segunda-feira, 1 de julho de 2013

AS CAMÉLIAS DO LEBLON



AS CAMÉLIAS DO LEBLON
                                                                                 Avelina Maria Noronha de Almeida
                                                                                        avelinaqueluz@bol.com.br

Havia no Leblon, no Rio de Janeiro, em fins do século XIX, um português fabricante de malas que se chamava José de Seixas Magalhães. Esse homem empreendedor possuía também, no mesmo local, uma chácara onde cultivava flores em grande quantidade e quem o ajudava no agradável mister eram escravos fugidos que ele escondia ali, com a cumplicidade dos principais abolicionistas da capital do Império. A chácara era chamada de “Quilombo do Leblon”. E havia no jardim muitos pés de camélia branca, pelas quais era apaixonado o português, flor que se tornou símbolo do movimento abolicionista, a Flor da Liberdade.
Naquele tempo, quem desse abrigo a escravos fugitivos era penalizado pela lei com pesadas multas e sujeito ainda a severas punições. Assim, como o movimento era secreto, os que tinham compromisso com a causa escondiam os esconderijos dos escravos, chamados de quilombo e, para se identificar, usavam como senha, na lapela do paletó, uma bela e delicada camélia branca. Rui Barbosa, um dos principais abolicionistas, tinha árvores dessa flor em seu jardim.
            Seixas e seus companheiros recebiam proteção especial da princesa Isabel, que já financiara a alforria e alojamento de dezenas de escravos, contribuindo também na manutenção do Quilombo do Leblon. Por isso o português, agradecido, enviava regularmente camélias brancas ao Palácio das Laranjeiras, residência da princesa, que com elas enfeitava seu gabinete de trabalho e o altar de sua capela particular.
Quando D. Pedro II estava na Europa em tratamento de saúde, a princesa promoveu o Baile das Flores e nele usou um vestido todo aplicado com camélias brancas, e olhem que interessante este fato comprovado: em princípios de 1888 almoçaram em Petrópolis, no Palácio Imperial, 14 africanos fugidos das fazendas próximas.
Seixas foi um dos subscritores da lista que compraram uma pena de ouro para presentear Isabel e com a qual, a 13 de maio de 1888, a Redentora assinou a Lei Áurea.
Depois da sanção da lei, o Barão de Cotegipe, defensor da manutenção da escravatura, disse à nobre e admirável princesa: “Vossa Alteza libertou uma raça, mas perdeu o trono”. Mas se perdeu o trono, conquistou a imensa gratidão dos libertados e hoje ocupa um lugar grandioso em nossa História.

A princesa e os abolicionistas, entre eles, José de Seixas Magalhães, o português das camélias, com seu idealismo e grandeza de coração, com sua luta e dedicação estavam, nos dizeres da língua de Horácio, “libertati viam facere” (fazendo uma estrada para a Liberdade).

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