domingo, 3 de julho de 2016

DINHEIRO, O ASSUNTO DO MOMENTO










Imagem da Internet


DINHEIRO, O ASSUNTO DO MOMENTO

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com



O dinheiro, no Brasil, tem uma história. Na época colonial, poucas moedas havia circulando e elas eram cunhadas em Portugal. A economia consistia principalmente em trocas de produtos variados como açúcar, algodão, fumo, entre outros.

As moedas que circularam desde o início da colonização até os dias de hoje foram: o Real, de 1500 até 1942; o Cruzeiro até 1967; o Cruzeiro Novo até 1970; voltou o Cruzeiro até 1986; entrou o Cruzado até 1989, quando surgiu o Cruzado Novo até 1990; novamente o Cruzeiro até 1993; chegou a vez do Cruzeiro Real, em preparação para o Plano Real, até 1994; finalmente, chegou o Real, que dura até hoje. Será que isso é coisa séria?... Parece brincadeira, não parece? Que ciranda!...

Como diz o título do artigo, o dinheiro, ou o que ele representa, é o assunto do momento. Aliás, isto já vem acontecendo há muito tempo... Infelizmente, quase sempre de forma triste. Não se fala de dinheiros pendurados nas árvores como apetitosas maçãs. Nem espalhados generosamente pelos caminhos para colhermos como crianças se divertindo. Mas está sendo assuntado de formas bem tristes e não é só de sua falta no bolso do pobre e mesmo do remediado e do sofrimento que essa falta traz.

Porém vou deixar os fatos tristes pra lá e falar de um fato muito bonito relacionado com finanças públicas. No meu tempo de Primário e de Ginásio, os livros de Português traziam textos em que a tônica eram lições de Moral ou de Cidadania. Alguns ficaram gravados por toda a vida em minha mente. Vou colocar aqui um deles. Só peço desculpas se alguma coisa sair diferente do original, porque a imaginação, “a doida da casa”, como a qualificava Santa Teresa, costuma acrescentar algumas coisas às lembranças, e a senectude pode apagar outras...

José Bonifácio de Andrada e Silva, “O Patriarca da Independência”, juntamente com seu irmão Martim Francisco, eram ministros de D. Pedro I. Um dia, após receberem os seus salários, deixaram o palácio e foram para casa. No caminho, Martim Francisco percebeu que perdera o dinheiro recebido. Arrepiaram caminho em direção ao palácio. Poderia ter caído lá. Estavam procurando na sala onde estavam antes de sair quando D. Pedro os viu e perguntou-lhes o que faziam. Informado da perda, o Imperador deu ordem ao tesoureiro que fizesse um segundo pagamento ao Martim Francisco. José Bonifácio imediatamente protestou, recusando a ajuda imperial:

– De jeito nenhum, Sr. Imperador. Vou repartir o meu ordenado com Martim Francisco.

Belo gesto, concordam os leitores?
Agora, para pensar: dinheiro não é só moeda, nota ou papeis financeiros. Outras coisas valem dinheiro, como diziam os latinos:

Honesta fama est alterum patrimonium. (Boa fama vale dinheiro)



Publicado em princípio de agosto no "Correio da Cidade".




AVE O GRANDE PINTOR SCHUMAKER!






Foto de Mauro Dutra de Faria


AVE O GRANDE PINTOR SCHUMAKER!

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com


Dia 24 de agosto é o Dia do Artista. Seria esperado, como faço sempre, que homenageasse algum dos nossos maravilhosos artistas lafaietenses, que são tantos!

Mas vou homenagear um ruivo alemão, Guilherme Schumaker... Pintor e decorador de profissão, estudou na Escola de Belas Artes de Munique e Düsseldorf, na Alemanha, e em Bolonha, na Itália. Deixou sua terra natal e veio se estabelecer no Brasil como colono. Posteriormente trouxe a família da Alemanha e fixou-se definitivamente no Brasil. Foi professor de desenho e pintura em Belo Horizonte.

A primeira obra do pintor alemão de que se tem notícia no Brasil foi sua participação na pintura dos painéis da Via-Sacra, das paredes e do teto da Matriz da cidade de São Gabriel, no Rio Grande do Sul, em 1906.

De 1911 a 1912 realizou, em Belo Horizonte, a decoração interna da Igreja de São José, em estilo neogótico, recriando as existentes em igrejas da Europa, com profusão de criativos símbolos, cobrindo paredes, colunas e tetos. É uma decoração inusitada, pois, além dos motivos religiosos, há a pintura dos símbolos do Zodíaco, pintados em dourado sobre um fundo azul, significando a passagem do tempo e a imutabilidade divina. O Centenário da entrega de suas pinturas foi festivamente comemorado na capital mineira, tendo o SENAC realizado uma bela exposição de suas obras.

Em 1917, elaborou a Via-Sacra na capela do Colégio Arnaldo. Mais tarde, pintou, no Rio de Janeiro o “Santuário da Terra Santa”, dos padres franciscanos, em Cascadura, recebendo muitos elogios por sua beleza. Em 1918, em Pará de Minas, pintou nove belas telas com cenas da tradição católica.

Como se pode ver, um artista primoroso e profícuo, o que já justificaria homenageá-lo. Porém o mais importante é ser um artista que trouxe a beleza de sua arte para a Matriz de Nossa Senhora da Conceição de Conselheiro Lafaiete, naquele tempo Queluz. E, neste ano de 2015, é o Centenário da entrega de suas belas obras, em maio de 1915, quando era vigário o redentorista Padre Américo Adolpho Taitson.

Embora três telas tenham se estragado e também se perdido no tempo a belíssima decoração do transepto, que representava Nossa Senhora Auxiliadora rodeada por seus quatorze santos auxiliares, pintura que foi erradamente atribuída, por muitos, ao Mestre Athayde, podem ser vistas e admiradas várias obras de Schumaker: Nas paredes laterais do altar-mor três dos quadros da Vida da Sagrada Família (nascimento do Menino Jesus, Menino Jesus trabalhando com São José e a morte de São José); sobre essas pinturas, quatro telas (duas de cada lado) representando os Doutores da Igreja (São Gregório Magno, São Jerônimo, Santo Ambrósio e Santo Agostinho); nas paredes laterais da nave, os quadros da Via-Sacra; nos dois altares laterais dois velários representando Cristo no Horto das Oliveiras e Nossa Senhora aos Pés da Cruz; na frente do coro, Santa Cecília de um lado e anjos cantando. Tudo é muito lindo!

Cem anos se passaram... O artista passou, mas sua obra permanece porque...
... Vita brevis, ars longa. (A vida é breve, a arte é eterna)

Publicado no "Correio da Cidade" de agosto de 2015.

ATÉ A VENTANIA!...






Imagem da Internet





ATÉ A VENTANIA!...

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

A cada dia mais mudanças ocorrem no mundo. Quem começou sua vida na primeira metade do século XX, então, fica atordoado com tantas coisas que eram estabelecidas e sofreram variações incríveis. Hoje estamos em um século de indefinições. Quantas vezes deparamos com situações que perturbam e nos perguntamos. Onde está a verdade? Mudam constantemente ideologias, políticas, costumes, tecnologias, estéticas... e muito mais! É incrível!

Até a ventania mudou! Quando eu era pequena, ficava curiosa esperando agosto, dia 24, dia de São Bartolomeu, para ver a força do vento, que eu julgava ser especial naquela data. E pelo que lembro, naquele mês ventava muito mesmo. Nunca soube porque a correlação entre o santo e o fenômeno da natureza. Neste ano, não percebi fortes correntes de ar que configurassem uma diferença em relação aos outros meses. Será mais uma mudança na natureza?

No Brasil, não há grandes manifestações no Dia da Ventania, apenas alguma coisa no Nordeste. Em Minas Gerais era costume falar antigamente: “Hoje é dia de São Bartolomeu / Quem teu roupa vai à Missa / Quem não tem faz como eu”, mas em Portugal, na data em que é festejado o apóstolo de Jesus, São Bartolomeu, há muitas manifestações folclóricas como, por ser 24 de agosto considerado o dia em que o diabo anda à solta, para se defenderem da maldade dele são usadas várias estratégias, entre elas orações e simpatias no mar.

Em Ponte da Barca, por exemplo, existe a crença de que o diabo não gosta de sítios onde há música. Assim, acordeonistas e grupos musicais, que vêm dos arredores, invadem essa vila portuguesa e há procissões, concertos, exposições, feirinhas, apresentação de comidas típicas e outros festejos. Na noite do dia 23, as concertinas não podem parar de tocar para que seja afastado o diabo. O povo dança a noite inteira acompanhando os tocadores por todos os largos da vila. Para não se cansarem, vão se revezando na dança e na música até que amanheça o dia.

Essa tradição de Portugal, onde até hoje a tradição se manifesta com grande beleza, apresenta a música como protetora.

Na realidade, em qualquer época e lugar, a música exerce um poder benéfico acalmando a mente e o coração, afinando o espírito e agregando as pessoas num clima de harmonia. Felizmente, nossa cidade tem cada vez mais demonstrado amor à Música. É o que se comprovou na apresentação do projeto Concertos na Matriz, em 30 de agosto, na segunda etapa do Encanta Lafaiete, foi mais um grande passo no engrandecimento da história musical em nossa querida cidade. Parabéns ao maestro Geraldo Vasconcelos, aos seus músicos maravilhosos e ao excelente duo de violões Araújo – Reis!

Voltando ao assunto inicial, em tudo o mundo está mudando e, mais do que nos fenômenos da natureza, no modo de viver do ser humano:
“Tempora mutantur et nos in illis.” Os tempos estão mudando e nós com eles.

Publicado no "Correio da Cidade" de princípios de setembro de 2015.


OURO! OURO! OURO!





Imagem da Internet



OURO! OURO! OURO!

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinanoronhalmeida@gmail.com


Nossa cidade nasceu sob o signo do ouro. Ouro cintilando nos veios dos leitos dos rios, de fácil extração; ouro pouco profundo nos tabuleiros da margem – os ouros de aluvião; e mesmo farto nas grupiaras, mais profundo, nas encostas do morro, nas proximidades da serra de Ouro Branco. Ali chegaram os bandeirantes que se transformaram em mineradores e, juntamente com os pacíficos Carijós, na Passagem, em terras próximas a Gagé, começaram um aldeamento.

Em busca da riqueza em outros lugares, aqui sempre passavam bandeiras. Para alimentar esse povo, começaram as plantações nos vales que se estendiam em volta do planalto onde se desenvolveu o arraial e acabou que o lugar se tornou um dos celeiros de Vila Rica, tanto era o produto da terra fértil. Dessa maneira, veio outro ouro, o ouro das trocas, e o lugar se tornou um empório comercial. As preciosas barras douradas garantiam conforto, prestígio e poderio. Até os altares eram embelezados com o metal nobre.

Mas, com o tempo, o ouro veio a pesar nas costas da gente do Campo Alegre dos Carijós, nas costas e na alma daquele povo sobrecarregado pelo Quinto do Ouro. Diziam: “O Rei está tirando o ouro da nossa boca”. E, aí, surgiu um ouro de maior quilate. Um ouro legítimo no espírito de uma raça nova e forte, formada pelo amor à liberdade dos índios, pelos braços rijos dos escravos, pelos arroubos de civilização dos brancos. Era o ouro da Cidadania, que cintilava nos movimentos reivindicatórios, principalmente no desejo forte de liberdade. Foi assim que, em 19 de setembro de 1790, há 225 anos, o pedido de gente tão forte alcançou a independência e o arraial se fez Real Villa de Queluz.

Porém não ficou apenas nisso...

Veio outro ouro, igualmente puro, extremamente valioso, que brotou na mente e no coração dos nossos conterrâneos desde séculos passados e se manifesta até hoje em atuações políticas, em obras literárias e artísticas. São tantos os nomes que iluminaram e continuam a iluminar com essa nova riqueza que brota a cada dia mais! Como exemplo, o ilustre Conselheiro Lafayette Rodrigues Pereira, um luminar na Política, no Direito e nas Letras.

Aquele primeiro ouro ainda existe, creio que em grande quantidade e valor, escondido nas profundezas de nosso chão. O ouro das trocas comerciais, mesmo em época de crise, ainda constitui um galardão em nossa economia. O ouro das mentes, dos corações e das mãos resplandecem maravilhosamente em nossa Cultura.

Mas não acaba aí a existência do ouro em nossa querida Conselheiro Lafaiete.

Neste setembro em que se comemora a nossa Data Magna com a assinatura do documento por D. Maria I nos presenteando tão regiamente, descobri mais um singular tesouro dourado em Conselheiro Lafaiete, como se a natureza escrevesse uma metáfora também homenageando a nossa cidade na tradição de sua origem.

Observem ao derredor, ao circularem na cidade, ou passando em estradas próximas daqui, neste mês tão significativo para nós, queluzianos e lafaietenses, veremos que o ouro está pendurado nos ipês amarelos e se derrama em plantas floridas baloiçando ao vento, ou rasteiras formando tapetes nas margens dos caminhos lindamente coloridos de vivo amarelo.

Por tudo isso, nossa terra é sempre ouro, de várias espécies e belezas, mas sempre OURO, OURO, OURO!

Publicado em fins de setembro de 2015.







VAMOS RECORDAR O PASSADO?







Imagem da Internet



VAMOS RECORDAR O PASSADO?
Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

Década de quarenta. Foi quando fiz o Cursos Primário e Ginasial no Colégio Nossa Senhora de Nazaré. Belos tempos! São decorridos 70 anos desde a minha formatura de Primário.

Primeiro ano: “Olhem para mim! / Eu me chamo Lili.” Oh! que encantamento as aulas da doce Mariinha Biagioni. Passados 74 anos que foi minha professora, é, ainda hoje, uma fada carinhosa em minha vida e continua linda, meiga, atuante e sempre ajudando aos que a rodeiam.

Segundo, terceiro, quarto anos, análises léxicas, problemas, anotações... Quantos conhecimentos nos transmitiram respectivamente, Diná Alves de Oliveira, Elza de Oliveira Figueiredo, Zulmirinha Tavares! Aulas de ciências dissecando galinhas, auditórios mensais, recitar, cantar, representar. Leitura alta, composição e ditado... todo dia. Fixação boa da matéria antes de passar para a outra. Cadernos de pontos ilustrados. Era um ensino responsável e metódico, mas atraente porque nos sentíamos subindo os degraus da aprendizagem com passos firmes, seguros.

Depois veio o Ginásio. Estudo levado a sério. Análises sintáticas, redações, profundos estudos gramaticais. Rosa / Rosae / Rosae / Rosam / Rosa/ Rosa... declinações, traduções, versões... Ave Maria / Gratia plena... Allons enfant de la Patrie... Je vous salue, Marie, pleine de grace... Au revoir!... Do you speak Inglish? God bless America / Land that I Love... Good bye! Que maravilha! Era o Mundo visitado em vozes...

Festas. O grande salão, os coloridos cenários. Irmã Consolata no piano tocando Le Lac de Come. Dispostas nos degraus que levavam ao palco cantando: Oh! manhã de sol... Anhangá fugiu! Anhangá, ê, ê... Um dia fui cantar A Pitangueira. No meio da canção esqueci a letra, fiquei parada uns minutos numa agonia... até sair do palco envergonhada... Mas também brilhei como São João Bosco e, no ano seguinte – imaginem! – fui aquele que tentava o santo e pulei no fogo, em um galpão que havia no meio do palco. Os jogos no recreio, o jacaré na frente da gruta... Conquistas, fracassos, alegrias, inquietações, tudo vem de roldão na mente quando chega o Dia do EX-ALUNO no Colégio Nossa Senhora de Nazaré.

Dia 04 de outubro, domingo, acontecerá a anual COMEMORAÇÃO DO DIA DO EX-ALUNO DO COLÉGIO NOSSA SENHORA DE NAZARÉ.

Se você, leitor ou leitura, sentaram-se nos bancos escolares do tradicional estabelecimento, não percam a felicidade dessas horas de encontro onde se recordarão tantos momentos felizes do passado.

À 13 horas é a abertura. São os abraços. As conversas. As lembranças... até que, às 14 horas, vem o reencontro com a suave e linda capela onde será celebrada a Santa Missa. Enfim, depois das orações compartilhadas, a alegre confraternização.

Não faltem! O Colégio espera vocês para recordarem os tempos que se foram. Recordar vem do latim: “re-cordis”, voltar a passar pelo coração. Pois, para terminar, vou voltar e passar pelo coração, na mágica do pensamento, diante do grande quadro de formatura de minha turma, com nossos retratos e uma frase latina que era como um estímulo para enfrentarmos qualquer obstáculo que encontrássemos pela vida no caminho de nossos sonhos...

...“Per áspera ad Astra.” (Por caminhos ásperos até os astros)

Publicado no "Correio da Cidade" em princípio de outubro de 2015.


SABEDORIA E PAZ






Imagem da Internet


SABEDORIA E PAZ

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com


Como acontece anualmente tivemos, há dias houve a comunicação dos nomes a quem foi concedido o Prêmio Nobel, criado para contemplar cientistas, pesquisadores, escritores e filantropos de todo o Mundo que contribuem para o Bem da Humanidade.

Aproveito para fazer uma observação: está muito difundida uma pronúncia errada da palavra Nobel, usando-a como paroxítona. Mas acontece que ela é uma palavra oxítona, assim a sílaba tônica é a última: bel, como em papel e pincel. Não custa pronunciá-la corretamente.

Esse prêmio é concedido a pessoas que tiveram destaque em diversas áreas e ostenta o nome de seu criador, um químico e inventor sueco chamado Alfred Bernhard Nobel.

A criação dessa láurea tem uma história marcante. O cientista Alfred já vinha desgostoso quando viu que sua invenção, a dinamite, e outros explosivos que havia criado estavam sendo usados militarmente. Mais ainda aumentou sua angústia quando um jornal francês noticiou, por engano, um obituário de sua morte. Na verdade, quem havia morrido era seu irmão Ludvig, vitimado por um dos experimentos com nitroglicerina na fábrica de explosivos da família. O título do noticiário era: “O mercador da morte está morto”, aludindo a ele, Alfred.

Horrorizou-se com a qualificação recebida em seu obituário antecipado, não querendo que esse fosse apenas o seu legado para a Humanidade, uma tarja marcando a lembrança de sua passagem pela vida. A partir daí, quis transformar a sua imagem planejando a criação de uma associação humanitária perpétua que premiasse benfeitores da Humanidade, para, com isso, reverter os danos provocados por sua invenção.

Nobel faleceu no dia 10 de dezembro de 1896, deixando toda a sua fortuna para a fundação do Prêmio Nobel, sendo as premiações entregues em cerimônias especiais no aniversário de sua morte.

Ele, o inventor da dinamite, tão usada nas guerras, estabeleceu entre os prêmios um que homenageasse a busca da paz. Está em seu testamento, em relação a essa categoria, que fosse esse prêmio entregue “para a pessoa que fez o melhor trabalho em prol da fraternidade entre as nações, em prol da abolição ou redução dos exércitos permanentes e em prol da realização de congressos de paz”.

A fragilidade humana é uma realidade a que todos nós estamos sujeitos. Há os que não sabem lidar com as conseqüências de suas ações, bem intencionadas ou não.
O cientista Alfred soube conduzir, com sabedoria, seu sofrimento, transformando uma situação conturbada em uma atitude de grande sabedoria.

Duas palavras que dizem o que é preciso urgentemente no mundo de hoje:
“Pace et Sapere”. ( Paz e Sabedoria)



Publicado no "Correio da Cidade" em princípio de outubro de 2015.<

VOLTAR A PASSAR PELO CORAÇÃO







Pintura de Lygia Seabra
Antologia "Garimpando no Arquivo Jair Noronha"




VOLTAR A PASSAR PELO CORAÇÃO

Avelina Maria Noronha de Almeida avelinaconselheirolafaiete@gmail.com



Novembro tem em seu calendário, logo no início, uma data muito marcante: Dia de Finados, dia de recordar os que nos antecederam na última partida. Então, vamos às lembranças...

Era uma vez uma pintora chamada Lygia Seabra. Não! Não! Está errado. O verbo não poderia estar no passado, porque uma grande pintora não deixa de ser, é imortal em suas obras.

Lygia, uma pintora talentosa, sensível, pode ser lembrada por muitas pinturas de grande beleza. Muitos a recordam também como pessoa muito culta, ilustrada e viajada pelo mundo afora. Embora a conhecesse de nome, de vê-la na rua e pelas suas obras, nunca havia estado com ela até há uns poucos anos atrás.

O primeiro contato foi pelo telefone. Tinha ficado sabendo que era minha prima. A minha bisavó Isabel, casada com José Albino de Almeida Cyrino, era irmã de sua bisavó, Maria José, casada com Homero Seabra. Estava precisando de informações a respeito de nossa genealogia e me disseram que Lygia sabia muita coisa. Realmente, passou-me várias informações preciosas. Voltamos a trocar informações mais uma vez, também pelo Graham Bell.

Se estamos em tempo de recordações, vou usar uma introdução usual nas histórias antigamente: Um belo dia (e realmente foi um belo dia!), a prima apareceu em minha casa, e foi a primeira vez em que conversamos pessoalmente. Tinha ido me levar uma meia tricotada com lã, azul celeste, muito bonita. Contou-me que, quando terminava seus afazeres domésticos (era uma dona de casa muito prendada), já à noite, ia descansar usando suas agulhas de tricô, sendo o presente que me dava uma obra sua.

Ficamos conversando sobre genealogia e, em seguida, discorreu sobre suas viagens. Nesse dia me contou que já visitara 43 países (eu soube que depois ainda fez mais viagens). Fiquei encantada com seus relatos, nos quais transparecia vasta cultura geográfica e histórica. Eu, que não passei, na vida real, do Rio de Janeiro ou de Aparecida do Norte, senti-me, tal a riqueza de detalhes e a sugestividade da narrativa, como se fosse, também, uma pessoa viajadíssima.

Ao se despedir, depois de horas fascinantes de conversa, falou que ia até ao Asilo Ana Romero para entregar cinquenta meias, iguais à que me dera, para aquecer os pés das senhoras idosas lá abrigadas.

Lembrando, neste momento, a personalidade maravilhosa desta prima, as imagens que me vêm da dona de casa prendada e laboriosa, da pintora famosa colocando sua arte numa tela, da turista entrando numa das pirâmides do Egito, da pessoa discorrendo, com muita cultura, sobre seus conhecimentos... todas essas lembranças são suplantadas por uma imagem mais forte em seu profundo significado: Lygia Seabra, à noite, sentada, tendo às mãos suas agulhas de tricô, tecendo meias para aquecer os pés das idosas do asilo Ana Romero...

Muito lindo o significado da palavra recordar, que vem do latim:
Re-cordis (Voltar a passar pelo coração).

Publicado no "Correio da Cidade" em outubro de 2015.




O VALOR DAS TRADIÇÕES










Acervo de Ronei Fabiano Alves



O VALOR DAS TRADIÇÕES

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com


“Além das aptidões e das qualidades herdadas, é a tradição que faz de nós aquilo que somos.” Quem disse isso foi o grande Albert Einstein. E o Folclore é um dos guardiões das tradições de um povo, passando, através dos caminhos do tempo, de geração a geração, uma preciosa bagagem de usos e costumes. A palavra tradição vem do latim, "traditio", do verbo "tradere", cujo significado é entregar. Assim, recebemos das mãos de nossos antepassados um tesouro. É verdade que muitas das tradições herdadas vão se tornando retrógradas e colocadas nas prateleiras do que já passou. Outras, porém, ainda são válidas para a nossa existência. E ainda existem aquelas cuja utilidade não é prática, porém encantam e enfeitam os tempos atuais quando são pitorescas, relembrando cerimônias e crenças do passado. Principalmente, servem de elo entre as pessoas e valorizam as raízes de um povo, dando-lhe uma identidade própria.

Daí a importância de se comemorar o Dia do Folclore, termo criado pelo inglês William John Toms, e que significa “sabedoria de um povo”. Esse homem era um pesquisador das tradições e lendas de seu país e, no dia 22 de agosto de 1846, a revista “The Atheneum”, de Londres, publicou um artigo sobre as intenções de Wiliam, ficando aquela data como comemorativa do Folklore. No Brasil foi oficializada em 1965 por um decreto do Governo Federal.

Como somos presos a muitas tradições! Na alimentação, nos modos de falar, na citação de frases que ouvimos dos mais velhos, nas brincadeiras, nos cantos, enfim, em muitas peculiaridades que manifestamos em nosso comportamento.

Quantos costumes e usos do passado estão presentes em nossas vidas, vindos desde Carijós até os dias de hoje! As raízes humanas desta cidade se misturaram numa rica miscigenação entre índios, negros e brancos e daí nasceu uma tradição folclórica rica e colorida, parte importante de nossa identidade cultural. Felizmente a preservação e o resgate de muita coisa está crescendo dia a dia. São cerimônias religiosas, danças como o congado e outras manifestações artísticas, com destaque para as Violas de Queluz, que é um lindo diferencial de nossa terra. Como seria bom se voltassem a ser produzidas as colchas de São Gonçalo, semelhantes as de Castelo Branco, da região da Beira Baixa, em Portugal, e que, no século XIX, eram compradas a alto preço e até usadas para presentear as princesas europeias, conforme nos narra Francisco de Paula Ferreira de Rezende em seu livro “Minhas Recordações”!

E como é bom preservar o passado! Diz o ditado latino:

“Bane legacies antiquitates does non guarantee posterus.” (Quem não guarda o passado não garante o futuro)

Publicado no "Correio da Cidade"


GENEROSOS SÃO MEUS ARES E MINHA TERRA!








Imagem da Internet


GENEROSOS SÃO MEUS ARES E MINHA TERRA!

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com




Terríveis coisas têm acontecido: terremotos, furacões, tsunamis, destruições em massa, guerras, quedas e desaparecimentos de aviões, naufrágio de balsas, explosão de minas, desabamento de viadutos, deslizamentos de terras, derrames tóxicos, milhares de animais mortos por causa de óleo nos mares, enchentes, cursos d’água que secam... e tantas outras coisas.

Mas nunca fomos atingidos tão proximamente como nestes últimos dias, quando a vilazinha de Bento Rodrigues sumiu do mapa, uma comunidade enterrada sob a lama, com pessoas, animais domésticos plantas, casas...

Não conseguimos conter a emoção ao ver na televisão o pranto das pessoas, os depoimentos tristes de quem perdeu um familiar, de quem ficou sem sua casa e tudo o que nela se continha. Como impressionam as fotos daquela lama de rejeitos deslizando como as lavas de um vulcão, daqueles peixes mortos às margens do Rio Doce, levando a insalubridade em suas turvas águas.

A única coisa que ameniza um pouco a situação é a generosidade das pessoas de todas as partes, e a nossa cidade tem participado muito na meritória tarefa de socorrer as vítimas em suas necessidades.

Porém me veio um pensamento: será que, no dia a dia, as pessoas estão sendo generosas como nesses momentos de tragédia? No cotidiano: em casa, nas ruas, nas escolas, nos serviços... Infelizmente presenciamos, às vezes, muita ausência dessa virtude essencial para a felicidade humana. Nem sempre acontece a gratuidade de ajuda. A verdadeira generosidade só pensa em fazer o próximo feliz, apaziguado, consolado, esperançoso. É necessário ter também generosidade nos pequenos e nos grandes gestos da vida.

Vejam o que aconteceu comigo outro dia e que ilustra minhas palavras. Estava em frente à minha casa, do outro lado da rua. Em minha cadeira de rodas, esperava que acabasse a fila de carros que passavam para atravessar em segurança. Já haviam passados muitos veículos, parecia que não iam acabar. Foi então que falei “Depois daquele último que vem lá, vamos passar depressa.” Mas o referido carro parou e a pessoa sinalizou que atravessássemos. Quando passamos em frente ao carro, movimentei a mão em agradecimento e minha filha, que empurrava a cadeira, falou alto: “Muito obrigada!” Nós já estávamos seguras no passeio quando o carro se movimentou e, ao passar por nós, falou também alto: “Para a minha professora, até carrego água na peneira.” Tentei virar-me para ver o dono da voz, mas não consegui fazê-lo a tempo. Mas esse ato e essa frase generosa têm vindo sempre, desde aquele dia, em minha mente e como me faz feliz! E penso: como vale a pena ter sido professora! Se, por um acaso quem fez esse ato generoso ler este artigo, receba o meu “Muito agradecida, bondoso e querido aluno! Deus o abençoe!”

De tudo o que se está vendo, uma coisa é certa: o futuro do Mundo é preocupante. Que se aproveite o tempo praticando em todos os momentos a virtude da generosidade para amenizar os problemas e os sofrimentos do próximo. E que possamos também dizer como o romano Júlio César:

Aura terraque generosa. (Generosos sãos meus ares e minha terra)

Publicado no "Correio da Cidade" em novembro de 2015