sábado, 2 de julho de 2016

SINFONIA DE LAFAIETE







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SINFONIA DE LAFAIETE
Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com

Na novela “Eta mundo Bom!” a personagem Eponina, vivendo sempre na fazenda, por determinadas circunstâncias tem que ficar hospedada em uma casa na cidade. Como era tudo diferente em relação ao que estava acostumada, teve alguma dificuldade em se adaptar à nova realidade. Num dos comentários em que manifestou seu desagrado dizia que preferia acordar com o canto dos galos do que com as buzinas dos carros.

A novela se passa nos anos 40 do século XX, quando a diferença entre o meio rural e o meio urbano era bem acentuado, porém mesmo hoje ainda há muita diversidade. Essa passagem da novela me levou a pensar: Conselheiro Lafaiete é uma cidade interessante. Muito eclética e com variedade de aspectos em vários sentidos e que conserva sons comuns no passado, de outros tempos em que era uma pequena cidade ainda com ares do seu início construído sobre uma tradição rural.

Moro bem no centro da cidade, mas de madrugada ouço mais ou menos perto o canto cristalino de um galo. Realmente Eponina tem razão: é lindo! Logo em seguida outro galo responde longe... um pouco longe... lá dos lados da Santa Efigênia. E por um tempo prossegue o musical diálogo. Mas pouco depois ouço também o barulho nada musical dos carros que, antes de amanhecer, já passam levando pessoas para o trabalho na Gerdau ou em outras empresas em cidades vizinhas.

Já de pé, chego à janela da frente e ouço passarinhos gorjeando alegremente nas árvores que ladeiam a Casa da Cultura “Gabriella Mendonça”. Há época em que eles somem, porém logo voltam.

Por coincidência, à tarde, estando com uma visita na sala que dá para a rua, a visitante me chama a atenção para o trote de um cavalo passando na rua, estranhando isso no centro de uma cidade que já não é mais pequena. Explico que acontece sempre, nesta minha rua bem no coração da cidade. Não é interessante?

Depois, de tardinha, bateu o sino do Angelus, da mesma forma que batia no século XVIII, quando as pessoas no Largo da Matriz, em outros lugares próximos ou dentro de suas casas se ajoelhavam para rezar. Também os cavaleiros, quando naquela hora passavam por perto, desciam de seus cavalos, ajoelhavam-se no chão, persignavam-se e oravam.

E como ar “estava parado”, pouco depois, do meu quarto, ouvi o barulho da locomotiva que, passava na travessia, lançando nos ares seu apito de despedida, igualzinho acontecia no passado.

Continuei pensando nessa especialidade de nossa terra e aí veio um sonho: temos tão geniais compositores aqui, neste tempo de agora, quem sabe um deles resolve fazer uma “Sinfonia de Lafaiete”. Em 1924, George Gershwin compôs a sua maravilhosa “Rhapsody in Blue”, na qual descreve tão bem, com grande arte e sensibilidade, o espírito de Nova York, sua cidade natal. Quem sabe teremos um dia a nossa sinfonia?

E vamos procurar ouvir melhor os sons do dia a dia para extrair deles a sua beleza porque, porque, ouvindo com o coração...
... magis atque magis clarescunt sonitus. ( ...os ruídos se tornam cada vez mais nítidos)


Publicado no Correio da Cidade no início de junho de 2016

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