OS GANSOS DO CAPITÓLIO
Avelina Maria
Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com
No ano de 390 a .C. Roma fora invadida
pelos bárbaros, homens corpulentos, ferozes, valentes e fortes. Muitos
habitantes e soldados fugiram, mas alguns romanos articularam uma resistência
no Capitólio, o principal templo do Império Romano, localizado na colina do
mesmo nome. Dali jogavam pedras, flechas, o que tivessem à mão contra os
inimigos que tentassem escalar as escarpadas rochas, ou mesmo lutavam corpo a
corpo com os que chegavam até a amurada.
No templo havia uns gansos,
considerados sagrados. Por diversas vezes, quando a fome os afligia, os romanos
sentiam-se até tentados a devorá-los, mas sempre resistiram a cometer aquele
sacrilégio.
Uma noite, Mânlio, um jovem soldado, dormindo ao lado de sua espada,
acordou assustado com o grasnar agudo e desesperado das aves sagradas, o qual
cortava angustiado o silêncio da noite. Acercando-se da amurada, viu-se frente
a frente com um gaulês que tentava escalá-la e conseguiu impedi-lo do intento.
Porém foram surgindo mais inimigos. Continuando com a gritaria, os animais
acordaram os outros soldados, que vieram em socorro de Mânlio e conseguiram
defender o templo com sucesso.
Foi
assim que os gansos, alertando os romanos e salvando-os de serem completamente
derrotados, passaram a ser símbolo da importância de estar atentos. Dizia
Monteiro Lobato: “O preço da liberdade é
uma vigilância barulhenta como a dos gansos do Capitólio”.
Não deixam de ser também gritos de alerta, embora “mudos” (desculpem o
paradoxo), mas igualmente assustadores,
os dos peixes que aparecem mortos pela poluição dos rios e mares. Quem não se
impressionou com imagens como as de seres marinhos, pelas praias, cobertos de
petróleo?...
É bom lembrar o episódio acima,
contado no livro Leviatã, de Thomas Hobbes, sobre os animais, eles que
desempenham um papel importante na vida humana, defendendo, conduzindo,
acompanhando, distraindo, fazendo
resgates, pastoreando, guiando cegos e,
entre tanta coisa mais, alertando...
E mais: enquanto tantas pessoas destroem, queimam, poluem, degradam a
natureza, diversas espécies dessas criaturas, os chamadas “animais-jardineiros”
espalham sementes promovendo o reflorestamento para minimizar os efeitos
maléficos produzidos provocados pela ação de seres humanos.
Quantas lições nos dão os “irmãos animais” tão amados por São Francisco!
E, se alertam protegendo contra um mal, também sinalizam acontecimentos
positivos, como aquela pomba que trouxe no bico uma folha nova de oliveira para
a arca de Noé, ou as andorinhas anunciando
a luminosidade do verão, as quais, por andarem juntas, dão exemplo de união,
alertando para que não nos fechemos no individualismo. Já diziam os romanos:
Una hirundo non facit ver. (Uma andorinha só não faz verão)
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