esquecida pelos que a acompanharam e precisava ser conhecida pelos mais novos. Pediu-me que o fizesse, mas ponderei o seguinte: fui testemunha da história do rádio em nossa terra desde o início, porém de dentro de minha casa, ouvinte encantada com as músicas clássicas levadas ao ar pelo Ganime, atenta aos programas da União Colegial Lafaietense, da qual fui integrante nos primeiros anos da década de cinquenta, e de muita coisa mais. Porém, do que acontecia nos bastidores, das lutas e vitórias, eu nada sabia. Ele, sim, faria um belo relato. Vi que ficou entusiasmado.
            Há poucas semanas, não tendo ido à festa de seu aniversário, liguei para cumprimentá-lo e saiu de novo o assunto. Convidei-o para um cafezinho a fim de conversarmos melhor e disse que mandaria fazer um bolo. Ele me respondeu: “–  Vou, mas não mande fazer um bolo. Mande fazer uma broa de fubá!” Essa preferência dele demonstra como, mesmo acostumado às mais sofisticadas mesas do society, continuava preso às nossas raízes simples e tradicionais. Quem sabe alguém que viveu aquela realidade resolva realizar esse sonho do Élder? Tomara!
            Disse Chaplin que “A vida é um palco de teatro que não admite ensaios. Por isso, cante, chore, ria, antes que as cortinas se fechem e o espetáculo termine sem aplausos. Elder José não precisava de ensaios. Com espontaneidade cantou, chorou, riu e, antes que as cortinas se fechassem, apresentou seu último espetáculo neste mundo, e que magnífico “grand finale”! Perfeito para terminar sua trajetória! Na festa de seu aniversário, último de seus eventos, pediu que aqueles que fossem não levassem presentes, mas fraldas para serem doadas aos hospitais. Que belo gesto social de despedida beneficiando o próximo!

Só não acho que as cortinas do espetáculo se fecharam definitivamente após os aplausos de nós, pobres viventes. Ao chegar o grande Élder ao outro lado, elas se reabriram e, em outro palco, esse mais brilhante que todos os de sua gloriosa vida terrena, ele continua apresentando novos e esplêndidos espetáculos.