sábado, 18 de janeiro de 2014

RJUKAN E O SOL








Imagem da Internet



RJUKAN E O SOL

Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com



Quando ainda era estudante, eu gostava de assistir, na Rádio Clube, o início de um programa que começava às seis horas da manhã. Não tenho certeza se era “A hora do Fazendeiro”, só me lembro de que tocavam um lindo fundo misical, um galo cantava e depois vinha a mensagem do dia, sempre narrando um fato e passando um pensamento positivo. Uma dessas mensagens nunca mais esqueci.

Contava que um homem nunca havia acordado cedo. Porém um dia, acordou de madrugada e não conseguia dormir. Acabou levantando-se e se aproximou da janela. O sol estava nascendo. Ele nunca havia visto o alvorecer. Ficou tão maravilhado que pensou: se esse espetáculo só acontecesse uma vez, a rua estaria cheia de gente para ver.

Essa história me veio à mente ao ver, na mídia, um acontecimento fabuloso.

Rjukan é uma pequena cidade industrial da Noruega, situada no fundo de um vale íngreme, cercada de montanhas e, por isso, de setembro a março, fica envolvida em penumbra porque, devido ao ângulo de inclinação do sol, seus raios não incidem sobre aquele vale cujos moradores assim não desfrutam nem um pouco da luz solar. Para verem e sentirem o sol, precisam de subir vários quilômetros até o cume de uma das montanhas circundantes.

O artista local Martin Andersen, que vivera vários anos em Paris, a “cidade luz”, resolveu concretizar uma ideia antiga que outro morador, Sam Eyde, propôs em 1913 mas que não saiu do papel. Martin não desanimou diante do ceticismo dos mais velhos. Com o apoio dos jovens, colocou espelhos gigantescos formando uma elipse de luz de cerca de 600 metros quadrados, montados no alto de um cume de 400 metros, comandados por um computador e rebatendo a luz na direção da praça principal, em frente à prefeitura, trazendo luz para o escuro e frio inverno de Rjukan.

Na inauguração dos espelhos no último 30 de outubro, o prefeito disse: “Uma ideia de 100 anos que se tornou realidade”. Em seguida uma orquestra da cidade cantou conhecida música: Let the sun shine” (Deixe o brilho do sol). E disse mais o prefeito: “Rjukan é um município onde o impossível se torna possível”.

Centenas de moradores reunidos na praça para o evento receberam, eufóricos, sorridentes e felizes, os raios do sol, como se pode ver nas fotos da Internet.

O programa da Rádio Clube e este acontecimento atual devem nos levar a nos indagarmos: estamos nós, felizes habitantes de uma região quase sempre ensolarada, valorizando e sabendo aproveitar os benefícios que a natureza nos proporciona? Estamos dando atenção e nos maravilhando com as belezas que nos cercam, como o nascer do sol, que se acontecesse apenas uma vez estaríamos, como os habitantes de Rjukan, reunidos na praça para admirar e comemorar?

Marin Andersen foi ousado e valeu a pena porque, como diz o ditado:
Audaces fortuna juvat. (Ao homem ousado, a fortuna estende a mão)

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