terça-feira, 16 de julho de 2013

UM SER HUMANO ADMIRÁVEL



UM SER HUMANO ADMIRÁVEL

                              Avelina Maria Noronha de Almeida
                              avelinaqueluz@bol.com.br


            Conheci Elder José quando, residindo na rua Dr. Campolina, eu ia comprar pão na padaria de seu pai. A lembrança que guardo daquela época é de um menino sereno e educado perto do balcão. Essa postura Élder levou pela vida a fora. Andou por muitos lugares, conviveu com muita gente, pobres e ricos, humildes e poderosos, simples e sofisticados.  Transitou pelas altas rodas da sociedade, teve amigos de posição elevada, realizou eventos, escreveu em colunas de jornais, teve programas nas rádios, enfim, sua vida foi fecunda de experiências, mas caminhando pela existência sempre com a mesma simplicidade, com a mesma naturalidade elegante, estivesse onde estivesse. Pautou suas ações pela ética e pela vontade de cooperar com a melhoria do ser humano.
            Queria com força o desenvolvimento de nossa cidade. Ultimamente me manifestou o desejo de que alguém escrevesse sobre o início do rádio em nossa cidade. Que era uma história muito bonita, não podia ser esquecida pelos que a acompanharam e precisava ser conhecida pelos mais novos. Pediu-me que o fizesse, mas ponderei o seguinte: fui testemunha da história do rádio em nossa terra desde o início, porém de dentro de minha casa, ouvinte encantada com as músicas clássicas levadas ao ar pelo Ganime, atenta aos programas da União Colegial Lafaietense, da qual fui integrante nos primeiros anos da década de cinquenta, e de muita coisa mais. Porém, do que acontecia nos bastidores, das lutas e vitórias, eu nada sabia. Ele, sim, faria um belo relato. Vi que ficou entusiasmado.
            Há poucas semanas, não tendo ido à festa de seu aniversário, liguei para cumprimentá-lo e saiu de novo o assunto. Convidei-o para um cafezinho a fim de conversarmos melhor e disse que mandaria fazer um bolo. Ele me respondeu: “–  Vou, mas não mande fazer um bolo. Mande fazer uma broa de fubá!” Essa preferência dele demonstra como, mesmo acostumado às mais sofisticadas mesas do society, continuava preso às nossas raízes simples e tradicionais. Quem sabe alguém que viveu aquela realidade resolva realizar esse sonho do Élder? Tomara!
            Disse Chaplin que “A vida é um palco de teatro que não admite ensaios. Por isso, cante, chore, ria, antes que as cortinas se fechem e o espetáculo termine sem aplausos. Elder José não precisava de ensaios. Com espontaneidade cantou, chorou, riu e, antes que as cortinas se fechassem, apresentou seu último espetáculo neste mundo, e que magnífico “grand finale”! Perfeito para terminar sua trajetória! Na festa de seu aniversário, último de seus eventos, pediu que aqueles que fossem não levassem presentes, mas fraldas para serem doadas aos hospitais. Que belo gesto social de despedida beneficiando o próximo!

Só não acho que as cortinas do espetáculo se fecharam definitivamente após os aplausos de nós, pobres viventes. Ao chegar o grande Élder ao outro lado, elas se reabriram e, em outro palco, esse mais brilhante que todos os de sua gloriosa vida terrena, ele continua apresentando novos e esplêndidos espetáculos.

sexta-feira, 5 de julho de 2013

UM GRANDE VALOR EM NOSSA CIDADE



UM GRANDE VALOR EM NOSSA CIDADE
                                                                       Avelina Maria Noronha de Almeida
                                                                                   avelinaqueluz@bol.com.br

            Temos muitas coisas boas em nossa cidade, que a valorizam e a colocam em lugar de destaque. Uma delas é o xadrez.
19 de novembro é o Dia Mundial do Xadrez. A data foi escolhida por ser o aniversário do cubano Raul Capablanca, considerado “gênio e menino prodígio do xadrez”, campeão mundial de xadrez de 1921 a 1927.
Há muita controvérsia quanto à origem desse jogo, com muitas histórias associadas a seu início. Dizem uns que começou na China, outros na Índia, ou na Pérsia, ou no Egito... A que é mais divulgada se passa na Índia, numa pequena cidade chamada Taligana. Um poderoso rajá teve a infelicidade de seu único filho ter sido morto em uma batalha sangrenta. O rajá mergulhou numa tristeza sem fim, em profunda depressão e ninguém conseguia ajudá-lo a superar a dolorosa perda. Com isso estava morrendo aos poucos e o reino estava tão descuidado que pouco faltava para que se arruinasse totalmente.
            Preocupado com a queda do reino, um brâmane, Lahur Sessa, levou ao rajá um tabuleiro contendo 64 quadros, brancos e pretos, com diversas peças de formatos diferentes representando o exército indiano:  a infantaria (peões), a cavalaria, os carros de combate (bispo) , elefantes (torres), o principal vizir (rainha) e o próprio rajá (rei). Por ser uma batalha, o jogo privilegiava a prudência, a lucidez, a sabedoria, a importância da decisão, da ponderação, da persistência. Aquele jogo, disse o brâmane ao rajá, iria acalmar seu espírito, curá-lo da depressão e aceitar com resignação a morte do filho.  Foi realmente o que aconteceu e o rajá voltou a dedicar-se a seu reino, que voltou a ser próspero e feliz.
            Quem trouxe o xadrez para o Brasil foi D. João VI, em 1808.
            A história do xadrez em nossa cidade vai muito longe, mas só em 1994 foi fundado oficialmente o Clube de Xadrez . Há alguns anos, partindo das aulas do professor Elder Miguel na Escola Municipal Dr, Rui Pena (CAÍQUE), foi criado o “Projeto Xadrez na Escola”, nas escolas municipais, hoje já atingindo 19 escolas, sendo quatro na região rural. Essas escolas têm feito trabalhos excelentes e conquistado muitas vitórias.
            E vejam que importante: na quinta-feira oito deste mês, a Escola Municipal “Jair Noronha” recebeu diploma de “Honra ao Mérito Desportivo – Modalidade Xadrez”, concedida pela Câmara Municipal de Conselheiro Lafaiete. De acordo com a diretora, Cleide Helena Faria, o xadrez desenvolveu, nos alunos de sua escola, raciocínio, concentração, atenção, elevação da auto-estima e senso de competitividade positiva.
            E ainda: a aluna Tatiane Letícia Gomes Lisboa, de 13 anos, da Escola Profissional “Luiz Carlos Gomes Beato”, foi a campeã de Minas Gerais nos Jogos Estudantis de Minas Gerais – JEMG.
            Parabéns, escolas e estudantes! Como diziam os latinos:

            Amat victoria curam. (A vitória favorece os que se preparam)

FELIZ ANO NOVO!





FELIZ ANO NOVO!
                                                                      
                                                                       Avelina Maria Noronha de Almeida
                                                                             avelinaqueluz@bol.com.br
                                                                      

(Publicado na passagem de 2012 para 2013)


No livro “Nossa Vida”, da queluziana Maria José Gerspacher Schmitz, publicado em 1976, entre vários episódios interessantes do passado fala sobre uma passagem de ano:
“Quantas vezes, em companhia do papai, esperava a chegada do Ano Novo, em uma das sacadas, no salão. Enquanto os outros na sala, em volta da grande mesa, comiam nozes, amêndoas, figos, ameixas e outras coisas gostosas, eu preferia ficar com o papai. Não havia luz elétrica nas casas e nas ruas, e eu olhava ansiosa esperando ver surgir de dentro da escuridão alguma coisa diferente que seria o Ano Novo. O papai contava:
– Lá se vai o Ano Velho, de barbas brancas, velhinho e tristonho, ninguém mais se importa com ele. Vem chegando o Ano Novo, menino bem pequeno ainda, carregando sua trouxinha, e todos esperam alegres, cheios de esperança, com grandes festejos.
Ficava com tanta pena do Ano Velho que tinha vontade de chorar.”
Essa visão de uma criança na Passagem do Ano, há mais de cem anos, desperta-me reflexões. Acreditando nas palavras do pai, a menina imaginava o velhinho tristonho indo embora e ficava com pena dele. Como dói a saudade daquele tempo em que era tão bela a fantasia na mente das crianças! Lindas a sensibilidade infantil em relação ao velhinho que se ia, a reunião da família em torno da mesa tradicional! Hoje as atrações culinárias são outras e muitos, naquela hora de mudança, estão dançando nos “réveillons” ou comemorando nas praças.
Havia escuridão nas casas e nas ruas, porém eles enxergavam melhor o significado daquela data do que nós hoje, tão iluminados pela eletricidade.
Aí me perguntei: será que ainda há crianças que, na passagem deste ano, tenham vontade de chorar de pena do velhinho 2012? Tenho minhas dúvidas... Estarão talvez entretidas com joguinhos eletrônicos, desenhos às vezes assustadores e outras atrações que se apresentam hoje para a infância.
O trecho de Maria José foi em mim que despertou a vontade de chorar de pena do velhinho, levando às suas costas tanta coisa triste que presenciou em 2012. Se houve realizações importantes, avanços na ciências, incríveis inovações tecnológicas, tablets, games, celulares, fabulosas descobertas astronômicas e tanta coisa  mais...
... houve muita pirataria on-line, invasões terríveis de privacidade, tragédias ambientais, conflitos generalizados pelo mundo, muita miséria, bastante corrupção, violência exacerbada e perdas de pessoas ilustres.
Quanto às expectativas em relação ao menino Ano Novo, as pessoas não mudaram. É geral o sentimento de esperança de que sua trouxinha vá se enriquecendo, no passar dos dias, com eventos felizes, progressos benéficos e muita harmonia.
Aos leitores, desejo que suas esperanças  se concretizem, que sigam caminhos  floridos e iluminados, mas sejam seus passos firmes e cuidadosos, porque  sempre se encontram tropeços; por isso vale a advertência prudente dos romanos: “Cave ne cadas” (Cautela em não caíres).




PERMANÊNCIA DE CLEIBER ANDRADE




PERMANÊNCIA DE CLEIBER ANDRADE
                                                     Avelina Maria Noronha de Almeida
                                                                                                        


                Não vou dizer que a morte de Cleiber deixou nossa Cultura mais pobre. Não seria verdadeiro porque a riqueza de sua personalidade está cintilante nas obras que ele deixou. Cleiber continua presente em suas preciosas obras.
Entre tantos adjetivos que cabem ao ilustre escritor, podemos ressaltar que foi uma pessoa incrivelmente forte, sem esmorecer nunca, sem empalidecer a inteligência e a memória, lúcido e batalhador até o fim.
Quinze dias antes de seu falecimento enviou um e-mail para os participantes de sua lista na Internet com a carta que escrevera defendendo os aposentados. Um texto enérgico, literariamente muito bem escrito, recheado de metáforas e com seriedade de argumentos. A preocupação com os problemas sociais já havia se manifestado no livro de poemas “Vozes da terra e outras vozes”, lançado em 2002, inspirado na miséria que presenciou no Vale do Jequitinhonha. A sua consternação ao tomar contato com tanta tristeza se transformou em versos vigorosos e de grande beleza que formaram um longo e emocionante poema.
A genialidade literária de Cleiber era multifacetada, com incursões em temas históricos, na Poesia, no jornalismo e em outros setores, mas, de um modo muito especial, no Teatro. Foram 50 anos de experiência no meio teatral, com 20 peças escritas, todas elas reconhecidas como de grande valor por nomes importantes do cenário cultural brasileiro e representadas, também, por artistas talentosos e aplaudidos, como Procópio Ferreira.
Sua primeira obra, a comédia de costumes, “Um dia a casa cai”, estreou-se no dia 18 de setembro de 1947, no Cine Teatro Avenida. E a carreira de escritor de peças teatrais foi caminhando pelo tempo; sucediam-se peças, desempenhavam-nas grandes artistas. Uma obra clássica é aquela que sobrevive atravessando os tempos com a mesma aceitação de gerações diversas. Pode ser exemplo dessa definição a peça “Zero Hora”, publicada na coleção “Teatro Nacional” e que logrou o primeiro lugar no Concurso Nacional de Dramaturgia do Jornal “A Noite”, do Rio de Janeiro. Alcançou grande sucesso em 1961 em São Paulo; após tanto tempo, desde outubro de 2009 tem sido um sucesso em Portugal (lá recebeu o nome de “Hora Zero”), sendo apresentada e grandemente aplaudida em várias cidades portuguesas.

Cleiber era Membro Emérito da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette e, entre outras honrarias, foi agraciado, pelo Governo do Estado de Minas Gerais, com a Medalha Santos Dumont, grau prata, indicação da Academia Mineira de Letras por seus méritos literários.
Seu último livro de poesias, “Nas asas do vento”, é uma obra lírica de intensa beleza. Pois foi nas asas desse vento, que ele cantou tão lindamente, que Cleiber Andrade foi passear pela Eternidade. Ele que soube seguir o ensinamento de Provérbios [16.16 – Vulgata]:
Posside sapientiam, quia auro melior est. Possui a sabedoria, pois ela é melhor que o ouro.





           


SERÁ UM PIONERISMO DE QUELUZ?



SERÁ UM PIONERISMO DE QUELUZ?
                                        Avelina Maria Noronha de Almeida
                                          avelinaqueluz@bol.com.br

            Uma das profissões que mais me fascina é a do paleontólogo, que se aplica a descobrir fósseis, isto é, partes dos corpos de animais que se preservaram séculos em baixo da terra, sedimentados em rochas, no gelo e em outros sítios favoráveis à sua conservação e, nesses fósseis, também vislumbrar como aconteceu a evolução primata-homem.
            Dia 15 de junho é a data comemorativa do paleontólogo. O símbolo mais forte dessa profissão é uma pessoa extraordinária: O dinamarquês Peter Wilhelm Lund, que veio por duas vezes ao Brasil e, na última, aqui ficou definitivamente até o dia de sua morte. Em uma das viagens que empreendeu em nosso País, encontrou outro dinamarquês que explorava salitre nas cavernas calcáreas. Certo dia, acompanhando o amigo em excursões a cavernas da região de Curvelo, reconheceu ossadas misturadas ao salitre. Assim, a partir de 1833, iniciou suas notáveis pesquisas e descobertas nessa área.
Sabem que, em terras de Queluz, foi descoberto um fóssil antidiluviano? E pode ter sido descoberto anteriormente às descobertas de Lund?
            Em manuscritos escritos nos primeiros anos do século XX, diz o professor laminense João Duarte Medeiros que havia sido encontrado um fóssil em terras de Queluz. Também um dos visitantes estrangeiros que vieram ao Brasil na primeira metade do século XIX, o inglês Francis Castelnau, em seu livro “Expedição às Regiões Centrais da América do Sul”, publicado em 1843, relata que, vindo de Barbacena, atravessara o rio Carandaí e entrara em terras de Queluz. Depois refere o seguinte: “Cunha Matos fala de interessante descoberta, nas margens deste rio, de um crânio gigantesco, provavelmente de mastodonte e coberto ainda de pelos muito grossos e com palmo e meio de comprimento. Estavam cortados em forma de coroa e muito bem conservados. Esta descoberta, que parece ter sido feita em terreno argiloso, apresenta um fato curioso e quase inexplicável. É verdade que se têm descoberto, mais de uma vez, animais antediluvianos conservados intatos, pelos inclusive, entre os blocos de gelo da Sibéria; mas, nos países mais quentes, nenhuma descoberta desta natureza foi feita. Depois daí é difícil de explicar como, em tais circunstâncias, possam porções do pelo do animal resistir à destruição, não só por efeito das causas naturais, mas ainda em virtude do ataque pelos seres variados que pululam nessas regiões”.
Se o fato foi publicado em 1843 e o autor encontrou-o em um livro publicado anteriormente, pode muito bem a descoberta em Queluz ser anterior às descobertas de Lund.
Onde estará o nosso fóssil? Nosso também, porque, na época de sua descoberta, o local fazia parte da Vila de Queluz. Hoje o local deve ser de Cristiano Otoni. Escavações à margem do rio Carandaí poderiam descobrir um riquíssimo sítio arqueológico. Seria formidável! São outros os tempos em relação a essa descoberta que, para nós, na verdade, ainda está bastante “encoberta”. Quem sabe, com a evolução cultural e educacional de nossa querida terra, o tempo atual nos traga boas novidades porque, como diz o ditado latino:
O tempo tudo traz. (Omnia fert aetas)



quarta-feira, 3 de julho de 2013

FÉ E CIÊNCIA



FÉ E CIÊNCIA
                                                               Avelina Maria Noronha de Almeida
                                                                                                                   avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

            No ano passado, o cardeal italiano Dom Zenon Grocholewski, expressando-se sobre a Fé em uma homilia no Santuário do Pai Eterno, em Trindade, Goiás, o faz de uma forma belíssima:
            “A Fé é como a noite, uma noite escura iluminada de estrelas. Mas não é verdade que a durante a noite se vê menos? Não é verdade que à noite se vê menos. Ao contrário. Durante a noite se vê muito mais. Durante o dia, sim, vemos muito mais claramente, mais precisamente. Porém vemos pouco; vemos somente o que nos circunda. Nosso campo visual é mui limitado. Durante a noite certamente vemos com menor claridade, com menos precisão, porém vemos mais plenamente, mais longe, vemos as estrelas que estão afastada de nós milhões de anos luz.”
            Dizem que não somos do tamanho da nossa altura, mas do tamanho do que vemos. Pois esse cardeal disse que, mirando as estrelas, sentia-se grande, que a vida dele não estava limitada à realidade terrena, mas, sim, “incrustada em um fascinante, encantador e imenso Universo”.
            Lembrei-me dessas palavras vendo diversas imagens captadas pelo Telescópio Espacial Hubble, um satélite astronômico artificial que transporta um grande telescópio lançado pela NASA em 1990. As visões e informações que ele nos traz são fascinantes. Por exemplo, a Nebulosa de Orion com a luz vermelha indicando a emissão por nitrogênio; a luz verde, por hidrogênio; e a azul por oxigênio. A Nebulosa do Cisne é vista como um oceano de hidrogênio com pequenas quantidades de oxigênio, enxofre e outros elementos.
            E veio ao meu pensamento uma associação entre a Fé e o Telescópio Hubble. Santo Tomás de Aquino nos fala de cinco vias para se provar a existência de Deus. E a que vem agora ao caso é a Quinta Via, segundo a qual a ordem sempre remete a um Sapientíssimo Planejador e Ordenador, um Organizador sumamente inteligente, de admirável sabedoria formando uma unidade sábia, harmônica e bela. Imaginem só, numa lonjura de muitos milhares, milhões de anos luz vislumbramos as mesmas cores, estão os mesmos elementos químicos encontrados em nosso mundo pequeno diante da grandiosidade de outros corpos celestes, numa correlação em que se conjugam  as mesmas leis, encadeados num conjunto de causa e efeito, obedecendo a um plano que faz da Criação uma incrível e admirável unidade. Um cientista ex-ateu, Scheleich, fez o seguinte depoimento: “Tornei-me religioso por meio de um microscópio e da contemplação da natureza”.
Diante do que mostra o Hubble, só temos que admirar a grandeza do Universo e louvar ao Criador por sua obra. Como diz Dante, em De Monarchia 13.2:

“Deus aeternus arte sua, quae natura est.” (Deus é eterno por sua obra, que é a natureza)

CIDADE DOS LIVROS E DAS FLORES





CIDADE DOS LIVROS E DAS FLORES
                                                                            Avelina Maria Noronha de Almeida
                                                                                     

            Muitos sois já se passaram desde que os índios Carijós chegaram em busca da “terra sem males”.  Se não a encontraram, ajudaram a escrever uma história iluminada por muitos sois, mesmo que às vezes encobertos pelas nuvens.
            Várias alusões felizes já foram feitas sobre nossa terra. O “Tratado de Geografia Descritiva da Província de Minas Gerais”, de 1878, assim se refere a Queluz: “No município fabricam-se ótimos tecidos de algodão e lã, que já foram premiados na exposição mineira; também se fabricam as afamadas violas, conhecidas pelo nome de Violas de Queluz e ali também fazem-se as muitas panelas de pedra, ótimas para a cozinha e de todos esses gêneros faz-se grande exportação.”
               Em seu livro “Minhas Recordações”, Francisco de Paula Ferreira de Rezende, que foi Juiz de Direito aqui em meados do século XIX, diz ser Queluz  um dos celeiros de Ouro Preto e, mais ainda, que as colchas fabricadas em S. Gonçalo, apesar de caras, eram muito compradas e até mesmo enviadas para as princesas europeias.
              Mas uma referência muito citada ultimamente é a de Nelson de Senna, no Anuário de Minas Gerais, em princípios do século passado, dizendo ser Queluz um reduto de intelectuais, que o povo daqui amava os livros e não havia casa que não tivesse ao menos uma flor. Fazendo uma comparação com os nossos tempos, também temos uma falange de intelectuais, alguns com projeção fora de nossos limites territoriais; está crescendo a atração pelos livros, de modo muito especial nas escolas, dando o destaque ao Movimento Caravelas, da Academia de Ciências e Letras de Conselheiro Lafayette, desenvolvido pela acadêmica Leda Maria Augusta Vieira de Faria.
Quanto às flores, não estamos correspondendo aos velhos tempos, embora em alguns logradouros grande número de casas ostentem jardins e muros onde se debruçam lindas trepadeiras, principalmente bouganvilles. Eu me lembro das primeiras dessas flores que vi em minha vida, menina ainda, quando Dr. Mário Rodrigues Pereira, então prefeito, mandou trazê-las para enfeitar a Praça Barão de Queluz, e hoje ainda lá se encontram. Também, aqui e ali, encontramos ipês e outras árvores que nos brindam com sua floração.
            Mas quando viajo na Internet e vejo certas ruas em cidades da França, da Itália, da Espanha e de outros países, fico encantada com os vasos de flores de espaço em espaço nas calçadas e aquelas casas que não têm jardim com flores nas janelas, ou vasos pendurados nas paredes e nos muros, numa profusão de cores e encantamentos.
            Como seria bom se Conselheiro Lafaiete fosse assim... Seríamos realmente uma Cidade das Flores e do Livros. Não é um “Sonho de uma noite de Verão”, mas um sonho de véspera de Primavera. Como sonhar não custa nada... Diz Aristóteles: “Spes est vigilantis somnium” (A esperança é o sonho do homem acordado)

Observação: O artigo foi publicado em princípios de setembro.

CIDADE GENTIL




CIDADE GENTIL
                                                         Avelina Maria Noronha de Almeida

            No filme “Suplício de uma Saudade”, de 1955, ambientado em Hong Kong durante a Guerra da Coréia, a médica eurasiana Han Suyin (Jennifer Jones), quando interpelada pelo correspondente de guerra americano Mark (William Holden) sobre como, tendo nova visão de vida, iria enfrentar a rigidez da tradição  na volta à terra natal, revela com que recurso iria vencer o desafio:
            - Não há força maior no mundo que a gentileza.
            A jovem médica iria opor, aos costumes milenares, uma atitude simples, mas que, acreditava, derrubaria as barreiras.
            Estamos cansados de ver a prepotência, a arrogância e a brutalidade tornarem o mundo um lugar cada vez mais difícil de se viver. Dos mais poderosos aos mais humildes, em todos os quadrantes da Terra, há uma legião de seres humanos que lançam, entre si, farpas, insultos, rumores perigosos de ódio, ameaças que, muitas vezes, se transformam em agressão verdadeira. Se houvesse uma onda de  gentileza, não seria, esta, doce e eficiente arma na reversão do  triste quadro?
            Para isso, não é necessário abandonar o nosso cotidiano como o fez  o Profeta Gentileza, José Datrino. Após o incêndio do “Gran Circus Norte-Americano em Niterói, no dia 17 de dezembro de 1961, às vésperas do Natal, vitimando mais de 500 pessoas, a maioria crianças, o empresário desligou-se de todo apego ao material. Durante anos trabalhou no local da triste ocorrência e transformou, o que eram cinzas e marcas do incêndio, numa linda plantação de flores. Com túnica branca e longas barbas, pintou mensagens de paz, amor e gentileza nas pilastras do viaduto do Caju e em  outros lugares do Rio de Janeiro. Saía também por várias cidades levando sua mensagem, inclusive veio várias vezes a Lafaiete.
            Entre suas frases destaca-se: “Gentileza gera gentileza”, que já fora dita por Erasmo (Adágia 1.1.34): “Gratia gratiam parit.”
            Imaginem uma cidade que aderisse à campanha do profeta e seus habitantes escrevessem, dentro das residências e na entrada das lojas, escritórios, repartições, escolas, farmácias, restaurantes, meios de locomoção e outros locais um pedido: SEJA GENTIL! E se a maioria dos cidadãos atendesse ao apelo, quem sabe ela receberia o título de “CIDADE GENTIL”? Pode parecer ou ser utopia, mas seria lindo, não?
            Ovídio, no verso 1.2.183, em Ars Amatoria, fala sobre a poderosa força da gentileza:

            “Obsequium tigresque domat Numidas que leones” (A gentileza doma os tigres e os leões da Numídia).

UM BELO EXEMPLO




UM BELO EXEMPLO

Avelina Maria Noronha de Almeida
                                                                                                            avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

Um dos personagens da Mitologia Grega,  Sísifo, foi condenado a rolar, por toda a Eternidade, até o cume de uma montanha, uma grande pedra de mármore. Quando a pedra alcançava o topo, uma força irresistível a fazia rolar montanha abaixo, obrigando-o a repetir, incessantemente, a inglória tarefa. Sísifo é um arquétipo que se pode aplicar à grande parte da humanidade que vive presa à inutilidade de esforços, ao trabalho sem sentido ou ideal ou sem a persistência inteligente que leva a alcançar uma vitória por mais custosa que seja.
Felizmente, nem todos se entregam à rotina estéril ou à resignação sem luta. Há muita gente que consegue superar desafios praticamente impossíveis de resolução e faz com que seus esforços na subida se tornem vitoriosos e se consolidem no topo da montanha.
Como exemplo, cito um brasileiro que, a custo de muita luta, conseguiu superar obstáculos e realizar importante e benéfica empreitada: Christiano Benedicto Ottoni, por muitos conhecido apenas como nome de nossa vizinha cidade. Vale a pena conhecer um pouco de sua brilhante trajetória.
Como seu nome é conhecido e grafado atualmente, Cristiano Otoni foi um engenheiro que atuou na construção das linhas da Estrada de Ferro Central do Brasil. Em um momento de sua vida profissional, recebeu a incumbência de estudar, orçar e construir a estrada que ligasse o Rio de Janeiro a Minas Gerais passando através da Cordilheira. A princípio também incrédúlo, como ele mesmo diz “estava nas sombras da dúvida”, vítima das tergiversações do governo, chamado com ironia de “engenheiro amador”, de repente tomou-se de coragem. Aceitou o desafio e, não se intimidando, dedicou-se de corpo e alma a bem resolver o problema da passagem da Cordilheira, como se encontra em sua autobiografia:  “...cresceu-me verdadeira ambição de atravessar a Serra e acabar o túnel grande, principalmente quando se propagou a crença da sua impraticabilidade. Por isso permaneci no posto, a despeito de todas as contrariedades”.
Enfrentou intrigas, lutas, chacotas, trabalhos agitadíssimos, desgostos, ataques de jornais... mas também “prazeres do amor próprio”. Censuravam-no dizendo que a empresa, do modo como ele planejara, seria um desperdício, que  ficaria em dois milhões de esterlinas e o governo não deveria aprovar o projeto pois o que nele estava proposto não se faria nem em vinte anos. Fazendo cortes e aterros colossais, o genial engenheiro realizou uma obra de alta magnitude, com toda a solidez, em 7 anos e, também, com economia, pois custou 10 mil contos em lugar dos dois milhões de esterlinos que seriam cobrados pelo outro concorrente.
Considerado o “Pai das Estradas de Ferro do Brasil”, Cristiano Otoni é um belo exemplo para se contrapor à tibiez do mito de Sísifo. Cabe-lhe bem o dístico estampado em nosso chafariz da Praça Barão de Queluz:
Assíduo vir propositi tenax omnia vincit” (Pela perseverança o homem de propósito firme tudo vence).


OS GANSOS DO CAPITÓLIO





OS GANSOS DO CAPITÓLIO
                            Avelina Maria Noronha de Almeida
                                                           avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

            No ano de 390 a.C. Roma fora invadida pelos bárbaros, homens corpulentos, ferozes, valentes e fortes. Muitos habitantes e soldados fugiram, mas alguns romanos articularam uma resistência no Capitólio, o principal templo do Império Romano, localizado na colina do mesmo nome. Dali jogavam pedras, flechas, o que tivessem à mão contra os inimigos que tentassem escalar as escarpadas rochas, ou mesmo lutavam corpo a corpo com os que chegavam até a amurada.
            No templo havia uns gansos, considerados sagrados. Por diversas vezes, quando a fome os afligia, os romanos sentiam-se até tentados a devorá-los, mas sempre resistiram a cometer aquele sacrilégio. 
Uma noite, Mânlio, um jovem soldado, dormindo ao lado de sua espada, acordou assustado com o grasnar agudo e desesperado das aves sagradas, o qual cortava angustiado o silêncio da noite. Acercando-se da amurada, viu-se frente a frente com um gaulês que tentava escalá-la e conseguiu impedi-lo do intento. Porém foram surgindo mais inimigos. Continuando com a gritaria, os animais acordaram os outros soldados, que vieram em socorro de Mânlio e conseguiram defender o templo com sucesso.
                Foi assim que os gansos, alertando os romanos e salvando-os de serem completamente derrotados, passaram a ser símbolo da importância de estar atentos. Dizia Monteiro Lobato: “O preço da liberdade é uma vigilância barulhenta como a dos gansos do Capitólio”.
Não deixam de ser também gritos de alerta, embora “mudos” (desculpem o paradoxo), mas  igualmente assustadores, os dos peixes que aparecem mortos pela poluição dos rios e mares. Quem não se impressionou com imagens como as de seres marinhos, pelas praias, cobertos de petróleo?...
            É bom lembrar o episódio acima, contado no livro Leviatã, de Thomas Hobbes, sobre os animais, eles que desempenham um papel importante na vida humana, defendendo, conduzindo, acompanhando, distraindo,  fazendo resgates,  pastoreando, guiando cegos e, entre tanta coisa mais, alertando...
E mais: enquanto tantas pessoas destroem, queimam, poluem, degradam a natureza, diversas espécies dessas criaturas, os chamadas “animais-jardineiros” espalham sementes promovendo o reflorestamento para minimizar os efeitos maléficos produzidos provocados pela ação de seres humanos. 
Quantas lições nos dão os “irmãos animais” tão amados por São Francisco!
E, se alertam protegendo contra um mal, também sinalizam acontecimentos positivos, como aquela pomba que trouxe no bico uma folha nova de oliveira para a arca de Noé, ou  as andorinhas anunciando a luminosidade do verão, as quais, por andarem juntas, dão exemplo de união, alertando para que não nos fechemos no individualismo.  Já diziam os romanos:
Una hirundo non facit ver. (Uma andorinha só não faz verão)



terça-feira, 2 de julho de 2013

LAFAIETE CRESCEU MUITO




LAFAIETE CRESCEU MUITO
                                                                       Avelina Maria Noronha de Almeida

            Garimpando aqui e ali num filão riquíssimo que se aprofunda na imprensa antiga de Conselheiro Lafaiete, reli artigos e a coluna “Tempos Idos e Vividos” do excelente jornal “O Processo”, que era editado em princípios da década de 70. Nessa coluna colocavam notícias, recolhidas em jornais bem antigos, três gigantes da Cultura Lafaietense: Antônio Luiz Perdigão, Alberto Libânio Rodrigues e o próprio diretor do jornal, Alexandre Antônio Nepomuceno. Pensei, então, em transcrever algumas dessas notícias.
             Um artigo que muito apreciei é da lavra de outro grande intelectual, Edson Condé, que mantinha uma seção chamada “Crônica da Cidade”. No texto Edson faz uma análise muito bem feita dos esforços de um povo para o progresso de sua cidade, desde o princípio do século XX até aquele ano de 1972. O artigo começa assim, num estilo muito bonito, muito poético:
“Não é preciso que se tenha em mãos os detalhes do último censo para que se possa dizer: ‘Lafaiete cresceu e muito!’
Nos idos de ontem, quando se caminhava até a entrada da Rua Benjamim Constant, poucos passos adiante já se encontrava a vegetação brava e se caminhava num longo ermo até que se atingisse o Bairro Santa Matilde. Tinha-se a impressão de se encontrar em pleno campo sentindo-se nas narinas o odor das urzes e nos ouvidos  os cantos dos pássaros. O ruído característicos das aglomerações nos saíam dos sentidos para ceder lugar à solidão do aberto, da vastidão azul-esverdeada que se abria à nossa frente. Num raro ou noutro, zunia um automóvel pela estrada poeirenta, os pneus cantando nos pedregulhos brutos, pintando, de amarelo-barro, o capim alto à beira da estrada. Pelas encostas e recôncavos, alheiava aos passantes o gado ralo ruminando preguiçosamente ao langor da tarde ensolarada e quieta. Podiam se ouvir à distância o grito e o alarido dos moleques a se banharem no rio, a maioria deles escapos aos bancos das escolas. E sentia-se no ar – úmido ali o cheiro da terra molhada mesclado ao odor do estrume e do cheiro da vegetação que medrava livremente naqueles sítios.
Era o campo às portas da cidade, que se estendia para cima e para diante, anunciando-se no brilho negro dos trilhos da estrada de ferro.”
O texto continua discorrendo sobre a cidade analisando vários setores do desenvolvimento atingido naquele ano em que foi escrito. E ele termina assim o retrospecto:
“Não nos volvamos mais para o passado. Com a cabeça erguida, olhemos para a frente, para um futuro próximo de gigante e que só no fundo do coração nos fique a remota lembrança de uma cidadezinha que se estendia para cima e para diante, anunciando-se no brilho negro dos trilhos de ferro.”
Antes de transcrever o que recolhi em “O Processo”, apresento a cópia de um documento citado nas Ephemerides Mineiras de José Pedro Xavier da Veiga, Volume I. Trata-se de um decreto de março de 1837 (ortografia da época):
“Lei mineira nº 60. – Auctoriza o governo a estabelecer aulas de latim, francez, philosophia, rethorica, geographia e historia nas comarcas da província onde não houver collegios públicos ou particulares em que se ensinem tais matérias e a criar as mesmas aulas em circulos literarios constituidos, cada um, de duas comarcas das menos populosas, designando o governo e a séde; e contêm outras disposições desenvolvendo e melhorando o ensino publico na província.”
Queluz foi beneficiada com essa lei. Bernardo Joaquim da Silva Guimarães, em 1873, veio para nossa cidade lecionar Latim e Francês, aqui residindo alguns anos. Durante o tempo em que aqui esteve, escreveu, entre outras obras, o célebre romance “A Escrava Isaura”, editado em 1875. Adaptado para a TV, a novela e o livro tiveram enorme repercussão pelo mundo. O escritor residia num casarão da rua Barão de Suassuí, onde se localiza o Supermercado Epa, em frente à travessa Padre Américo.   
Como disse Condé, devemos com “a cabeça erguida,”  olhar “ para a frente, para um futuro próximo de gigante”, mas, “no fundo do coração nos fique a remota lembrança de uma cidadezinha” que soube ser grande em sua simplicidade porque...
“Bane legacies antiquates does non garantee posterus.” (Quem não guarda o passado não garante o futuro.)


segunda-feira, 1 de julho de 2013

ALGO MAIS SOBRE D. PEDRO I




ALGO MAIS SOBRE D. PEDRO I
                                                      Avelina Maria Noronha de Almeida
                                                   avelinaqueluz@bol.com.br

Sete de Setembro. D. Pedro I é a figura que brilha nesse data devido a seu brado “Independência ou Morte!” Mas quanta coisa na verdade se sabe sobre ele?
Quando se fala  do príncipe, depois imperador, vem ao pensamento, em relação à sua personalidade, além do heroísmo do brado, as características fortes de idealismo, desprendimento pessoal, impulsividade, volubilidade de temperamento –  que o levava a atitudes contraditórias de maiores egoísmo ou de admiráveis generosidades –, falta de senso de medida e  cupidez que o levava às inumeráveis aventuras amorosas.
Também é conhecida sua confraternização com o povo; sentia prazer em estar com as pessoas comuns. Não acreditava em diferenças raciais e defendia a abolição da escravatura.
Porém há um aspecto de nosso Libertador que é pouco conhecido: o de suas atividades não relacionadas com as lides do governo.
Por exemplo: naquela época, a sociedade desprezava os trabalhos manuais, que eram reservados aos escravos, porém D. Pedro era uma pessoa simples, que não se importava de trabalhar com suas próprias mãos. Era excelente mecânico, marceneiro e torneiro.
Em relação à Cultura, era apaixonado pela matemática. Sabia ler, escrever e falar em francês e latim e compreendia o inglês e o alemão. Embora tivesse tido excelentes professores, em muitas áreas era autodidata e estava sempre procurando aprimorar seus conhecimentos.
Quando a Família Real Portuguesa veio para o Brasil, o menino Pedro, sempre curioso, apreciava estar entre os marinheiros para aprender as manobras de barco. Mas fora esses momentos ficava lendo, encostado em um dos mastros do navio, obras clássicas como a “Eneida”, de Virgílio, um dos seus autores preferidos, no original em latim – obra pela qual tinha grande paixão – , os Sermões do Pe. Vieira, obras de Edmund Burke, de Voltaire e de Benjamin Constant, as cartas de Madame Sévigné... Imaginem isso em um menino de apenas nove anos. Espantoso! Escrevia também poesias. Até a sua morte lia ou estudava diariamente duas horas. Dava muito valor à Educação, criou cursos jurídicos e deu ao Estado a obrigação de manter escolas primárias.
E mais: tinha habilidade para pintura, litografia e escultura, talento e verdadeira fascinação pela música e compunha, contando, entre suas obras, um Te Deum, uma Missa cantada, sinfonias, hinos como uma das versões do Hino da Independência e o Hino da Carta considerado, até 1911, o hino nacional português. Agora vejam os instrumentos musicais que ele sabia tocar: piano, violino, flauta, clarinete, violão, cravo, trombone, fagote e lundu.
Em homenagem a essa figura histórica de tanto valor cultural, uma frase tirada de seu autor predileto e da obra que era sua paixão:

Audentes fortuna iuvat. A fortuna sorri aos ousados. (De Virgílio, em “Eneida)

BERÇO DE OURO




BERÇO DE OURO
                                                            Avelina Maria Noronha de Almeida

            Nossa cidade nasceu em berço de ouro.
            Nosso solo era rico – e quem sabe ainda é? – do precioso metal.
            De acordo com Saint-Adolphe, em 1681 uma bandeira paulista viu, nos contrafortes da Mantiqueira, um aldeamento estável de garimpeiros que mineravam na  Serra do Deus te Livre (Serra de Ouro Branco) e de índios carijós. Penso que esse aldeamento se localizaria nas proximidades da igreja da Passagem de Conselheiro Lafaiete, que ficava no caminho dos bandeirantes. No local havia muito ouro. Foi por causa dele que os bandeirantes aqui permaneceram, transformando-se em mineradores.
            No século XVIII, um minerador de Gagé resolveu trazer, construindo um canal,  águas do rio Piranga para lavar o ouro. A empreitada corajosa foi coroada de sucesso. O homem ficou riquíssimo. Suas filhas iam à missa com os cabelos polvilhados de ouro.
            Há um relato curioso no livro de uma neta de Jean Albert Gerspacher, um suíço que veio construir a Usina Esperança, em Gagé, no final do século XVIII. Vou transcrever um trecho de “Nossa Vida” de Maria José Gersparcher Schimitz, referindo-se ao modo como os parentes estrangeiros viam o modo de vida da gente daquela região:
            “Observando os costumes do nosso povo, ficavam curiosos por saber como podiam viver muitos homens que nunca trabalhavam. De onde lhes vinha o dinheiro para sua subsistência? Passavam o dia todo conversando à porta da venda ou sentados em frente aos seus barracos. Com grande admiração viram o que faziam. Em um rio que passava ali perto iam,batear e cada um voltava com grande porção de ouro que, aos poucos, trocavam na venda por feijão, arroz, farinha e tudo mais que desejavam. Viviam assim até que se esgotasse a sua provisão de ouro, quando voltavam a batear.”
            No princípio do século XX, moradores das margens do rio Bananeiras, iam até o fundo de sua horta e, com uma peneira, tiravam dele pepitas de ouro. O que acontecia também no ribeiro de Amaro Ribeiro.
            Hoje não sei onde anda o nosso ouro. Aparentemente acabou-se. Mas quem sabe está apenas escondido nas entranhas do nosso solo?
            O nosso ouro hoje é outro, bem mais valioso.
            Há veios de um ouro mais puro brilhando de outra maneira,  que vem se manifestando desde os tempos da Real Villa de Queluz e que tem levado suas cintilações até outras partes do mundo. Basta lembrar Conselheiro Lafayette, brilhante na política, na jurisprudência e nas letras, e Napoleão Reis, que mostrou ao mundo o valor do queluziano. Veios presentes no íntimo de todos aqueles que amam Conselheiro Lafaiete e trabalham para que nossa cidade se torne cada vez melhor.
            Os filhos de nossa terra que a souberam honrar foram batalhadores e conseguiram vencer. Souberam construir com valor a sua trajetória na vida. A eles se pode aplicar a frase latina:
                   Suae quisque fortuna faber est. (O homem é arquiteto de seu próprio destino)