sábado, 2 de julho de 2016

O IMPÉRIO DO MEDO






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O IMPÉRIO DO MEDO
Avelina Maria Noronha de Almeida
avelinaconselheirolafaiete@gmail.com


No ano de 1976 eu estudava, com minhas alunas de Psicologia Educacional, as neuroses. Coincidiu que, naquela época, os jornais estavam focalizando, quase todos os dias, as reações obsessivas de Howard Robard Hughes Jr. que, naquela época, tinham atingido um clímax tal que levava a imprensa a focalizá-lo, pois era um dos homens mais ricos do mundo, inteligentíssimo, aviador, engenheiro aeronáutico autor de várias invenções na área, ator, produtor e diretor cinematográfico de grande sucesso, recorde mundial de velocidade em um avião, empresário poderosíssimo e muita coisa mais.

Essa pessoa tão fabulosa, porém, nas últimas décadas de sua vida, passou a ter um comportamento descontrolado e a sofrer de misofobia, fobia aos germes. Foi-se afastando das pessoas, e as que entrassem em contato com as mesmas coisas que ele tocava tinham de usar luvas brancas e seus criados tinham de tratar de tudo usando lenços de papel. A cada dia seu comportamento se tornava mais irracional, comunicando-se com as pessoas através de vidros e só quando estritamente necessário, com medo de micróbios nas roupas, nos alimentos, somente usando enlatados. Mas até esses foram abandonados, porque foi encontrado dentro de seu quarto em desnutrição extrema, rodeado de enlatados sem abrir. Levado de avião para o hospital, no meio do caminho teve uma parada cardíaca. Assim, faleceu um dos homens mais ricos do mundo, de fome e apenas coberto com um lençol, aquele que viveu os últimos tempos da vida sob o império do medo. Sempre que o jornal publicava alguma notícia dos últimos meses de sua vida, eu recortava e levava para a sala de aula, até a publicação da notícia final.

Nós, também, como Hughes, estamos vivendo sob o império do medo e com um agravante. No caso dele, os fantasmas eram os micróbios, e a gama de ameaças que nos atemorizam é muito, muito maior!!! Cada vez mais nos dias de hoje, principalmente nesta crise geral dos últimos tempos, somos perturbados por essa sensação de medo, que é um doloroso sofrimento psicológico e compromete tanto as relações sociais.

Por causa do medo estamos sempre desconfiados com as pessoas; são construídos muros altíssimos de proteção em frente às casas, privando o passante da contemplação de sua beleza arquitetônica. E o medo de sairmos à rua e sermos assaltados? De viajar com esse trânsito enlouquecido; de perder o emprego; de, já o tendo perdido, não arranjar outro; de não ter como pagar as dívidas; de comer alimentos contaminados; de beber água com micróbios; das reações adversas de remédio; das doenças que estão se alastrando; do crime organizado; da escalada da violência; dos efeitos da corrupção e do destino futuro do País; enfim, de tudo que pode trazer conseqüências maléficas para o nós?

Vamos ficar alertas. Não deixemos que o medo nos destrua, como fez com o pobre megamilionário. Duas atitudes podem nos ajudar: fazer a nossa parte, no que for necessário, para que surjam novos tempos de mais segurança, agindo com...
...Pace et Sapere. (Paz e Sabedoria)

Publicado no "Correio da Cidade" em janeiro de 2016

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