quarta-feira, 3 de julho de 2013

CIDADE GENTIL




CIDADE GENTIL
                                                         Avelina Maria Noronha de Almeida

            No filme “Suplício de uma Saudade”, de 1955, ambientado em Hong Kong durante a Guerra da Coréia, a médica eurasiana Han Suyin (Jennifer Jones), quando interpelada pelo correspondente de guerra americano Mark (William Holden) sobre como, tendo nova visão de vida, iria enfrentar a rigidez da tradição  na volta à terra natal, revela com que recurso iria vencer o desafio:
            - Não há força maior no mundo que a gentileza.
            A jovem médica iria opor, aos costumes milenares, uma atitude simples, mas que, acreditava, derrubaria as barreiras.
            Estamos cansados de ver a prepotência, a arrogância e a brutalidade tornarem o mundo um lugar cada vez mais difícil de se viver. Dos mais poderosos aos mais humildes, em todos os quadrantes da Terra, há uma legião de seres humanos que lançam, entre si, farpas, insultos, rumores perigosos de ódio, ameaças que, muitas vezes, se transformam em agressão verdadeira. Se houvesse uma onda de  gentileza, não seria, esta, doce e eficiente arma na reversão do  triste quadro?
            Para isso, não é necessário abandonar o nosso cotidiano como o fez  o Profeta Gentileza, José Datrino. Após o incêndio do “Gran Circus Norte-Americano em Niterói, no dia 17 de dezembro de 1961, às vésperas do Natal, vitimando mais de 500 pessoas, a maioria crianças, o empresário desligou-se de todo apego ao material. Durante anos trabalhou no local da triste ocorrência e transformou, o que eram cinzas e marcas do incêndio, numa linda plantação de flores. Com túnica branca e longas barbas, pintou mensagens de paz, amor e gentileza nas pilastras do viaduto do Caju e em  outros lugares do Rio de Janeiro. Saía também por várias cidades levando sua mensagem, inclusive veio várias vezes a Lafaiete.
            Entre suas frases destaca-se: “Gentileza gera gentileza”, que já fora dita por Erasmo (Adágia 1.1.34): “Gratia gratiam parit.”
            Imaginem uma cidade que aderisse à campanha do profeta e seus habitantes escrevessem, dentro das residências e na entrada das lojas, escritórios, repartições, escolas, farmácias, restaurantes, meios de locomoção e outros locais um pedido: SEJA GENTIL! E se a maioria dos cidadãos atendesse ao apelo, quem sabe ela receberia o título de “CIDADE GENTIL”? Pode parecer ou ser utopia, mas seria lindo, não?
            Ovídio, no verso 1.2.183, em Ars Amatoria, fala sobre a poderosa força da gentileza:

            “Obsequium tigresque domat Numidas que leones” (A gentileza doma os tigres e os leões da Numídia).

Nenhum comentário:

Postar um comentário