sábado, 19 de fevereiro de 2011

VERBA VOLANT, SCRIPTA MANENT



Artigo publicado no Correio da Cidade, de Conselheiro Lafaiete, em dezembro de 2009, na coluna ocupada antes por Allex Assis Milagre, falecido no mês anterior.

VERBA VOLANT, SCRIPTA MANENT

Avelina Maria Noronha de Almeida




Neil Armstrong falou da lua e eu ouvi!


“As palavras voam, os escritos permanecem”. É o que diz a máxima latina. O significado clássico é de que as palavras faladas se caracterizam pela fugacidade e as escritas têm o dom de se manterem por muito tempo. Assim pensou quem disse o provérbio. Assim pensaram os que, no deslizar da areia na ampulheta por anos e séculos, as foram utilizando. Mas os tempos mudaram. As circunstâncias se modificaram e os significados dos vocábulos e expressões se enfraqueceram, tornaram-se obsoletos ou sofreram transmutações. Quanto aos escritos, permanecem, e como! Foram principalmente eles que moveram e movem a civilização, permitindo o acesso, de cada geração, à sabedoria acumulada pelas gerações anteriores.

Entretanto a palavra que, após proferida, alçava seu voo para se desintegrar logo após, passou dessa vida transitória a outra mais longa no espaço e no tempo. Antes encarcerada num pequeno círculo espacial, que era medido apenas em metros, atingiu outras cidades, outras terras, até as mais longínquas, graças à inventividade humana. E não é que, no memorável dia 20 de julho de 1969, quando a Apollo 11 pousou na superfície lunar, no Mar da Tranquilidade, lá em nossa pálida lua, eu ouvi “com estes ouvidos que a terra há de comer” a voz de Neil Armstrong na célebre frase: “Um pequeno passo para o homem, um salto gigantesco para a humanidade”?

Para a permanência do som no tempo, surgiram telefone, rádio, disco, cinema falado, televisão, fitas cassetes, CD’s, DVD’s, DCC, arquivos MP3, pen-drives... tudo isso guardando a essência sonora das palavras.

Diz a Física Quântica que o bater de asas de uma borboleta no Pacífico pode causar um um tufão do outro lado do planeta, afirmando que um pequeno evento é capaz de causar consequências imprevisíveis. Foi o que aconteceu recentemente com a piada de mau gosto que Robin Willians fez, no programa “Late Show” da TV norte-americana, sobre a escolha do Rio de Janeiro para sede dos Jogos Olímpicos. Uma simples frase repercutiu internacionalmente e provocou, no Brasil, manifestações de repúdio, ficando a imagem do comediante, muito admirado por suas interpretações cinematográficas, bem embaçada. A pretensa graça nada acrescentou ao seu prestígio. Muito pelo contrário. Por isso, acautelem-se com o que falarem, pois as palavras faladas hoje voam de maneira diferente, magnífica, porém muitas vezes perigosa.

Usando o sabor do latim, bem ao gosto do saudoso Allex: Abundans cautela et callus galinaceus non nocet. (Cautela e caldo de galinha não faz mal a ninguém).



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