quarta-feira, 3 de julho de 2013

OS GANSOS DO CAPITÓLIO





OS GANSOS DO CAPITÓLIO
                            Avelina Maria Noronha de Almeida
                                                           avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

            No ano de 390 a.C. Roma fora invadida pelos bárbaros, homens corpulentos, ferozes, valentes e fortes. Muitos habitantes e soldados fugiram, mas alguns romanos articularam uma resistência no Capitólio, o principal templo do Império Romano, localizado na colina do mesmo nome. Dali jogavam pedras, flechas, o que tivessem à mão contra os inimigos que tentassem escalar as escarpadas rochas, ou mesmo lutavam corpo a corpo com os que chegavam até a amurada.
            No templo havia uns gansos, considerados sagrados. Por diversas vezes, quando a fome os afligia, os romanos sentiam-se até tentados a devorá-los, mas sempre resistiram a cometer aquele sacrilégio. 
Uma noite, Mânlio, um jovem soldado, dormindo ao lado de sua espada, acordou assustado com o grasnar agudo e desesperado das aves sagradas, o qual cortava angustiado o silêncio da noite. Acercando-se da amurada, viu-se frente a frente com um gaulês que tentava escalá-la e conseguiu impedi-lo do intento. Porém foram surgindo mais inimigos. Continuando com a gritaria, os animais acordaram os outros soldados, que vieram em socorro de Mânlio e conseguiram defender o templo com sucesso.
                Foi assim que os gansos, alertando os romanos e salvando-os de serem completamente derrotados, passaram a ser símbolo da importância de estar atentos. Dizia Monteiro Lobato: “O preço da liberdade é uma vigilância barulhenta como a dos gansos do Capitólio”.
Não deixam de ser também gritos de alerta, embora “mudos” (desculpem o paradoxo), mas  igualmente assustadores, os dos peixes que aparecem mortos pela poluição dos rios e mares. Quem não se impressionou com imagens como as de seres marinhos, pelas praias, cobertos de petróleo?...
            É bom lembrar o episódio acima, contado no livro Leviatã, de Thomas Hobbes, sobre os animais, eles que desempenham um papel importante na vida humana, defendendo, conduzindo, acompanhando, distraindo,  fazendo resgates,  pastoreando, guiando cegos e, entre tanta coisa mais, alertando...
E mais: enquanto tantas pessoas destroem, queimam, poluem, degradam a natureza, diversas espécies dessas criaturas, os chamadas “animais-jardineiros” espalham sementes promovendo o reflorestamento para minimizar os efeitos maléficos produzidos provocados pela ação de seres humanos. 
Quantas lições nos dão os “irmãos animais” tão amados por São Francisco!
E, se alertam protegendo contra um mal, também sinalizam acontecimentos positivos, como aquela pomba que trouxe no bico uma folha nova de oliveira para a arca de Noé, ou  as andorinhas anunciando a luminosidade do verão, as quais, por andarem juntas, dão exemplo de união, alertando para que não nos fechemos no individualismo.  Já diziam os romanos:
Una hirundo non facit ver. (Uma andorinha só não faz verão)



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