CIDADE GENTIL
Avelina Maria Noronha de Almeida
No filme
“Suplício de uma Saudade”, de 1955, ambientado em Hong Kong durante a
Guerra da Coréia, a médica eurasiana Han Suyin (Jennifer Jones), quando
interpelada pelo correspondente de guerra americano Mark (William Holden) sobre
como, tendo nova visão de vida, iria enfrentar a rigidez da tradição na volta à terra natal, revela com que
recurso iria vencer o desafio:
- Não há
força maior no mundo que a gentileza.
A jovem médica iria opor, aos
costumes milenares, uma atitude simples, mas que, acreditava, derrubaria as
barreiras.
Estamos
cansados de ver a prepotência, a arrogância e a brutalidade tornarem o mundo um
lugar cada vez mais difícil de se viver. Dos mais poderosos aos mais humildes,
em todos os quadrantes da Terra, há uma legião de seres humanos que lançam,
entre si, farpas, insultos, rumores perigosos de ódio, ameaças que, muitas
vezes, se transformam em agressão verdadeira. Se houvesse uma onda de gentileza, não seria, esta, doce e eficiente
arma na reversão do triste quadro?
Para isso,
não é necessário abandonar o nosso cotidiano como o fez o Profeta Gentileza, José Datrino. Após o
incêndio do “Gran Circus Norte-Americano em Niterói, no dia 17 de dezembro de
1961, às vésperas do Natal, vitimando mais de 500 pessoas, a maioria crianças,
o empresário desligou-se de todo apego ao material. Durante anos trabalhou no
local da triste ocorrência e transformou, o que eram cinzas e marcas do
incêndio, numa linda plantação de flores. Com túnica branca e longas barbas,
pintou mensagens de paz, amor e gentileza nas pilastras do viaduto do Caju e
em outros lugares do Rio de Janeiro.
Saía também por várias cidades levando sua mensagem, inclusive veio várias
vezes a Lafaiete.
Entre suas
frases destaca-se: “Gentileza gera gentileza”, que já fora dita por Erasmo
(Adágia 1.1.34): “Gratia gratiam parit.”
Imaginem
uma cidade que aderisse à campanha do profeta e seus habitantes escrevessem,
dentro das residências e na entrada das lojas, escritórios, repartições,
escolas, farmácias, restaurantes, meios de locomoção e outros locais um pedido:
SEJA GENTIL! E se a maioria dos cidadãos atendesse ao apelo, quem sabe ela receberia
o título de “CIDADE GENTIL”? Pode parecer ou ser utopia, mas seria lindo, não?
Ovídio, no
verso 1.2.183, em Ars
Amatoria , fala sobre a poderosa força da gentileza:
“Obsequium
tigresque domat Numidas que leones” (A gentileza doma os tigres e os leões da
Numídia).
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