AS CAMÉLIAS DO LEBLON
Avelina Maria Noronha de Almeida
Havia no Leblon, no Rio de
Janeiro, em fins do século XIX, um português fabricante de malas que se chamava
José de Seixas Magalhães. Esse homem empreendedor possuía também, no mesmo local,
uma chácara onde cultivava flores em grande quantidade e quem o ajudava no
agradável mister eram escravos fugidos que ele escondia ali, com a cumplicidade
dos principais abolicionistas da capital do Império. A chácara era chamada de
“Quilombo do Leblon”. E havia no jardim muitos pés de camélia branca, pelas
quais era apaixonado o português, flor que se tornou símbolo do movimento
abolicionista, a Flor da Liberdade.
Naquele tempo, quem desse
abrigo a escravos fugitivos era penalizado pela lei com pesadas multas e
sujeito ainda a severas punições. Assim, como o movimento era secreto, os que
tinham compromisso com a causa escondiam os esconderijos dos escravos, chamados
de quilombo e, para se identificar, usavam como senha, na lapela do paletó, uma
bela e delicada camélia branca. Rui Barbosa, um dos principais abolicionistas,
tinha árvores dessa flor em seu jardim.
Seixas e seus
companheiros recebiam proteção especial da princesa Isabel, que já financiara a
alforria e alojamento de dezenas de escravos, contribuindo também na manutenção
do Quilombo do Leblon. Por isso o português, agradecido, enviava regularmente
camélias brancas ao Palácio das Laranjeiras, residência da princesa, que com
elas enfeitava seu gabinete de trabalho e o altar de sua capela particular.
Quando D. Pedro II estava na
Europa em tratamento de saúde, a princesa promoveu o Baile das Flores e nele
usou um vestido todo aplicado com camélias brancas, e olhem que interessante
este fato comprovado: em princípios de 1888 almoçaram em Petrópolis, no Palácio
Imperial, 14 africanos fugidos das fazendas próximas.
Seixas foi um dos
subscritores da lista que compraram uma pena de ouro para presentear Isabel e
com a qual, a 13 de maio de 1888, a Redentora assinou a Lei Áurea.
Depois da sanção da lei, o
Barão de Cotegipe, defensor da manutenção da escravatura, disse à nobre e
admirável princesa: “Vossa Alteza libertou uma raça, mas perdeu o trono”. Mas
se perdeu o trono, conquistou a imensa gratidão dos libertados e hoje ocupa um
lugar grandioso em nossa História.
A princesa e os
abolicionistas, entre eles, José de Seixas Magalhães, o português das camélias,
com seu idealismo e grandeza de coração, com sua luta e dedicação estavam, nos
dizeres da língua de Horácio, “libertati viam facere” (fazendo uma estrada para
a Liberdade).
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