FELIZ
ANO NOVO!
Avelina
Maria Noronha de Almeida
(Publicado
na passagem de 2012 para 2013)
No livro “Nossa Vida”, da queluziana Maria José
Gerspacher Schmitz, publicado em 1976, entre vários episódios interessantes do
passado fala sobre uma passagem de ano:
“Quantas vezes, em companhia do papai,
esperava a chegada do Ano Novo, em uma das sacadas, no salão. Enquanto os
outros na sala, em volta da grande mesa, comiam nozes, amêndoas, figos, ameixas
e outras coisas gostosas, eu preferia ficar com o papai. Não havia luz elétrica
nas casas e nas ruas, e eu olhava ansiosa esperando ver surgir de dentro da
escuridão alguma coisa diferente que seria o Ano Novo. O papai contava:
– Lá se vai o Ano Velho, de barbas
brancas, velhinho e tristonho, ninguém mais se importa com ele. Vem chegando o
Ano Novo, menino bem pequeno ainda, carregando sua trouxinha, e todos esperam alegres,
cheios de esperança, com grandes festejos.
Ficava com tanta pena do Ano Velho que
tinha vontade de chorar.”
Essa visão de uma criança
na Passagem do Ano, há mais de cem anos, desperta-me reflexões. Acreditando nas
palavras do pai, a menina imaginava o velhinho tristonho indo embora e ficava
com pena dele. Como dói a saudade daquele tempo em que era tão bela a fantasia
na mente das crianças! Lindas a sensibilidade infantil em relação ao velhinho
que se ia, a reunião da família em torno da mesa tradicional! Hoje as atrações
culinárias são outras e muitos, naquela hora de mudança, estão dançando nos
“réveillons” ou comemorando nas praças.
Havia escuridão nas casas
e nas ruas, porém eles enxergavam melhor o significado daquela data do que nós
hoje, tão iluminados pela eletricidade.
Aí me perguntei: será que
ainda há crianças que, na passagem deste ano, tenham vontade de chorar de pena
do velhinho 2012? Tenho minhas dúvidas... Estarão talvez entretidas com
joguinhos eletrônicos, desenhos às vezes assustadores e outras atrações que se apresentam
hoje para a infância.
O trecho de Maria José
foi em mim que despertou a vontade de chorar de pena do velhinho, levando às
suas costas tanta coisa triste que presenciou em 2012. Se houve realizações
importantes, avanços na ciências, incríveis inovações tecnológicas, tablets,
games, celulares, fabulosas descobertas astronômicas e tanta coisa mais...
... houve muita pirataria
on-line, invasões terríveis de privacidade, tragédias ambientais, conflitos
generalizados pelo mundo, muita miséria, bastante corrupção, violência
exacerbada e perdas de pessoas ilustres.
Quanto às expectativas em
relação ao menino Ano Novo, as pessoas não mudaram. É geral o sentimento de
esperança de que sua trouxinha vá se enriquecendo, no passar dos dias, com
eventos felizes, progressos benéficos e muita harmonia.
Aos leitores, desejo que
suas esperanças se concretizem, que
sigam caminhos floridos e iluminados,
mas sejam seus passos firmes e cuidadosos, porque sempre se encontram tropeços; por isso vale a
advertência prudente dos romanos: “Cave ne cadas” (Cautela em não
caíres).
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