UM BELO EXEMPLO
Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com
Um dos personagens da Mitologia Grega,
Sísifo, foi condenado a rolar, por toda a Eternidade, até o cume de uma montanha, uma grande
pedra de mármore. Quando a pedra alcançava o topo, uma força irresistível a
fazia rolar montanha abaixo, obrigando-o a repetir, incessantemente, a inglória
tarefa. Sísifo é um arquétipo que se pode aplicar à grande parte da humanidade
que vive presa à inutilidade de esforços, ao trabalho sem sentido ou ideal ou
sem a persistência inteligente que leva a alcançar uma vitória por mais custosa
que seja.
Felizmente, nem todos se
entregam à rotina estéril ou à resignação sem luta. Há muita gente que consegue
superar desafios praticamente impossíveis de resolução e faz com que seus
esforços na subida se tornem vitoriosos e se consolidem no topo da montanha.
Como exemplo, cito um
brasileiro que, a custo de muita luta, conseguiu superar obstáculos e realizar
importante e benéfica empreitada: Christiano Benedicto Ottoni, por muitos
conhecido apenas como nome de nossa vizinha cidade. Vale a pena conhecer um
pouco de sua brilhante trajetória.
Como seu nome é conhecido e
grafado atualmente, Cristiano Otoni foi um engenheiro que atuou na construção
das linhas da Estrada de Ferro Central do Brasil. Em um momento de sua vida
profissional, recebeu a incumbência de estudar, orçar e construir a estrada que
ligasse o Rio de Janeiro a Minas Gerais passando através da Cordilheira. A
princípio também incrédúlo, como ele mesmo diz “estava nas sombras da dúvida”,
vítima das tergiversações do governo, chamado com ironia de “engenheiro
amador”, de repente tomou-se de coragem. Aceitou o desafio e, não se
intimidando, dedicou-se de corpo e alma a bem resolver o problema da passagem
da Cordilheira, como se encontra em sua autobiografia: “...cresceu-me verdadeira ambição de
atravessar a Serra e acabar o túnel grande, principalmente quando se propagou a
crença da sua impraticabilidade. Por isso permaneci no posto, a despeito de
todas as contrariedades”.
Enfrentou intrigas, lutas,
chacotas, trabalhos agitadíssimos, desgostos, ataques de jornais... mas também
“prazeres do amor próprio”. Censuravam-no dizendo que a empresa, do modo como
ele planejara, seria um desperdício, que
ficaria em dois milhões de esterlinas e o governo não deveria aprovar o
projeto pois o que nele estava proposto não se faria nem em vinte anos. Fazendo
cortes e aterros colossais, o genial engenheiro realizou uma obra de alta
magnitude, com toda a solidez, em 7 anos e, também, com economia, pois custou
10 mil contos em lugar dos dois milhões de esterlinos que seriam cobrados pelo
outro concorrente.
Considerado o “Pai das
Estradas de Ferro do Brasil”, Cristiano Otoni é um belo exemplo para se
contrapor à tibiez do mito de Sísifo. Cabe-lhe bem o dístico estampado em nosso
chafariz da Praça Barão de Queluz:
“Assíduo vir propositi tenax omnia
vincit” (Pela perseverança o homem de propósito firme tudo vence).
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